Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 22 de Março de 2010, aworldtowinns.co.uk

Mulheres iranianas juntam forças nos protestos do Dia Internacional da Mulher para queimarem símbolo da escravidão e subjugação

O texto que se segue é um resumo das marchas do Dia Internacional da Mulher coordenadas pela Organização de Mulheres 8 de Março (Irão-Afeganistão), juntamente com outras organizações, nos EUA e na Europa.

Manifestação em Seattle convocada por mais de 40 grupos, parando em locais simbólicos da opressão das mulheres
Cerca de 200 mulheres e homens dos EUA, Irão, México, Somália, El Salvador e outros países participaram numa manifestação em Seattle convocada por mais de 40 grupos, parando em locais simbólicos da opressão das mulheres, como uma prisão e um centro de recrutamento militar. Na faixa lê-se: “Romper as grilhetas, soltar a fúria das mulheres como poderosa força para a revolução”. (Foto: Revolution/Revolución)

Após os formidáveis confrontos em que as mulheres se envolveram durante os últimos nove meses da insurreição popular do Irão, este ano o Dia Internacional da Mulher [DIM] teve um significado muito maior para os iranianos (sobretudo por ter sido o 100º aniversário do DIM). Não foi apenas uma comemoração tradicional mas antes a glorificação da luta de milhões de mulheres que durante as últimas três décadas têm resistido e combatido a brutalidade de um regime religioso. A luta dessas mulheres desmascarou mais que nunca a natureza reaccionária e misógina desse regime.

Era importante celebrar o DIM com essa questão como foco central. Por isso, as mulheres revolucionárias iranianas que vivem fora do país, incluindo a Organização de Mulheres 8 de Março (Irão-Afeganistão), juntaram-se a outras organizações revolucionárias e progressistas para levarem a cabo manifestações de celebração do dia internacional da mulher, expondo não só a natureza antimulher do brutal regime islâmico mas também desmascarando a facção verde reformista do regime que quer manter os manifestantes dentro dos limites de um regime islâmico reformado e arrebatar uma vez mais a revolução popular.

EUA – Los Angeles. Nesta cidade onde vive uma grande comunidade iraniana houve uma marcha a 6 de Março. Foi apoiada por mais de 20 grupos activos em Los Angeles, Berkeley, San Diego e San Jose. Sob um céu de chuva, 200 mulheres e homens entoaram, cantaram e dançaram ao longo do percurso por alguns bairros de Los Angeles, gritando “Não ao fundamentalismo religioso, não ao imperialismo norte-americano, os dois são nossos inimigos” e “Queremos um outro mundo que nos próprios iremos construir”. Na concentração, duas jovens iranianas comoveram a audiência com um poema sobre uma menina que testemunhou a morte de uma colega no verão passado, durante a insurreição popular iraniana. Intervenções vivas e mensagens de solidariedade de um grupo de mulheres da Universidade do Sul da Califórnia; Carol Downer, uma das fundadoras em 1971 do Centro Feminista de Saúde das Mulheres em Los Angeles, Califórnia, e que estava no Irão durante a revolução iraniana. Larry Everest, o activista revolucionário e autor de vários livros (incluindo sobre o Médio Oriente), falou do papel chave que a luta das mulheres tem desempenhado na recente insurreição popular. Nargis Khestoo, uma estudante afegã-americana de Berkeley, representou uma sua peça de palavras faladas – “Eu sou uma mulher, ouçam-me ruuuuuuuuuuuuuuuuuuuugir com uma voz demasiado alta para me ignorarem...”. Sunsara Taylor, correspondente do jornal Revolution/Revolución, falou sobre a inspiração e esperança que as pessoas de todo o mundo deveriam ir buscar à corajosa insurreição do Irão. Disse que uma das coisas mais esperançosas desta insurreição é a participação comunista que germina dentro dela – visando dar uma liderança para que as pessoas que venham a olhar para trás vejam esta sublevação como sendo o início de todo um novo mundo de feitos revolucionários, primeiro aqui, depois ali, até que o mundo inteiro seja libertado. No fim da concentração, a representante da Organização de Mulheres 8 de Março disse que as mulheres em particular desmascararam os líderes verdes por tentarem desviar a luta popular durante a recente insurreição. O apoio dos meios de comunicação imperialistas aos Verdes e a supressão das vozes revolucionárias no Irão visam promover a reforma do regime da República Islâmica por dentro e desacreditar a voz das mulheres iranianas que querem uma mudança real e não uma impostura. A mensagem da Organização 8 de Março salientou a necessidade do derrube do regime religioso e apelou à “revolução, nem uma palavra a menos, nem uma palavra a mais” (referindo-se ao comunicado de Mousavi que pedia uma “república islâmica do Irão, nem uma palavra a menos, nem uma palavra a mais”). A manifestação atingiu o seu clímax com música e canções sobre “romper as grilhetas, soltar a fúria das mulheres como poderosa força para a Revolução”.

