Publicado no jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (em inglês a 9 de outubro de 2023 em revcom.us/en/behind-israel-gaza-clash-indiscriminate-violence-and-terrorism-perpetrated-israel-and-its-backer-us e em castelhano a 11 de outubro de 2023 em revcom.us/es/detras-del-choque-entre-israel-y-gazaindiscriminada-violencia-y-terrorismo-perpetrados-por-israel-y).

Por trás do confronto entre Israel e Gaza:

“Violência e terrorismo indiscriminados” — PERPETRADOS POR ISRAEL E PELO SEU AMO, O CAPITALISMO-IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO

Mulher palestina na periferia do Campo de Refugiados de Khan Younis, novembro de 2020
Mulher palestina perto da casa dela na periferia do Campo de Refugiados de Khan Younis no sul da Faixa de Gaza, novembro de 2020. Foto: AP.

Na manhã de 7 de outubro, as forças armadas da organização Hamas, os fundamentalistas islâmicos que governam a região palestina de Gaza, lançaram um ataque surpresa e ramificado, por terra e por ar, incluindo mísseis e asas-delta contra Israel.1 Há relatos de entre dois e três mil mísseis terem sido lançados de Gaza para Israel, alguns deles escapando aos sistemas israelitas antimísseis chamado “abóbada de ferro”. O Hamas disse que tinha capturado soldados israelitas e os noticiários mostraram veículos militares israelitas destruídos ou capturados. E, à hora a que publicamos este texto, há relatos de que, após mais de 24 horas, os combates continuam no interior de Israel perto da fronteira com Gaza, e de que as forças do Hamas mantém israelitas, militares e não-militares, como reféns.

A forma como esta ação está a ser divulgada na comunicação social da classe dominante do capitalismo-imperialismo nos EUA começa a meio da história. Branqueia a história da violenta limpeza étnica terrorista levada a cabo pelos colonos sionistas que deu origem ao estado de Israel. Branqueia 75 anos de uma permanente e crescente discriminação ao estilo do apartheid,2 desumanização, terror e genocídio contra o povo palestino em Gaza, e em todo o território do que é agora Israel e dos territórios palestinos que Israel ocupa ilegalmente. Vivendo sob um brutal bloqueio israelita, 45% da população de Gaza está desempregada e 80% depende da ajuda alimentar internacional para não morrer à fome, segundo os dados palestinos e da ONU.

Israel tem o sistema de defesa antimíssil mais poderoso do mundo, e umas forças armadas com máquinas de morte de última geração, incluindo um considerável arsenal nuclear, capacitado ou fornecido pelos EUA. As pessoas em Gaza estão basicamente indefesas contra ataques aéreos e com mísseis.

Imediatamente após o início do ataque, Israel destruiu um grande edifício de escritórios e apartamentos em Gaza. À hora a que publicamos este texto, os responsáveis israelitas estão a dizer que várias centenas de pessoas foram mortas (não é claro quantas seriam militares e quantas seriam civis). Os responsáveis palestinos estão a relatar a morte de centenas de palestinos. E ao mesmo tempo que a cobertura noticiosa nos EUA se concentra apenas no sofrimento em Israel, toda a Gaza está sitiada, preparando-se para o pior, e as pessoas aí estão a viver em perigo iminente de ataques muito mais mortais.

Cedric Leighton, um ex-comandante militar norte-americano, disse à CNN que, embora os objetivos militares e políticos de Israel no bombardeamento de Gaza não sejam claras, possivelmente nem sequer para os governantes de Israel neste momento, a resposta imediata de bombardear Gaza é “francamente de punição”. Por outras palavras, um indiscriminado assassinato em massa de civis como punição coletiva. Tudo indica que Israel se está a preparar para muito pior nas próximas horas e dias.3

