Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 14 de março de 2016, aworldtowinns.co.uk

O seguinte texto, datado de 8 de março, é do Alborada Comunista, o sítio internet do Grupo Comunista Revolucionário (GCR) da Colômbia (acgcr.org) [ver PDF]:

Pôr fim à degradação, desumanização e subjugação patriarcal de todas as mulheres em todo o mundo, e a toda a opressão baseada na orientação sexual ou no género!

Mulher de punho erguido

O Dia internacional da Mulher procura elevar a consciência e chegar a uma perspetiva clara sobre o facto de que metade da humanidade, as mulheres, é tratada em todo o lado como menos que seres humanos completos. Também procura elevar a consciência e ter uma perspetiva clara do facto de que não só é necessário mas também possível pôr fim a este vergonhoso estado das coisas.

Violência doméstica, repressão estatal, rapto de meninas, casamentos forçados, morte por apedrejamento, ataques com ácidos, crimes de “honra”, pornografia, prostituição (incluindo pelos maridos), suicídio, uso forçado do véu, mutilação genital, controlo do corpo da mulher, deslocações devido à guerra ou por razões económicas, etc., tudo isto é parte da realidade diária.

Não é uma invenção nem um exagero dizer que a nível mundial seis em cada dez mulheres sofrem de violência física e/ou sexual durante as vidas delas; que a América Latina é considerada o segundo lugar mais perigoso do mundo para as mulheres (relatório do Gabinete da ONU para as Drogas e o Crime); que durante a atual década a violência de género na Colômbia significou o assassinato de mais de 1600 pessoas todos os anos, e que diariamente são espancadas pelo menos 133 mulheres (Informe de Medicina Legal 2015).

Não é uma invenção nem um exagero dizer que dos 825 milhões de pessoas mais pobres no mundo, 700 milhões são mulheres, e em cada dez refugiados no mundo oito são mulheres ou crianças.

Não é uma invenção nem um exagero dizer que as redes de prostituição se estão a espalhar por todo o planeta e que as mulheres são compradas e vendidas tanto nos países oprimidos como nos países imperialistas. Elas vão dos países asiáticos, onde milhões de mulheres são vendidas e traficadas desde muito jovens, às grande cidades europeias e norte-americanas onde mulheres de diferentes partes do mundo são exibidas até em janelas de lojas como mercadorias, às ilhas do Caribe e a cidades como Cartagena, construídas para serem paraísos do “turismo sexual” onde os “clientes” pagam a proxenetas por meninas virgens dos setores mais pobres e oprimidos da sociedade.

Não é uma invenção nem um exagero dizer que as mulheres neste mundo são submetidas a todo o tipo de controlos e agressões contra a sua sexualidade e reprodução. Milhões de meninas são forçadas a casamentos ou mortas por desobedecerem às normas patriarcais que fazem parte de tradições obsoletas que consideram as mulheres como propriedade dos homens.

Não é uma invenção nem um exagero dizer que em todo o mundo as mulheres são pressionadas a ter filhos como sendo a parte mais importante da sua realização e como mecanismo de subordinação aos homens. Na Índia, na China, no Vietname e noutros países, as mulheres são consideradas um fardo, e consequentemente muitas meninas recém-nascidas são abandonadas. Basicamente, as mulheres não são autorizadas a decidir sobre o seu próprio corpo, a sua própria reprodução e a sua própria vida e sexualidade. Em vez disso, são colocadas sob controlo do estado, da igreja e da família.

Não é uma invenção nem um exagero dizer que, tão incrível quanto possa parecer, no século XXI algumas pessoas – incluindo pessoas em posições de poder e autoridade – estão decididas a forçar as mulheres a dar à luz independentemente de qual possa ser a situação delas, do que elas sintam em relação a isso ou do que elas pensem ser o melhor para elas. Eles são fanáticos cruéis decididos a privar as mulheres do direito ao aborto.

Não é uma invenção nem um exagero dizer que mais de 70 mil mulheres morrem todos os anos após abortos que correm mal porque onde elas vivem não há direito ao aborto ou porque, onde ele é legal, é restringido e dificultado num esforço para eliminar esse direito.

Não é uma invenção nem um exagero dizer que o que está a acontecer, especialmente no domínio da cada vez mais violenta e brutal pornografia, é que os homens estão a ser excitados pela tortura física e pela degradação das mulheres, que estão a ser cada vez mais difundidas e consideradas normais na pornografia; e que, no seu conjunto, a cultura está a pornificar-se, sendo que um dos géneros mais populares é a pornografia de violações, que mostra mulheres a serem violadas de facto.

É um facto! Nas guerras “antissubversivas” levadas a cabo por soldados e paramilitares, nas guerras de ocupação desencadeadas pelos exércitos imperialistas, nas guerras levadas a cabo pelos fundamentalistas islâmicos e em todo o tipo de guerras reacionárias, as mulheres são tomadas como saque e propriedade, violadas e escravizadas. Isto tem vindo a acontecer há séculos e é reforçado e validado pelos “textos sagrados” das religiões de todo o mundo.