No dia seguinte (7 de Março) houve um fórum sobre o hijab (véu) obrigatório – símbolo da opressão da mulher no Irão – e a gravidez obrigatória – símbolo da opressão da mulher nos EUA. Também houve um debate sobre cultura, moralidade e libertação da mulher, com a participação da Organização de Mulheres 8 de Março e de Sunsara Taylor.

Grã-Bretanha – Londres. A manifestação começou frente à Embaixada do Irão com mais de 100 homens e mulheres iranianas e não-iranianas. À medida que as pessoas chegavam, os manifestantes iam fazendo uma aquecimento com palavras de ordem contra o regime islâmico e as suas políticas contra as mulheres. Gisso Shakeri, uma cantora e activista das mulheres que vive na Suécia, interpretou uma conhecida canção Karzar (“campanha” em farsi): “Levantem-se e gritem tudo de uma vez, Que tipo de mundo é este, Não podemos esperar mais, É tempo de lutar (pela Karzar)”. A canção foi escrita especialmente para a manifestação de 5 dias de mulheres da Europa, que teve início em Frankfurt a 3 de Março de 2006 e acabou em Haia, Holanda, a 8 de Março de 2006. À frente da manifestação, jovens activistas sobressaiam animadamente com um grande pano vermelho com a frase “Abaixo a República Islâmica do Irão”. Ao longo de todo o caminho até à Praça de Trafalgar, no centro de Londres, gritaram-se palavras de ordem de apoio à luta do povo e das mulheres do Irão e que desmascaravam o regime islâmico antimulheres, representando as reivindicações das mulheres. Apoiado por várias organizações revolucionárias e progressistas, um grupo, a cadência de tambores dos “Ritmo de Resistência”, atraiu muita atenção e marcou o ritmo dos manifestantes à medida que iam caminhando.

O ar da Praça de Trafalgar transbordava de música. A concentração começou com uma mensagem da Organização de Mulheres 8 de Março que salientava que a opressão da mulher era uma questão internacional e que a luta das mulheres deve ser levada a cabo a uma escala mundial. “A nossa derrota será uma derrota de todas as mulheres e a nossa vitória será uma vitória de todos”. A mensagem reafirmava a reivindicação das mulheres iranianas de uma verdadeira mudança que só será alcançada com o derrube do regime islâmico e não com uma reforma que se limite a dar uma nova forma à República Islâmica.

Entre os oradores esteve Inci Kaya, uma activista do Movimento Democrático Europeu das Mulheres – Turquia que exprimiu uma forte solidariedade com as mulheres iranianas ao dizer: “(...) o nosso coração bate com as nossas irmãs iranianas; como mulher, sei que a opressão da mulher existe em todo o mundo e que as mulheres lutam em todo o mundo (...) em diferentes países; nós somos como uma só, porque somos mulheres”.

A moderadora, Yassamine Mather, representava a organização “Tirem as Mãos do Povo do Irão”. A sua mensagem de solidariedade dizia: “O nosso povo tem consciência de que a ocupação militar do Iraque piorou a situação da mulher no Iraque. O uso de tanques e de força militar não pode nem irá libertar as mulheres iraquianas e afegãs (...)”. Entre as mensagens de outras organizações que foram lidas, estiveram as da Organização para a Liberdade das Mulheres do Iraque – No Estrangeiro e da Organização para a Liberdade das Mulheres do Irão.