O atual conflito é complexo, não sendo possível analisá-lo na sua totalidade aqui e agora. Mas também há verdades e falsidades básicas. A opressão e os ataques de Israel contra o povo palestino são crimes atrozes contra a humanidade. E isso é uma verdade, independentemente de “quem disparou primeiro” neste confronto específico, ou da natureza das forças que atacaram Israel. As pessoas em todo o mudo têm de exigir que não haja massacres israelitas em Gaza. E, têm de ser desafiadas a enfrentarem e a se oporem à natureza fundamental do sionismo, uma ideologia racista ao serviço do capitalismo-imperialismo norte-americano.4

“Violência e terrorismo indiscriminados” — PERPETRADOS POR ISRAEL E PELO SEU AMO, O CAPITALISMO-IMPERIALISMO NORTE-AMERICANO

Em resposta ao ataque vindo de Gaza, o Secretário da “Defesa” dos Estados Unidos, Lloyd Austin, denunciou as forças palestinas por atacarem civis com “violência e terrorismo indiscriminados”. “Violência e terrorismo indiscriminados”, estas quatro palavras apenas arranham a superfície da história e das atuais ações do Estado de Israel contra o povo palestino.

O Estado de Israel foi literalmente construído e existe com base na violência e no terrorismo indiscriminados contra o povo palestino. Isto inclui os seguintes pontos nodais:

  • Em 1948, durante a Nakba (catástrofe em árabe), quase um milhão de palestinos foram expulsos das suas terras, aldeias e casas através do uso de terror, violações e assassinatos em massa.5 Para garantirem que não haveria nada a que os palestinos pudessem voltar, as aldeias deles e até mesmo muitas oliveiras e laranjeiras foram completamente destruídas. Esta bárbara matança, e a continuação do terror e assassinatos contra os palestinos, foram justificados pela ideologia racista do sionismo que desumaniza o povo palestino.
  • De 27 de dezembro de 2008 a 19 de janeiro de 2009, Israel, apoiado pelos EUA, atacou o povo palestino em Gaza com bombardeiros F-16 e helicópteros Apache fornecidos pelos EUA, ataques massivos e indiscriminados com mísseis e tanques e uma invasão de milhares de soldados. O número de palestinos mortos durante o assalto de 24 dias é estimado entre 1166 e 1417, incluindo 844 não-combatentes, 281 deles crianças. Os responsáveis israelitas expressam a sua indignação pelo facto de, no atual confronto, as forças do Hamas terem matado civis não-combatentes. E Israel afirma que, na sua violenta opressão da população de Gaza, evitam baixas civis. Isso é uma mentira obscena. Emblemático da depravação do ataque de Israel a Gaza em 2008-2009, 42 palestinos foram mortos e outros 55 ficaram feridos num único ataque israelita a uma escola das Nações Unidas que abrigava palestinos que tinham sido obrigados a fugir das casas deles. Segundo os médicos, todas as vítimas eram civis, não ligados às forças militares do Hamas, e muitas delas eram crianças.6
  • Em julho e agosto de 2014, Israel efetuou ataques massivos a Gaza durante 50 dias seguidos. Nessa matança prolongada, Israel matou 2251 palestinos — 1462 dos quais eram civis, incluindo 551 crianças. O total de mortes do lado israelita foi de 67 soldados (que estavam a invadir Gaza) e seis civis. Mais de 100 mil palestinos em Gaza ficaram sem uma casa onde pudessem regressar.7 Um ano mais tarde, não tinha sido reconstruída uma única casa. Desde então, Israel (apoiado pelos EUA) tem imposto bloqueios que impedem a ajuda humanitária para a reconstrução, na sequência desse massacre.

Estes crimes são apenas pequenos pontos num infinito reino de terror por parte do exército oficial israelita contra a população, esmagadoramente civil, de Gaza. E esta “violência e terrorismo indiscriminados”, é agravada em sincronia com o terror cada vez mais genocida dos “colonos” raivosamente sionistas fortemente armados, ao estilo do KKK, contra os palestinos da região palestina da Cisjordânia, ilegalmente ocupada por Israel.

