Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 10 de Novembro de 2008, aworldtowinns.co.uk
O texto que se segue é um comunicado distribuído pelo Partido Comunista Revolucionário, EUA, após a eleição de Barack Obama (Revolution/Revolución Online, 6 de Novembro de 2008, revcom.us/a/146online/morning_after-en.html em inglês ou revcom.us/a/146online/morning_after-es.html em castelhano).
Na manhã seguinte às eleições norte-americanas:
A promessa de mudança e a mudança que é necessária
Não era possível não notar isso na noite das eleições. As pessoas realmente saíram para as ruas para celebrarem a eleição de um presidente. As emoções surgiam intensas e as lágrimas fluíam.
E durante os dias seguintes: as pessoas falavam em esperança, tanto a amigos como a estranhos. Esperança na chegada de uma era de mudança em relação aos horrores dos anos Bush. Esperança no fim do racismo. Esperança numa nova era ao serviço do bem comum.
A esperança – uma esperança fundada na possibilidade real de uma mudança de fundo neste mundo – é realmente preciosa. Dedicar a vida a algo mais elevado que a moral do “Eu-quero-o-que-é-meu” é tão vital que o futuro da humanidade realmente depende disso. E a eliminação – uma verdadeira eliminação – das divisões sociais baseadas na desigualdade e na opressão deve estar no centro de qualquer verdadeiro movimento de mudança social.
Mas agora, na alvorada da manhã seguinte, temos de fazer perguntas e enfrentar honestamente algumas questões fundamentais e muito sérias.
Esperança em quê?
Ao serviço de quê?
Unidade em torno de que objectivos e de que valores?
E vitória de quem?
A mudança que Obama prometeu
“Sou suficientemente novo na cena política nacional para servir de tela em branco em que pessoas de tendências políticas imensamente diferentes projectem as suas próprias perspectivas.”
– Barack Obama, The Audacity of Hope [A Audácia da Esperança].
A maioria das pessoas que celebraram nas ruas opõe-se à série de guerras que Bush desencadeou e às ameaças de mais guerras. Contudo, Obama, ao longo da sua campanha, prometeu enviar mais tropas para o Afeganistão. Ele fez flutuar a ideia de ataques ao Paquistão, ameaçou o Irão e prometeu apoiar Israel – que continua até aos dias de hoje a atormentar o povo da Palestina – totalmente. Ele estabeleceu a sua reputação ao se opor ao desencadeamento da guerra do Iraque – mas durante a sua campanha já recuou nisso com a conversa de “ouvir os generais” e decidir quando o Iraque estiver “estável” e as suas tropas “suficientemente treinadas”.
A maioria dos que celebraram nas ruas odeia o fascismo dos anos Bush: a espionagem, o esvaziar dos direitos legais fundamentais e a tortura. Contudo, enquanto senador, Obama votou a favor da renovação do Acto Patriótico (que aboliu ou restringiu seriamente importantes direitos legais) e a favor da imunidade das empresas de telecomunicações que espiaram ilegalmente pessoas a pedido da Casa Branca.
A maioria dos que celebraram nas ruas anseia por ver o fim do racismo e da opressão dos negros e das outras nacionalidades oprimidas. Contudo, durante a sua campanha Obama não falou no fim da discriminação e da opressão que se continuam a manifestar numa taxa de desemprego dos negros que é mais do dobro da dos brancos, na discriminação no alojamento, nos cuidados de saúde e no sistema legal e numa taxa de encarceramento de negros e outros membros das minorias que são um escândalo mundial. Não, em vez disso, ele opôs-se ao seu antigo pastor, Jeremiah Wright, porque Wright tem “uma perspectiva que vê o racismo branco como endémico”. Nesse discurso, Obama chegou mesmo a dizer que essa forma de pensar era “divisionista” e afastava as pessoas dos problemas das “duas guerras, a ameaça terrorista, uma economia enfraquecida, uma crise crónica dos cuidados de saúde e uma potencialmente devastadora alteração climática” – encobrindo assim, numa frase, o quanto a discriminação sistemática está embutida em todos os problemas da América e negando tanto a continuação da amarga opressão do povo negro enquanto povo como os profundos problemas estruturais da sociedade norte-americana que a sustentam.
Muitos dos que saíram para as ruas também vêem Obama como se ele partilhasse os seus valores de acabar com a opressão das mulheres e dos homossexuais. Será que eles repararam que Obama caracteriza regularmente o aborto como algo errado, mesmo que não se oponha ao direito ao aborto, ou como ele raramente sequer menciona a defesa desse direito? Ou como Obama, numa altura em que o direito ao casamento homossexual estava a ser atacado em referendos eleitorais, disse que embora não apoiasse esses referendos, se opunha ao casamento homossexual em si mesmo – com base nas suas próprias convicções religiosas?
