Os Documentos do MRI, incluindo este, estão disponíveis em PDF:
Resolução do Movimento Revolucionário Internacionalista (MRI) que serviu de enquadramento e guia da avaliação comum do MRI sobre a situação internacional e que reflecte as importantes mudanças que ocorreram na situação internacional desde a época em que a Declaração fundadora do MRI foi adoptada (1984), com especial relevo para o colapso do social-imperialismo soviético e do bloco de leste que aquele dirigia. Para o contexto, ver a Nota sobre a edição portuguesa dos Documentos do MRI. As versões originais deste documento estão disponíveis em:
- bannedthought.net/International/RIM/AWTW/1995-20/world_situation_20_eng.htm (em inglês) e
- acgcr.org/mci_archivos/archivos/mrissm.htm (em castelhano).
Sobre a Situação Mundial
Em 1984, a Declaração do Movimento Revolucionário Internacionalista assinalava que “O mundo do pós-guerra está a rebentar pelas costuras a grande velocidade. As relações políticas e económicas internacionais — a ‘divisão do mundo’ — estabelecidas devido à II Guerra Mundial e na sequência desta, já não correspondem às necessidades das diversas potências imperialistas de reforçar e expandir ‘pacificamente’ os seus impérios do lucro. Embora o mundo do pós-guerra tenha sofrido importantes transformações como consequência dos conflitos entre os imperialistas e, principalmente, da luta revolucionária, é toda essa rede de relações económicas, políticas e militares que está hoje em dia a ser posta em causa. É a relativa estabilidade das principais potências imperialistas (…) que se começa a desfazer. As lutas revolucionárias das nações e povos oprimidos estão outra vez em ascensão e a desferir novos golpes à ordem imperialista mundial. (...) [A] agudização das contradições está a atrair ao vórtice da história mundial todos os países e regiões do mundo e sectores das massas previamente adormecidos ou indiferentes à vida política, e fá-lo-á ainda mais dramaticamente no futuro. E assim os comunistas revolucionários devem preparar-se e preparar os trabalhadores com consciência de classe e os sectores revolucionários do povo e intensificar a sua luta revolucionária.”
A análise da Declaração sobre o carácter temporário da actual ordem mundial e o seu apelo a preparativos urgentes para rápidas mudanças e progressos nos acontecimentos foram confirmados pelos acontecimentos mundiais, ainda que o curso exacto dos acontecimentos — o colapso do campo social-imperialista soviético e a atenuação da aguda disputa entre os blocos imperialistas dirigidos pelos Estados Unidos e pela União Soviética — não tenha podido ser antecipado.
No contexto do aprofundamento da crise do sistema imperialista, as principais características da actual situação mundial incluem: o crescimento das lutas nas nações oprimidas do mundo, em particular os gloriosos êxitos da Guerra Popular no Peru; a erupção de revoltas inclusive nas entranhas das repugnantes bestas imperialistas; a reemergência do imperialismo norte-americano como o gendarme supremo e único da ordem imperialista, da intervenção e agressão imperialistas contra as nações oprimidas e da intensificação da exploração e dos ataques contra as massas nas nações oprimidas e nos próprios países capitalistas; e o realinhamento que está a ocorrer entre as potências imperialistas.
Ilusões Imperialistas de “Uma Nova Ordem Mundial”
No seguimento do colapso do campo imperialista soviético, o qual de facto foi apenas uma manifestação importante da aguda crise que assola todo o sistema imperialista do qual a União Soviética era um importante pilar, os imperialistas norte-americanos proclamaram arrogantemente a imposição de uma “Nova Ordem Mundial”. Para os seus próprios apoiantes no seu país e para os mais ingénuos, esta nova ordem foi tenuemente disfarçada com palavras de “respeito pela lei internacional”, “nova era de paz”, “democracia”, “luta contra a tirania e a opressão” e mesmo “direitos humanos”. Potências imperialistas que ainda ontem se atiravam ao pescoço umas das outras montaram um espectáculo de abraços. A ONU e outros organismos mundiais imperialistas similares foram apresentados como os guardiães da “nova era de paz mundial”. Os imperialistas tinham vãs esperanças de ocultar a verdadeira natureza do colapso do bloco social-imperialista soviético e de o utilizar para desarmar as massas oprimidas da ideologia revolucionária do comunismo. Os seus ideólogos, juntamente com reaccionários e revisionistas de todos os matizes, desencadearam uma ofensiva contra-revolucionária, proclamando o fim da visão comunista de um mundo sem exploração e inclusive proclamando o “fim da História”. O imperialismo, a reacção e o revisionismo esforçaram-se por fazer esvoaçar a esfarrapada e desfalecida bandeira da “democracia”, esse regime do capital, desumano e banhado em sangue, apresentando-o como única alternativa. Era de facto uma conspiração sinistra, mas as suas consequências sórdidas e sangrentas são por demais evidentes.