Uma situação explosiva, e os interesses da humanidade

Territ+orios controlados por Israel
Fonte: Wikimedia Commons

Na manhã da eclosão dos combates, Biden anunciou: “Os Estados Unidos condenam inequivocamente este atroz ataque a Israel por parte dos terroristas do Hamas a partir de Gaza, e eu deixei claro ao primeiro-ministro [israelita] Netanyahu que estamos dispostos a oferecer todos os meios adequados de apoio ao Governo e ao povo de Israel. O terrorismo nunca é justificado. Israel tem direito a se defender a si e ao seu povo. Os Estados Unidos advertem contra qualquer outro interveniente hostil a Israel que se tente aproveitar desta situação. O apoio da minha administração à segurança de Israel é sólido como uma rocha e inabalável.”

Note-se aqui três pontos.

Primeiro: o apoio militar e outros tipos de apoio dos EUA a Israel é “sólido como uma rocha”. Ou seja, Israel é um executor essencial e inestimável (gendarme regional e global) dos interesses do império norte-americano. E, com a perseguição que faz ao povo palestino, Israel é um amargo exemplo de um modelo do que os governantes dos Estados Unidos chamam o “mundo livre”. De Gaza ao Bangladexe, da Guatemala à República Democrática do Congo, esse “mundo livre” é um mundo de favelas e fábricas de exploração intensa, devastação ambiental e guerras, e de todos os tipos de opressão.

Segundo: uma vez mais, a infinita hipocrisia dos mais terríveis perpetradores e facilitadores do terror no mundo (ver a série Crime Norte-Americano [inglês/castelhano] no revcom.us e “UMA NOTA FINAL: Sobre a verdadeira natureza e os monstruosos crimes deste país”, no final de OS PROCESSOS CONTRA O FASCISTA DONALD TRUMP, E A CRIMINOSA NATUREZA DE TODO ESTE SISTEMA… [inglês/castelhano], por Bob Avakian).

E terceiro, observe-se a ameaça a “qualquer outro interveniente hostil a Israel que se tente aproveitar desta situação”. Esta ameaça surge no contexto de confrontos ferozes, crescentes e extremamente perigosos entre o capitalismo-imperialismo norte-americano e a Rússia e a China, seus rivais capitalistas-imperialistas globais. Para mais informações sobre os antecedentes, incluindo como sobre este conflito está a ocorrer no contexto do feroz enfrentamento entre os setores imperialistas e fascistas tradicionais da classe dominante norte-americana, e da sua interpenetração com eles, e o que isso tem a ver com a necessidade e a base para a revolução, ver OS PROCESSOS CONTRA O FASCISTA DONALD TRUMP, E A NATUREZA CRIMINOSA DE TODO ESTE SISTEMA… [inglês/castelhano], por Bob Avakian.

A Rússia e a China estão a “tentar aproveitar” os conflitos no Médio Oriente, manobrando para estenderem a sua influência e para disputarem a dominação norte-americana através de iniciativas e alianças económicas, diplomáticas e militares. Se o atual conflito se expandir, isso poderá atrair um maior envolvimento direto dos EUA, da Rússia e da China e escalar de formas perigosas para uma guerra regional, ou mesmo ser a faísca que poderia conduzir a uma guerra mundial, com a ameaça existencial que isso colocaria à sobrevivência da sociedade humana.

O ataque de 7 de outubro a Israel envolveu forças que não representam uma saída e que, na realidade, reforçam a opressão. Mas, como já sublinhámos, há aqui verdades e falsidades básicas: a opressão do povo palestino por parte de Israel é um crime atroz contra a humanidade. E as pessoas não se devem manter à margem quando Israel ameaça e prepara um novo massacre contra o povo de Gaza.

Bob Avakian sobre a crise existencial que Israel enfrenta (vídeo em inglês).

Mas, para além disso, imagine-se. Imagine-se o impacto de uma verdadeira revolução nas “entranhas da besta”, o perpetrador e propiciador da mais massiva e reacionária violência e terror do mundo, os Estados Unidos. Imagine-se o impacto que ela teria sobre os povos do Médio Oriente, e do mundo inteiro, não apenas o de acabar com os crimes deste sistema, mas também de estabelecer termos inteiramente novos, e todo um novo padrão para aquilo a que a humanidade pode aspirar.

