Comunicado de 1972 dos estudantes sobre os acontecimentos após o assassinato de Ribeiro Santos:

À POPULAÇÃO

José António Ribeiro Santos, estudante da Faculdade de Direito e bastante conhecido no meio estudantil de Lisboa, foi cobardemente assassinado à queima-roupa, com dois tiros de pistola disparados por um agente da PIDE, na quinta-feira passada.

A população de Lisboa tem assistido nos últimos dias a manifestações de centenas de estudantes, nas ruas, protestando contra este assassínio por agentes da PIDE. Os carros da polícia de choque têm percorrido a cidade para perseguirem e carregarem sobre os estudantes. Os jornais, a radio e a televisão têm divulgado as notas oficiosas em que o governo tenta justificar o assassínio do nosso camarada e as prisões de estudantes e trabalhadores. Tenta justificar a repressão sobre todos aqueles que, nas ruas, lutam contra a polícia, tenta quebrar o claro apoio que, por diversas formas, a população deu aos estudantes nos últimos dias.

Apesar de todas as suas tentativas para abafar a notícia do assassínio, para impedir que a indignação doa estudantes se estendesse aos trabalhadores e à população em geral, o governo não o conseguiu.

Na tarde de sexta-feira, 13, os estudantes, depois de perseguidos pela polícia, percorreram as ruas da cidade, com o apoio da população, protestando contra o governo criminoso, contra o governo antipopular e denunciando o assassínio do Ribeiro Santos.

No sábado à tarde, quando mais de cinco milhares de presentes, estudantes e trabalhadores, pretendiam dar ao seu camarada Ribeiro Santos o funeral que ele merecia, a polícia de choque carregou à matracada por cima do caixão que seguia em ombros, roubando-o ao povo e metendo-o à força num carro funerário sob o grito unânime da multidão: ASSASSINOS! ASSASSINOS! Apesar de algumas pessoas se defenderem corajosamente da brutalidade da polícia com pedras e com os punhos, os verdugos, chegando a utilizar cães, conseguiram provocar a dispersão.

Seguidamente, grupos de centenas de estudantes e trabalhadores percorreram o trajecto de Santos ao cemitério da Ajuda, apesar da perseguição movida pela polícia de choque, aos gritos de:

ABAIXO O GOVERNO ASSASSINO!, VINGAREMOS RIBEIRO SANTOS!, GOVERNO DO POVO SIM, GOVERNO ASSASSINO NÃO!,

e manifestaram-se mais uma vez pelas ruas da cidade com o apoio e adesão da população. Os estudantes e o povo souberam enfrentar corajosamente as forças policiais, não hesitando, para conseguirem manifestar a sua revolta, em opor à repressão violenta do governo que defende os interesses dos que exploram e oprimem os trabalhadores portugueses e os povos das colónias, a sua justa violência. É assim que, à pedrada, são partidos os vidros dos bancos e dos ministérios, símbolo arrogante das propriedades e dos interesses dos capitalistas que exploram e oprimem os trabalhadores nas fábricas e nos campos, e que, para manterem a sua rapina, sustentam o governo e a PIDE assassina.

E se, no calor da luta, algumas pedras passaram perto de elementos da população (como no caso do Pão-de-Açúcar, onde aliás se foi imediatamente, em nome dos manifestantes, pedir desculpa aos presentes), isso deve-se à precipitação desorganizada de alguns, na sua justa revolta.

É preciso que o povo saiba que os manifestantes não são arruaceiros, como dizem os jornais do governo. Os manifestantes saberão demonstrar isso, corrigindo prontamente quaisquer erros cometidos.

O governo que reprime e assassina na defesa dos interesses dos grandes capitalistas vê-se obrigado a tentar justificar as suas atitudes perante a população, fazendo crer que foram inclusivamente os estudantes que armaram uma cilada aos pides que então puxaram o gatilho. É assim que o governo tenta justificar as prisões, as cargas, o assassínio: pela mentira. É assim que o governo tenta justificar a "boa-fé" dos pides que, "confiando na calma dos estudantes", comparecendo armados às suas reuniões, "teriam caído numa armadilha"; então para que seriam as armas?

Os pides que assassinaram o Ribeiro Sento sabiam muito bem como iriam reagir os estudantes presentes em Económicas, à sua comparência. Os estudantes sempre afirmaram e tinham-no reafirmado bem claro naquela altura, que com aqueles que diariamente torturam e assassinam, nas suas masmorras, todos os que lutam pela justa causa do povo, com esses, não dialogam.

Mas a justa luta dos estudantes e do povo português não vai parar. É preciso que todos os trabalhadores, que todos os estudantes que lutam por um ensino ao serviço do povo, conhecendo a verdade, saibam manifestar a sua revolta, saibam vingar Ribeiro Santos!

Os estudantes apelam para que a população se lhes junte na rua, gritando bem alto:

MORTE AO GOVERNO ASSASSINO!

VINGAREMOS RIBEIRO SANTOS!

GOVERNO DO POVO, SIM! GOVERNO ASSASSINO, NÃO!

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