Obama disse que traria a mudança. Pediu-vos – mais recentemente no seu discurso de vitória na noite das eleições – que pusessem os vossos esforços a favor dele e que fossem pacientes com a sua administração. A questão é a seguinte: a julgar pelas próprias declarações de Obama e não pelo que vocês pensam que ele deve acreditar lá bem no fundo, será que a mudança que ele está a prometer e para a qual ele está a tentar recrutar-vos é a mudança de que necessitamos?
Ou será que vocês estão a ser recrutados para algo que acabará realmente por ser o oposto das vossas melhores aspirações e de uma moralidade baseada no bem comum da humanidade?
Resgatar o sonho?
“Se ainda há alguém por aí que duvide que a América é um lugar onde tudo é possível; que ainda deseje saber se o sonho dos nossos fundadores está vivo no nosso tempo; que ainda questione o poder da nossa democracia, esta noite é a vossa resposta.”
– Barack Obama, no seu discurso de vitória.
Bem, certamente que muitas coisas são possíveis na América. Na América é possível aos colonos europeus cometerem genocídio contra os índios nativos norte-americanos que aqui viviam e depois declararem-se os construtores de uma “luminosa cidade numa colina” e “a última melhor esperança do género humano”. Na América é possível sequestrar mais de dez milhões de africanos e mantê-los a eles e aos seus descendentes como escravos durante 250 anos, explorando-os como base da grande riqueza deste país e mantendo depois os seus descendentes sob novas formas de opressão e sobreexploração e, em simultâneo, vangloriar-se de que “o sonho dos nossos fundadores” se baseia no princípio de que “todos os homens são criados iguais”. Na América é possível levar a cabo e patrocinar guerras e golpes militares durante os últimos 150 anos cujas consequências para a humanidade são incomparáveis a quaisquer dos monstruosos impérios lendários do passado e depois declarar regularmente, como fez Barack Obama no seu discurso, que este mesmo país é a grande garantia da “paz e segurança” do mundo – mesmo que ele tenha precedido isso de uma garantia de que qualquer pessoa que se oponha ao que ele chama de “nova alvorada da liderança norte-americana”, que “nós a derrotaremos”. Na América é possível subjugar as economias de nações inteiras às exigências e ditames do capital norte-americano; e depois disso é possível sobreexplorar os povos empobrecidos desses países que devido a isso procuram desesperadamente trabalho nos EUA e ao mesmo tempo diabolizá-los e torná-los bodes expiatórios como causa das dificuldades de todos os outros. É possível torturar em nome da “segurança”, mesmo que se assegure ao mundo que não se o faz.
Mas, aparentemente, há outras coisas NÃO são tão possíveis na América. Na América NÃO tem sido possível anular de facto as estruturas da supremacia branca e da opressão de povos inteiros. Na América NÃO tem sido possível deixar de enviar tropas, espiões da CIA e comandos para o mundo inteiro – nem tem sido possível evitar coisas como o massacre de 40 civis numa festa de casamento no Afeganistão no dia anterior às eleições que instalaram no poder um homem que prometeu enviar mais tropas para invadir esse país torturado e assediado. Na América NÃO tem sido possível eliminar de facto a subjugação das mulheres em todos os aspectos da vida nem eliminar a diabolização e discriminação sistemáticas dos homossexuais. Na América NÃO tem sido possível conter a descuidada pilhagem e espoliação do próprio planeta em que vivemos. Na América NÃO tem sido possível eliminar a embrutecedora alienação da vida quotidiana da maioria das pessoas nem o desespero de verem os seus melhores esforços resultarem em nada para muitos dos que se querem dedicar a melhorar as coisas.
O que se provou ser possível – e o que se provou NÃO ser possível – não têm nada a ver com a “natureza humana” e tudo a ver com o sistema que foi implementado para assegurar os “sonhos dos nossos fundadores”. O nome desse sistema é imperialismo – uma fase do capitalismo em que a maioria da humanidade fica destinada a vidas curtas e amargas de uma exploração quase indescritível, à humilhação e à degradação... em que nações inteiras são dominadas para aprofundarem e expandirem essa exploração... e em que o mundo inteiro é dividido entre um punhado de grande potências imperialistas (com os EUA actualmente à sua cabeça).
É este o sistema que determina de facto o que é e o que não é possível. É este o sistema que Barack Obama está agora a começar a liderar. É este o sistema ao serviço do qual ele vos está a chamar.