Isto não é apenas um sonho. Este momento histórico, com todos os seus horrores, é também um momento em que a revolução neste monstro [os EUA] é mais possível. Os revcoms têm a liderança, a estratégia e a visão para fazer com que isso aconteça. Todas as pessoas indignadas com o estado do planeta, incluindo a forma como isso está a gerar tanta miséria e morte ao povo palestino, têm a responsabilidade de se juntar a esta revolução. Agora.


NOTAS:

1  Para compreenderes o surgimento do fundamentalismo islâmico, e a natureza do conflito entre o fundamentalismo islâmico e o imperialismo ocidental, vê a obra de Bob Avakian “Desenvolver um outro caminho” (inglês/castelhano).

2  O sistema de apartheid que esteve em vigor na África do Sul de 1948 ao início da década de 1990 classificava como cidadãos de pleno direito apenas os brancos. Proibia o sexo ou o casamento entre brancos e negros. Confinava os africanos negros a regiões que eram essencialmente massivos campos de concentração, e exigia-lhes que tivessem um “salvo-conduto” para entrarem nas zonas brancas (a maior parte do país). Os africanos negros estavam privados dos direitos mais básicos, incluindo o direito de voto. Organizações de direitos humanos como a Amnistia Internacional, a Human Rights Watch e a B'Tselem têm apresentado argumentos cuidadosamente documentados e condenatórios mostrando que o tratamento do povo palestino por parte de Israel “é um sistema de apartheid”.

3  Desde 2007, Gaza tem sido governada pelo Hamas, um movimento fundamentalista islâmico reacionário. O Hamas chamou à sua atual ação o início de um “Tufão de Al Aqsa”, o que a enquadra nos confrontos na Mesquita Al Aqsa em Jerusalém entre muçulmanos e fundamentalistas fascistas judaicos reacionários que aí fizeram repetidas provocações, com o apoio dos militares israelitas. Enquadrar a opressão do povo palestino pelo sionismo como uma guerra santa entre a teocracia fundamentalista muçulmana e o sionismo fascista judeu serve os interesses de ambos os lados num confronto definido por esses termos. Os verdadeiros interesses da maioria da população do que hoje é Israel e os territórios ocupados por Israel são representados por um estado laico que tome medidas para superar o legado do sionismo e de todas as formas de exploração e opressão. Bob Avakian lança um poderoso e inspirador desafio em relação a isso no excerto de uma sessão de Perguntas e Respostas, Bob Avakian sobre a crise existencial que Israel enfrenta (vídeo em inglês).

4  Para se compreender a natureza reacionária do sionismo, incluindo por que razão o horrível crime do genocídio nazi contra o povo judeu na Europa não justifica o estado sionista de Israel, ver o número especial do jornal Revolution/Revolución sobre Israel (inglês/castelhano).

5  O papel da violação de mulheres pelas forças sionistas na feroz limpeza étnica da Palestina é documentado no livro de Ilan Pappé, The Ethnic Cleansing of Palestine [A limpeza étnica da Palestina], que se baseia em relatórios da ONU e da Cruz Vermelha, e os cita, juntamente com fontes militares israelitas em primeira mão, e em relatos palestinos. Para mais informações sobre a Nakba, ver a secção “A Nakba: A limpeza étnica da Palestina” no número especial do jornal Revolution/Revolución sobre Israel (inglês/castelhano).

6  Vê mais informações e documentação destes crimes provenientes de uma vasta gama de fontes fiáveis, em Crime Norte-Americano, “Caso n.º 30: O massacre israelita armado e apoiado pelos EUA em Gaza (2008-2009)” (inglês/castelhano).

7  Estatísticas de um Relatório de 24 de junho de 2015 do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas e do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação das Questões Humanitárias.

Principais Tópicos