Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 5 de Janeiro de 2015, aworldtowinns.co.uk
Pensando em Trayvon Martin, uma artista egípcia olha para o mundo


Uma galeria de arte do Cairo organizou recentemente uma exposição da obra da artista egípcia Mona Marzouk, intitulada Trayvon em homenagem ao estudante adolescente afro-americano Trayvon Martin assassinado na Florida (EUA) em 2012. Numa entrevista a um jornal, ela disse que seguiu obsessivamente o caso e o julgamento do vigilante George Zimmerman que perseguiu e disparou sobre o jovem de 17 anos. “A primeira coisa que Zimmerman disse à polícia”, disse Marzouk, “foi ‘ele é negro’. [...] Eu pensei que era importante exprimir o que aconteceu a esse jovem sem nenhuma razão.”
Marzouk explica que o julgamento surreal, em que os factos eram incontestáveis mas em que, apesar disso, o único resultado foi ratificar o “direito” a matar jovens negros na América, a fez lembrar-se da forma como os tribunais egípcios invertem da mesma maneira o que é certo e errado. No mundo inteiro, diz ela, “as pessoas estão à procura de justiça e [estão] na prisão”. Ela devia estar a pensar nos últimos meses no seu próprio país onde o anterior presidente favorecido pelos norte-americanos, o general Hosni Mubarak, foi absolvido de assassinato, embora tenha ordenado o massacre de muitas centenas de manifestantes, ao mesmo tempo que os jovens proeminentes no movimento que levou ao derrube dele foram condenados à prisão por terem realizado protestos públicos contra os sucessores dele.
Os trabalhos nesta exposição, porém, não são sobre nenhum caso em particular nem sequer realmente sobre qualquer injustiça em particular. Uma luminosa parede amarela enxameada de silhuetas negras nitidamente delineadas que fazem lembrar objectos reais, mas que em vez de serem representacionais, são sugestivas, trabalhando com muitas camadas de referência e emoção de uma só vez. Helicópteros, um tema recorrente e um símbolo da ubíqua violência do estado em todo o mundo, trazem à memória pássaros predadores ou insectos maléficos. Guilhotinas, cadeiras eléctricas e laços combinam-se com pianos de cauda e criaturas com garras. Versões da bandeira norte-americana com as estrelas substituídas por bestas aterradoras mas indeterminadas e por objectos que sugerem impérios e execuções ao longo dos tempos. Castelos sinistros juntam minaretes e catedrais, fazendo adivinhar faraós e potentados romanos, otomanos e europeus. Uma torre de pilares devora o sol como se fosse uma gema de ovo. Estas estruturas arquitectónicas, tal como os seus inúmeros capacetes, projectam a dominação política e a autoridade masculina – e ferem. Em “Curse Carriers” [“Portadores da Desgraça”], um gigantesco monstro com mandíbulas de tubarão e um corpo de avião sobre um tripé confronta uma criatura tipo caranguejo que poderia ser um tanque com minaretes. As imagens estão no fio da navalha, são assustadoras e dolorosas para a própria alma do espectador.
Nascida em 1968, Marzouk vive e trabalha em Alexandria, Egipto. Ela é pintora, muralista e escultora. O trabalho dela tem estado presente em bienais internacionais e em exposições a solo em Londres e Nova Iorque.
Ver:
- GypsumGallery.com
- DailyNewsEgypt.com/2014/10/22/trayvon-martin-inspires-gallery-display-zamalek
- www.Jadaliyya.com/pages/index/20404/mona-marzouk's-"trayvon"-takes-inspiration-from-eg