O acto inicial desta “nova” ordem mundial foi a agressão brutal do Iraque pelos EUA, com a ajuda de outras potências imperialistas e com uma moderna legião estrangeira composta por soldados dos países que eles dominam. A sua intenção foi demarcar impérios e aterrorizar os oprimidos, para os submeter. Mas apenas serviu para arrancar as suas máscaras de “paz” e para salientar uma vez mais que os regimes compradores das nações oprimidas nunca poderão desferir golpes firmes e resolutos aos seus amos imperialistas. Os imperialistas montaram o espectáculo do desarmamento, mas a paz nunca poderia vir dos salões de banquete destas sanguessugas. Após todos os seus pactos e tratados, eles, sobretudo os EUA e os actuais imperialistas russos, continuam a manter mortíferos arsenais capazes de destruir o mundo várias vezes. Os imperialistas falaram de uma “nova era de desenvolvimento e cooperação”, mas o único efeito tem sido o aumento da intensa exploração das massas nas nações oprimidas e nos próprios países capitalistas — o acentuar da miséria dos verdadeiros produtores. Nos países do antigo bloco soviético, incluindo a Rússia, o domínio aberto do capital está a estilhaçar cada vez mais as ilusões de prosperidade e crescimento sem crise. E os sonhos dos imperialistas ocidentais de ultrapassar a sua crise transformaram-se em pesadelos, à medida que se atolam mais e mais, criam problemas e são repelidos, e agora enfrentam a fúria dos oprimidos, inclusive nos seus próprios países. O curso dos acontecimentos tem sido rápido, realçando uma vez mais a volatilidade da situação mundial. As trombetas da contra-ofensiva reaccionária, que tão alto se ouviam ainda há um par de anos, caem cada vez mais em ouvidos moucos. Mais e mais sectores das massas em muitos cantos do mundo continuam a mover-se em direcção à resistência, à revolta e à revolução, crescentemente conscientes da bancarrota dos esfrangalhados revisionistas, saudando a magnífica ascensão do poder vermelho nas montanhas altas do Peru e procurando maneiras mais eficazes de golpear os seus próprios opressores.
Uma “Grande Desordem” é Excelente
Mao Tsé-tung, o grande dirigente do proletariado mundial, ensinou-nos que o imperialismo levanta sempre grandes pedras para atirar aos oprimidos, e acaba esmagando os seus próprios pés. Isto é inteiramente verdade na actual situação mundial. Os grandes alaridos sobre a sua “nova” ordem mundial e o actual curso dos acontecimentos serviram apenas para provar sem sombra de dúvida que nada de bom pode vir deste sistema destruidor de seres humanos. As suas instituições, lacaios reaccionários e testas-de-ferro revisionistas estão a ser cada vez mais desmascarados. A Guerra Popular no Peru criou bases de apoio onde a nossa classe estabeleceu uma vez mais o poder do povo. Nas nações oprimidas do mundo, os “centros da tormenta” da revolução mundial, as lutas e a resistência das massas contra o imperialismo e seus lacaios reaccionários continuam a aumentar. Estão a afastar os dirigentes vendidos de antanho enquanto novas gerações abraçam as tarefas de fazer avançar as suas lutas. Há agitação e revolta, em graus diversos, entre todos os sectores dos oprimidos, entre as mulheres, os jovens e as camadas mais exploradas das massas, acorrentados durante séculos pela reacção em todas as suas monstruosas formas. O repugnante valentão norte-americano acaba de receber uma valente sova dentro do seu próprio território, por parte das vítimas da sua opressão racial e de classe. E os tigres de papel imperialistas continuam a ser atingidos pelas afiadas lanças das massas oprimidas em todos os países que eles se atrevem a agredir. A grande maré da “desordem revolucionária” está em marcha, e isso é excelente.
À luz do aprofundamento da crise do sistema imperialista mundial, todas as contradições principais — a contradição entre as nações oprimidas e as potências imperialistas, a contradição entre o proletariado e a burguesia nos países capitalistas e imperialistas, e a contradição entre as próprias potências imperialistas — estão a sofrer novos desenvolvimentos. Entre elas, a contradição entre as nações oprimidas e as potências imperialistas e, com um grau significativo ainda que secundário, a contradição entre o proletariado e a burguesia nos países imperialistas estão a intensificar-se. O colapso do campo imperialista soviético levou a uma atenuação da contradição inter-imperialista do seu anterior nível de intensidade. Mas o conluio imperialista baseia-se na disputa, que se está a manifestar hoje em dia nos realinhamentos e nas novas rivalidades que estão a ter lugar entre as potências imperialistas face ao aprofundamento da sua crise e ao crescendo das lutas do povo.
Repetindo as palavras da Declaração de 1984, nestes tempos em que se abrem perspectivas sem precedentes para a revolução, “devemos aguçar a nossa vigilância revolucionária e intensificar a nossa preparação política, ideológica, organizativa e militar, de modo a agarrar esta oportunidade da melhor maneira possível para os interesses da nossa classe e para conquistar as posições mais avançadas possíveis para a revolução proletária mundial”. A existência do Movimento Revolucionário Internacionalista e dos partidos maoistas nele agrupados proporciona um poderoso ponto de partida para atingir esse objectivo, e isso deve ser feito. Em particular, os comunistas devem levar a arma do marxismo-leninismo-maoismo aos milhões de elementos das massas oprimidas, perseverar na luta feroz contra todos os matizes de revisionismo, velho ou novo, criar partidos maoistas onde não existam e reforçar os existentes, com o fim de preparar, iniciar, desenvolver e levar até à vitória Guerras Populares para destruir para sempre o imperialismo e a reacção e caminhar até ao glorioso futuro do comunismo.
26 de Dezembro de 1993
Movimento Revolucionário Internacionalista