O seguinte comunicado foi distribuído na concentração de 5 de Outubro de 2005 frente à antiga sede da PIDE em Lisboa:

Não deixamos que nos apaguem a memória!

Há 60 anos atrás foi criada a policia política do Estado Novo. A Policia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) tinha como principais competências proceder à instrução preparatória dos processos respeitantes a crimes contra a segurança do Estado, sugerir a aplicação de medidas de segurança e definir o regime de prisão preventiva e liberdade provisória dos arguidos.

Durante anos a sua sede funcionou nos n.os 30 a 36 da Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

Após o 25 de Abril de 1974 este edifício foi votado ao abandono, sem que houvesse qualquer interesse em fazer ali nascer um local onde a memória dos dias e noites de torturas de milhares de portugueses e portuguesas pudesse ser preservada.

Hoje, um grupo privado pretende fazer da antiga sede da PIDE um condomínio privado de luxo. Que dizem sobre isto os candidatos à autarquia lisboeta? Que futuro defendem para aquele espaço?

Para nós a memória dos dias negros não pode ser apagada. Por isso defendemos que naquele edifício deve existir um museu que ao mesmo tempo possibilite a preservação da História e a sua investigação.

Ao contrário de muitos exemplos, em Portugal não se valoriza a preservação da memória colectiva. Não dedicamos à nossa história, particularmente à do Séc. XX, o estudo e a divulgação que se exigem. O que pensa o Governo sobre a preservação da nossa memória colectiva? Que dizem os anunciados candidatos à Presidência da República? Exigimos pois, a criação de um espaço que dignifique a luta pela liberdade, que possibilite a investigação histórica sobre o Estado Novo e que preserve a nossa História.

Não deixamos que nos apaguem a memória!


Nomes de algumas das vítimas assassinadas pelo fascismo

General Humberto Delgado (assassinado junto à fronteira espanhola por um comando da Pide)

Ribeiro dos Santos (estudante, assassinado pela Pide em 1972 - Universidade de Lisboa)

Bento Gonçalves (Secretário-Geral do PCP, morreu no Tarrafal como algumas dezenas de outros tarrafalistas, comunistas e anarco-sindicalistas sobretudo, para ali deportados, em consequência das péssimas condições a que foram sujeitos)

Alfredo Caldeira (CCF do PCP, igualmente morto no Tarrafal pelas mesmas razões de BG)

Manuel Vieira Tomé (ferroviário e dirigente sindical, um dos dirigentes da greve geral de 18 Janeiro 1934, preso e assassinado pela polícia política em 1934)

Ferreira Soares (médico comunista de Espinho, assassinado a tiro pela Pide no seu consultório em 1942)

Germano Vidigal (operário da construção civil e dirigente sindical, assassinado pela Pide em 1945)

Soeiro Pereira Gomes (escritor, membro do CC do PCP, morre em 1949, perseguido pela Pide e impossibilitado de se tratar)

José Moreira (operário e responsável pela ligação às tipografias do PCP, morre em 1950 após prisão e torturas, assassinado pela Pide)

Alfredo Lima (operário agrícola comunista de Alpiarça assassinado a tiro pela GNR em 1950)

Cândido Martins (Capilé) (operário comunista assassinado pelas forças repressivas em Almada em 1961 durante uma manifestação)

António Adângio (mineiro comunista de Aljustrel, assassinado pela GNR em 1962 durante uma manifestação)

Estevão Giro (comunista assassinado pelas forças repressivas durante a manifestação do 1.º Maio 1962, em Lisboa)

Alfredo Diniz (Alex) (funcionário do PCP assassinado pela brigada da Pide comandada por José Gonçalves em 1945)

Militão Ribeiro (membro do Secretariado do PCP, é preso, torturado e morre nos calabouços da Pide em 1950, após escrever uma carta à Direcção do PCP, utilizando o seu próprio sangue como tinta)

Catarina Eufémia (assassinada pela GNR em Baleizão em 1945)

José Dias Coelho (pintor, a quem José Afonso dedicou uma canção conhecida, funcionário do PCP assassinado pela Pide em 1961, em Lisboa)

João Arruda (assassinado no dia 25 de Abril de 1974 pelos pides acoitados neste edifício)

Fernando Reis (assassinado no dia 25 de Abril de 1974 pelos pides acoitados neste edifício)

José Barnetto (assassinado no dia 25 de Abril de 1974 pelos pides acoitados neste edifício)

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