O programa cultural começou com a cantora Gisso Shakeri, cujas canções sobre as mulheres e as suas lutas atraíram muita gente à Praça de Trafalgar. Ziba Karbasi, uma jovem poetisa iraniana, leu duas das suas peças sobre a recente luta popular. O programa terminou com a actuação do jovem rapper iraniano Arashk Farahani, do Comité da Juventude – Grã-Bretanha, especialmente bem acolhido pelos jovens. Um importante aspecto da manifestação de Londres foi a participação de caras novas e jovens.

A Praça de Trafalgar tinha sido o palco, no dia anterior, de outra manifestação de mulheres organizada pela Coligação Um Milhão de Mulheres Erguem-se. Cerca de 8000 mulheres de todas as idades e nacionalidades protestaram contra a violência contra as mulheres. Este vasto apoio indica a imensidão da opressão, violência e discriminação que todas as mulheres enfrentam, independentemente da idade, cor ou nacionalidade. Leila Parnian, da Organização 8 de Março, foi uma das oradoras nessa manifestação.

Holanda – Roterdão. O DIM foi aqui celebrado com duas manifestações conjuntas. A 7 de Março, mais de 200 manifestantes de organizações de mulheres radicais e progressistas – da Turquia, Curdistão e Holanda, entre as quais a Euopese Democratische Vrouwendbeweging (Turquia), Makibaka-NDFP, Veksav Vrouwencommissie, Rode Mogen, Yeni Kadin (ATIK) e outras. A Organização de Mulheres 8 de Março foi o único grupo iraniano que integrou o comité organizador. Uma exposição de fotografia que descrevia os 31 anos de luta das mulheres do Irão foi mostrada no início e no fim da manifestação. Algumas das imagens eram da manifestação de mulheres a 8 de Março de 1979 que desafiou o hijab obrigatório decretado pouco tempo antes por Khomeini. Algumas imagens eram da recente insurreição popular em que o avançado e excelente papel desempenhado pelas mulheres tem sido admirado a nível mundial. Uma dessas fotos mostrava mulheres a recolher pedras para atirarem às forças opressivas; uma outra mostrava mulheres de punhos no ar a cantar com todo o seu vigor. Uma das faixas do comité organizador proclamava “As mulheres estão a lutar por um outro mundo em que não haja nem guerra nem discriminação”. A seguir à manifestação houve uma reunião convocada pelos organizadores onde os participantes discutiram a opressão das mulheres. Na segunda-feira, 8 de Março, foi organizado um protesto conjunto de grupos de mulheres iranianas em Haia. A exposição de fotografia foi novamente exibida.

Bélgica – Bruxelas. A Organização de Mulheres 8 de Março organizou na manhã de sábado 6 de Março um piquete e uma exposição de fotografia frente ao edifício da Bolsa. As mulheres que se dirigiam à manifestação principal visitavam a exposição e exprimiam o seu apoio à luta das mulheres iranianas contra o regime islâmico. As mulheres da 8 de Março juntaram-se depois à manifestação. Organizada por grupos de mulheres da Bélgica, disse-se que foi a maior manifestação em décadas. Desde os anos 60 não houve nenhuma grande manifestação de mulheres em Bruxelas no DIM, até à manifestação de 2006 da Karzar – “a campanha pela abolição de toda a discriminação de género contra as mulheres” iniciada pela 8 de Março.

As mulheres levavam cartazes e gritavam palavras de ordem de protesto contra a dupla opressão das mulheres – pelas crises económicas e também através da violação, violência e discriminação contra as mulheres. O eco do rufar de tambores reforçou o espírito militante partilhado pela maioria das mulheres participantes.