Deixemos de pensar como norte-americanos!
Comecemos a pensar na humanidade!
O imperialismo tem uma ideologia – uma forma sistemática, mesmo que não reconhecida, em que as pessoas são treinadas a ver todos os acontecimentos do mundo. Quando, no seu discurso de vitória, Barack Obama canta canções de elogio à grandeza da América – ele está-nos a treinar numa certa forma de compreensão do mundo. Quando ele vai tão longe que não só cumprimenta o seu opositor [o antigo piloto John McCain] como também elogia efusivamente esse criminoso de guerra não arrependido, que lançou inúmeras bombas sobre civis no Vietname, como “corajoso e abnegado líder” – ele está a fazer esse treino de uma forma particularmente nauseabunda e francamente horrível. Quando Barack Obama nos diz para “evocarmos um novo espírito de patriotismo” e superarmos as divisões – é a mesma coisa.
Isto tem que ser chamado o que é: chauvinismo norte-americano. Isto aceita como certo a existência do imperialismo. Muitos dos que celebraram na noite das eleições estão de facto â espera que Obama leve a um imperialismo “melhor”. Mas isso não existe – não há nenhum imperialismo norte-americano “melhor”, nenhum imperialismo “bom” de qualquer tipo. Do que precisamos é de acabar com o imperialismo e todas as relações de opressão e exploração.
Paremos de cantar EUA, EUA – e comecemos a pensar no que a humanidade realmente está a enfrentar e no que deve ser feito com urgência. Paremos de agitar essas bandeiras e comecemos a resistir aos crimes deste sistema, incluindo os verdadeiros crimes do regime Bush que Obama não só não irá processar mas que, sim, está decidido a manter, em grande parte. PAREMOS DE PENSAR COMO NORTE-AMERICANOS – e comecemos a pensar nas necessidades da humanidade e a tentar proceder de acordo com isso.
Um caminho melhor
Será que isto significa, então, que não há nenhuma esperança? Será que, de facto, não há nada que se possa fazer? Estaremos a aconselhar o cinismo ou o desespero?
Longe disso. Em vez de falsas esperanças, nós oferecemos uma esperança com uma base real. Oferecemos uma esperança baseada na perspectiva de uma sociedade diferente que utilize o facto de a humanidade poder hoje realizar grandes feitos – a começar pela eliminação da fome, da doença e da falta de tecto – mas que o que a impede são as relações económicas de exploração a que está acorrentada e pela maquinaria de opressão que apoia essas relações. Em suma, oferecemos a esperança da revolução.
Nós oferecemos a esperança comprovada pelos sucessos das revoluções russa e chinesa – antes de essas revoluções terem sido subvertidas. Essas revoluções deram saltos em frente nessas mesmas coisas que NÃO são possíveis neste sistema: a eliminação da exploração e a ruptura com as relações imperialistas que estrangulam o mundo; a abolição da subjugação das mulheres e dos povos e nações oprimidos; a abertura das esferas do governo da sociedade e do trabalho com ideias aos oprimidos – esferas de que hoje são mantidos afastados tanto pelo funcionamento normal como por políticas conscientes do capitalismo; e o fornecimento de cuidados de saúde, educação e muitas outras necessidades básicas a toda a sociedade, de uma forma que estreitou em vez de alargar as desigualdades.
Oferecemos uma esperança baseada no trabalho científico de Bob Avakian, o líder do nosso Partido que tem tanto apoiado os sucessos e lições fundamentais dessas revoluções, como criticado e rompido com os grandes erros e insuficiências dessa primeira vaga da revolução. Nessa base, ele reavivou o VERDADEIRO sonho de emancipar toda a humanidade da exploração e opressão e mostrou o caminho em frente para o conseguirmos.
Em vez de um “serviço” que só pode acabar por reforçar as mesmas coisas a que vocês se opõem, oferecemos algo que corresponde às vossas mais elevadas aspirações: fazer a revolução.
Porque HÁ trabalho a fazer – trabalho que pede urgentemente que seja feito. Há o trabalho de lutar pelos nossos melhores ideais e esperanças de mudança. Há o trabalho de perceber de facto como realmente funciona o mundo, o verdadeiro lugar e papel da América nesse mundo e o que é realmente a revolução e como é que é possível. Há o trabalho de combater o poder e de transformar as pessoas, para a revolução.
Rompamos, finalmente, com ilusões mortais e comecemos esse trabalho – o de eliminar o imperialismo e todas as relações de exploração e opressão e NÃO o de o reforçar, num embrulho diferente. Façamos surgir, de facto, um novo dia.
Partido Comunista Revolucionário, EUA