Isto é um horror! Desde as cidades superlotadas às aldeias mais longínquas, da casa à rua, da escola à universidade, do local de trabalho aos parques, nos transportes públicos, de noite e de dia, as mulheres estão sob uma constante ameaça de assédio e abuso sexual. As violações são endémicas, muitas vezes de uma forma extrema – no Congo, uma menina tem mais probabilidade de ser violada que de ir à escola. A nível global, 120 milhões de meninas foram violadas ou sexualmente abusadas antes de fazerem 20 anos. E a cultura patriarcal culpa as mulheres, justificando e normalizando tudo isto.

Todas as formas através das quais as ideias são propagadas – a comunicação social, o sistema de ensino, a família, a religião, a arte e a cultura em geral, refletem, defendem e generalizam todo o sistema patriarcal de subordinação das mulheres. Eles modelam a maneira como as pessoas pensam e se relacionam umas com as outras, e consolidam o papel das mulheres como submissas aos homens. Uma cultura degradante que constantemente nos bombardeia para aceitarmos isto como sendo natural.

Hoje em dia, as universidades estão atoladas num relativismo paralisante e em inúmeras racionalizações sobre como as mulheres obtém “poder” através da pornografia e da “indústria” do sexo. Em vez de libertação, o que lhes é oferecido é um “poder” basicamente reduzido à ideia de as mulheres, de uma forma ou de outra, aumentarem o valor delas como mercadorias. Isto exerce uma grande influência, especialmente entre os jovens, mas também na sociedade em geral.

As mudanças na economia e as lutas que surgiram nos anos 1960, sobretudo o movimento de libertação das mulheres, conduziram a mudanças significativas na situação das mulheres em muitas dimensões, incluindo o emprego, embora ao mesmo tempo as mulheres continuem sujeitas à discriminação sistemática no emprego e em geral. Há hoje uma crescente feminização do trabalho imigrante, tanto “legal” como “ilegal” (especialmente na prostituição, no serviço doméstico e noutros trabalhos mal pagos que podem ser considerados novas formas de servidão).

Os anos 1960 e 1970 viram o início da “política de identidade” – restringindo e reduzindo as aspirações –, segundo a qual cada “grupo de identidade” deve focar-se na sua própria situação e reivindicações específicas. De maneira semelhante, a libertação sexual pela qual se lutou nos anos 1960 e 1970 tornou-se numa mercantilização de tudo o que está associado à sexualidade. Longe de ser libertador, isto funciona como reforço da noção das mulheres como objetos sexuais – exceto que elas também devem ter “sucesso” como donas de casa e mães a tempo inteiro.

Em todo o mundo em geral, cada vez mais as mulheres fazem parte da mão-de-obra e de muitas outras esferas sociais, e entre as massas de mulheres há uma crescente resistência às formas “tradicionais” de escravização delas e aos ataques contra elas. Isto está e entrar em conflito aberto com a necessidade das classes dominantes de reforçarem de uma forma mais agressiva esta escravização “tradicional” e a sua associada moralidade “tradicional”. Isto é uma contradição muito explosiva, uma força potencialmente muito poderosa para a revolução mais radical da história humana.

É possível pôr fim à opressão das mulheres e a todos os horrores que lhe estão associados, e é possível criar algo radicalmente diferente e emancipador. Isso não quer dizer que seja fácil. Para muitas pessoas pode mesmo parecer impossível, mas isso é devido a como as coisas são hoje. A maneira como as coisas são hoje define o quadro para a maneira como as pessoas pensam. Não percebemos a possibilidade de uma mudança radical devido ao grau em que a nossa perspetiva e sentido da realidade e das possibilidades são limitados, condicionados e filtrados pelas relações de dominação nas quais todo este sistema é baseado, e aos valores tradicionais e aos modos de ser e pensar constantemente gerados por este sistema capitalista-imperialista sob o qual vivemos e que servem para o perpetuar.

Precisamos de uma revolução, não só para libertar as mulheres de uma das formas de escravização, mas também da epidemia de violações e violência sexual, dos espancamentos e abusos, do tráfico de mulheres e meninas como escravas sexuais em todo o mundo, da degradação e desumanização da pornografia, e dos muitos outros crimes este sistema, como a fome, a guerra contra os imigrantes, a destruição do meio ambiente e o terrível e crescente pesadelo do que os imperialistas estão a fazer no mundo inteiro – as ocupações, as guerras e a tortura deles – que alimentam e reforçam o fundamentalismo islâmico e todas as formas de opressão reacionárias e escravizadoras das mulheres e de outras pessoas.

O que é necessário é a revolução e nada menos, uma revolução proletária cuja meta é o estabelecimento do comunismo a nível mundial (o qual, ao contrário daquilo com que constantemente enchem as nossas cabeças, é uma sociedade onde os indivíduos se podem desenvolver plenamente como parte integrante de uma coletividade sem divisões de opressão de classe, género ou nacionalidade). As pessoas que odeiam a maneira como o mundo é hoje precisam de dar um passo em frente e juntarem-se a outras (adotando a compreensão mais avançada, a nova síntese do comunismo de Bob Avakian que colocou o comunismo numa base ainda mais científica) para tornarem esta nova sociedade numa realidade. Elas precisam de se unir e contribuir para combater este sistema patriarcal capitalista-imperialista e, à medida que combatemos o sistema e toda a sua ideologia de dominação, temos de nos transformar em emancipadores da humanidade.

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