Alemanha – Bremen. Foi organizado no centro da cidade um protesto das mulheres iranianas e afegãs contra a opressão da mulher. Esta acção foi apoiada por alguns grupos alemães, bem como por um grupo estudantil de Bremen. Uma exposição de fotografia que descrevia a brutalidade do regime iraniano permitiu que as mulheres iranianas se envolvessem em muitas discussões com transeuntes. As pessoas foram muito encorajadoras, felizes por as mulheres iranianas, apesar de décadas de brutalidade religiosa e discriminação, não terem abandonado a sua luta e terem continuado a combater. A seguir a esta acção, teve lugar uma reunião convocada por um grupo de estudantes iranianos com a colaboração da Organização 8 de Março. O filme “O Ano Zero” [sobre a manifestação de mulheres a 8 de Março de 1979 no Irão em protesto contra o hijab obrigatório], youtube.com/watch?v=ZzvWLp6pfWU, foi mostrado e discutido, bem como o comunicado da Organização de Mulheres 8 de Março sobre o DIM. Houve uma viva discussão sobre se, no quadro da república islâmica, poderia haver uma reforma do regime islâmico no seu todo. Algumas pessoas achavam que poderia haver reformas, enquanto outras, incluindo as mulheres da 8 de Março, alegavam o contrário e diziam que a alteração das leis contra as mulheres não pode ter lugar no quadro da República Islâmica. Na reunião também emergiu uma discussão sobre um artigo referido por uma activista afegã da 8 de Março. O artigo era sobre a actual situação no Afeganistão e o papel que a religião está a desempenhar na interpretação das leis e da constituição, em particular das leis contra as mulheres. Ela também se referiu ao importante papel que as potências ocidentais estão a desempenhar na definição do regime do Afeganistão.

Canadá – Toronto. Um protesto apoiado por mais de 12 organizações e instituições radicais e revolucionárias foi convocado para o domingo de 7 de Março em Toronto. Esse protesto teve lugar na Praça Mel-Lesman em Toronto, com a participação de mais de 70 pessoas. A mensagem da 8 de Março lida por uma das suas activistas referia-se a alguns dos pontos mais cruciais da actual situação no Irão, em particular ao corajoso papel das jovens na recente insurreição popular iraniana. Explicava o papel que os chamados Verdes estão a desempenhar no movimento popular. Os seus esforços são focados em usar o movimento popular para salvar o sistema antimulheres. Também se referia ao papel que os imperialistas e as grandes potências estão a desempenhar e a tentar o seu melhor para colocarem o movimento popular ao serviço dos interesses dos imperialistas. A necessidade de derrubar o regime islâmico encerrava a mensagem. Foram lidos comunicados de outros grupos e organizações. Houve uma discussão sobre a situação e o papel das mulheres trabalhadoras, iniciada por uma das activistas do movimento operário. O programa também incluiu uma parte cultural. Uma poetisa árabe interpretou a sua obra “Eu sou um ser humano” e Mina, uma poetisa afegã interpretou a sua obra. Cantaram-se canções revolucionárias, entre as quais Karzar de Gisoo Shakeri, e a cantora veterana de voz forte, Feridoon Farahi, interpretou várias canções progressistas.

Uma interessante iniciativa da Organização 8 de Março em Toronto foi a representação de uma pequena peça de Anahita Rahmani, uma ex-presa política e moderadora nesse dia. A peça era com a voz de uma mulher iraniana que dizia “(...) eu lutei, eu fui encarcerada, eu fui torturada e mesmo assassinada. Lutei para enterrar a monarquia na esperança da liberdade e da igualdade, mas vocês roubaram todas as minhas lutas. Vocês atiraram-me para as profundezas da história, mandaram-me para o inferno, puseram um véu na minha cabeça e privaram-me dos meus mais elementares direitos (...), insultaram-me, chicotearam-me por cobertura inapropriada, usando as vossas leis islâmicas vocês deram aos homens um poder ilimitado para obterem o apoio deles. (...) Agora esta sou eu. Eu, o eu que se ergueu, esta é o eu que despertou, (...) e eu tenho consciência de que no Islão não há nada mais que escravidão e encarceramento (para as mulheres) e sei que não consigo obter nem sequer a menor das minhas reivindicações. (...) A minha libertação só pode ser obtida pela minha própria mão, com a nossa rebeldia unida e consciente, a minha libertação só pode ser obtida queimando o véu islâmico e todos os símbolos do hijab islâmico e obrigatório. Abaixo a República Islâmica do Irão e abaixo o hijab obrigatório.” À medida que ela tira o hijab e o queima, as pessoas juntam-se a ela a gritar “Abaixo o Regime Islâmico antimulher do Irão”.

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