Da edição online, datada de 13 de junho de 2018, do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (http://revcom.us/a/547/the-US-has-no-right-to-threaten-Korea-en.html em inglês ou http://revcom.us/a/547/estados-unidos-no-tienen-derecho-de-amenazar-a-corea-es.html em castelhano).
Uma situação volátil e que continua altamente perigosa
Nem os EUA têm direito a ameaçar a Coreia (e o mundo) – nem as “negociações de Trump” nem as críticas “duras” (belicistas) dos Democratas são uma saída desta loucura
A situação extremamente perigosa em que os EUA têm vindo a ameaçar de aniquilação a Coreia do Norte (República Popular Democrática da Coreia), a menos que desmantele as suas armas nucleares e se submeta a inspeções intrusivas em todo o país, acalmou-se temporariamente após as negociações entre Trump e Kim. Ao mesmo tempo, sabe-se muito pouco sobre o que realmente foi e não foi dito e/ou acordado. Mesmo os objetivos do próprio regime de Trump e Pence (bem como as suas contradições internas) permanecem opacos e na sombra. Isto, e porque as agudas contradições internacionais subjacentes não foram resolvidas e as expectativas foram acentuadas, a dinâmica da situação mantém-se altamente volátil e continua a ser... extremamente perigosa. O perigo de guerra não foi fundamentalmente diminuído.
Em primeiro lugar, há dinâmicas intrínsecas ao caráter fascista do regime de Trump e Pence, com a sua extremamente agressiva política externa em geral e a sua necessidade de se manter constantemente na ofensiva e de não ser percebida como estando a ceder, ou a perder, face aos países sobre os quais afirma o seu “direito” a dominar. Caso Trump e aqueles que ao rodeiam (ou uma fação daqueles que o rodeiam) decidam que, no fim de contas, as negociações não colocaram os EUA na posição que eles querem – se decidirem que as concessões deles à Coreia do Norte estão a ser percebidas como uma fraqueza pelos seus rivais e pelas nações que oprimem – eles são capazes de mudar a sua postura ao piscar de uma publicação no Twitter.
Há também dinâmicas intrínsecas à forma da rivalidade e das contradições entre as grandes potências, que também estão num estado altamente instável, imprevisível e perigoso – como se pode ver, de uma maneira muito notável, nos ataques de Trump aos seus aliados imperialistas europeus, canadianos e japoneses no fim de semana passado e no seu uso de tarifas agressivas, mas também nas menos divulgadas, mas ainda assim mais perigosas, ameaças e manobras norte-americanas contra a China. Há um método no que ele está a fazer, mas é um método cheio de riscos. Nada disto está sob o controlo de ninguém neste momento.
Além disso, para os pânditas e os “sábios” homens e mulheres da comunicação social nos dizerem agora não só para respirarmos de alívio, mas também para desejarmos que Trump, depois de ele ter vindo a ameaçar violentamente o povo coreano (e também os povos do mundo) ao longo de mais de um ano, é precisamente análogo a estarmos a agradecer a um psicopata que nos colocou uma faca na garganta, ao mesmo tempo que nos provoca, por ter retirado temporariamente a faca ligeiramente para trás. Este regime continua a ser um regime fascista que ameaça toda a humanidade.
Em segundo lugar, o Partido Democrata e os porta-vozes e aliados dele na comunicação social, nomeadamente, mas não só, na MSNBC, estão de facto a tornar a situação muito pior do ponto de vista dos povos do mundo. Eles estão a queixar-se em voz alta de como os EUA estão supostamente a ser manchados pela sua associação a um regime tão horrível como a Coreia do Norte e que Trump está a ser enganado. Primeiro, a Coreia do Norte é, de facto, um estado retrógrado e repressivo que não tem nada em comum com o socialismo ou o comunismo. Mas, se se multiplicar por 100 todas as acusações contra ele, ainda assim não se chega perto do horror que os EUA rotineiramente infligem ao mundo ano após ano, dia após dia.
Onde estão os comentadores e os políticos que recordam aos norte-americanos que os EUA mataram três milhões de coreanos após terem invadido a Coreia durante uma guerra civil que aí teve lugar no início dos anos 1950? Onde estão os comentadores que estão autorizados a mencionar qualquer um dos crimes que os EUA estão a cometer hoje – por exemplo no Iémen, onde as tropas norte-americanos e o apoio a uma guerra saudita causaram o assassinato de cerca de 15 mil civis, muitos deles crianças, colocando mais de 20 milhões de iemenitas em risco de fome e epidemias, e como nada do que a Coreia do Norte está a fazer chega sequer perto disso, e portanto por que razão os regimes que não se ajoelham perante as ordens norte-americanas podem querer ter um meio de dissuasão –, sobretudo, repetimos, em relação a uma nação em que três milhões de pessoas foram mortas pelos EUA e em que isso continua a ser uma memória viva?
Esses senadores e comentadores estão a tentar moldar a maneira de pensar das pessoas cujas inclinações para um mundo justo poderiam levá-las, se fossem expostas à verdade, em direção a uma posição muito melhor. Cada palavra que eles arrotam normaliza este regime e prepara as pessoas para conciliarem e colaborarem com grandes horrores. Eles estão a treinar as pessoas para uma visão do mundo totalmente virada de cabeça para baixo e estão a prepará-las para apoiarem uma guerra, caso Trump mude repentinamente de posição. Também aqui a propaganda e o condicionamento EUA! EUA! – desta vez por parte de pessoas como Schumer, Pelosi, Rachel Maddow e os demais – tornam minúsculo tudo o que a Coreia do Norte tem feito. As pessoas estão a ser tomadas por idiotas e é preciso dizer-lhes isso.
Em terceiro lugar, nesta situação é muito importante divulgar a verdade às pessoas. Não é verdadeira nenhuma das duas posições que estão a ser permitidas na comunicação social – quer a de que estamos no caminho para a “paz”, quer a de que a Coreia está a aproveitar-se dos EUA e precisa de ser atacada. Ambas as posições representam mentiras e resultam de um enquadramento que serve o imperialismo norte-americano.
Se estavam preocupados com o perigo de uma guerra na semana passada emanando de Trump/Pence/Bolton – do regime de Trump e Pence no seu conjunto – este não é o momento para respirar de alívio, mas sim para aumentar a vigilância e denunciar a ameaça gangsterista por trás das palavras melosas recém-emitidas por Trump e das ameaças belicosas abertas dos democratas e dos republifascistas McCain e Graham. Este é o momento para encontrarmos os caminhos e os meios para agirmos e para alertarmos as pessoas para o permanente perigo para a humanidade que este regime coloca.
Precisamos de um mundo diferente, em que a humanidade não seja refém das “grandes potências” (ou seja, dos assassinos e saqueadores imperialistas) que se ameaçam umas às outras e às nações que elas dominam de usarem armas de aniquilação em massa na sua insana compulsão para se expandirem ou morrerem. A única maneira de se chegar a esse mundo melhor é através da revolução – através do derrube deste sistema e da criação de uma economia, uma estrutura política e um conjunto de valores totalmente diferentes, e de espalhar essa revolução a todo o mundo.