Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 7 de Agosto de 2006, aworldtowinns.co.uk
Manifestações internacionais contra a agressão norte-americano-israelita
Uma segunda e maior vaga de manifestações contra Israel e os EUA varreu o Médio Oriente e todo o mundo nos últimos dias.
O centro da cidade de Beirute foi cenário de uma segunda efusão em massa em duas semanas. Em Bagdad, centenas de milhares de pessoas marcharam contra Israel e os EUA, numa acção organizada pelo Exército do Mahdi, de Moqtada Sadr, um clérigo xiita cujo apoio tem sido um importante pilar do governo de ocupação pró-EUA. O Cairo testemunhou uma segunda concentração ilegal e uma ainda mais invulgar manifestação pública teve lugar em Amã, na Jordânia. Os xiitas da Província Leste da Arábia Saudita, que raramente têm oportunidade de qualquer expressão pública neste reino fundamentalista sunita, também organizaram um protesto de massas. Na Cidade do Kuwait, muitos manifestantes levavam fotografias do Presidente venezuelano Hugo Chávez como censura a todos os governos árabes que, ao contrário de Chávez, se recusaram a chamar os seus embaixadores em Israel.
Foi noticiada uma outra manifestação na Cidade do Cabo, na África do Sul, onde os manifestantes pediram que Israel sofresse o mesmo tipo de sanções internacionais que foram impostas contra o governo do apartheid. Marchando frente ao Parlamento, os vários milhares de manifestantes exigiram ao actual governo sul-africano que rompa os seus laços estreitos com Israel. Em Bogotá, na Colômbia, vários milhares de pessoas, entre as quais alguns jovens libaneses e palestinianos, marcharam pelo Centro Internacional da cidade e fizeram uma concentração frente à embaixada israelita onde pintaram nas paredes palavras de ordem a favor dos palestinianos e enfrentaram a polícia.
Em Telavive, os manifestantes árabes e judeus pediram um cessar-fogo e que Israel deixasse imediatamente o Líbano. Algumas canções pediram aos soldados israelitas que desobedecessem às ordens e se recusassem a combater. À medida que o debate se desenvolve entre os judeus israelitas, vale a pena salientar que o conhecido académico Avi Shlaim, um professor universitário de Oxford que cresceu em Israel e serviu nas forças armadas sionistas, publicou uma coluna de opinião em que escarnece a “depravação moral” da chefia do exército israelita e conclui que Israel está a “agir como uma organização terrorista”.
Tem havido repetidos protestos na Escócia contra os voos militares norte-americanos que aí param para reabastecimento a caminho de Israel, levando abastecimentos militares. Os activistas contra a guerra montaram um acampamento no lado oposto ao aeródromo de Prestwick, usado para esse fim. A 7 de Agosto, na acção mais recente, sete pessoas foram presas depois de terem aberto um buraco numa cerca de segurança e subido a bordo de um avião militar norte-americano, dizendo que pretendiam revistá-lo à procura de armas com destino a Israel. Esses actos, embora simbólicos, expressam um sentimento muito difundido na Escócia e no resto da Grã-Bretanha sobre um assunto que se tornou um embaraço e um ponto cada vez mais doloroso para o governo Blair. Centenas de pessoas também se manifestaram no centro de Viena nesse dia.
Recebemos de Londres o seguinte relato em primeira mão:
Em Londres, a 5 de Agosto, o aparecimento de um grande número de pessoas para a manifestação de protesto contra a guerra no Líbano apanhou de surpresa toda a gente, tanto os organizadores como o governo. A expectativa geral tinha sido de que haveria 10 ou 20 mil pessoas, como na primeira manifestação de emergência realizada duas semanas antes. Em vez disso, pelo menos 50 ou 60 mil pessoas manifestaram-se nas ruas de Londres. Os jornalistas disseram que foi a maior manifestação da história britânica no mês de Agosto, a meio das férias de verão. Esse número foi alimentado por uma profunda consternação e ultraje pelas notícias da noite anterior sobre a morte de pessoas no Líbano, em particular as atrocidades cometidas em Qana, em que mais de 50 civis libaneses, muitos deles crianças, foram assassinados pelas bombas israelitas.
Inúmeros cartazes feitos à mão abordavam iradamente o primeiro-ministro britânico Tony Blair: quantas mais crianças têm de morrer? Uma enfermeira psiquiátrica de meia-idade disse que tinha participado em duas manifestações contra a guerra no Iraque, mas que então se tinha sentido optimista, como se “talvez a pudéssemos ter impedido”. Desta vez, ela sentia as coisas de forma diferente e tinha ficado com o coração pesado mas, depois de ter lido num relatório da agência Save the Children [Salvem as Crianças] que a maioria dos mortos civis no Líbano eram mulheres e crianças, sentiu que não tinha outra escolha senão participar com o marido e uma criança. Os manifestantes depositaram centenas de pares de sapatos de criança ao pé do Centopath, o monumento ao soldado desconhecido, perto da Downing Street [residência do primeiro-ministro], para mostrar ao povo da Grã-Bretanha o que o apoio do seu governo a Israel realmente significa.
Quase que se poderia ver a história colonial da Grã-Bretanha nas faces de quem assistia: um grande número de pessoas de países que iam do Médio Oriente à Ásia do Sul reflectiam o carácter diversificado de Londres, um legado do vasto ex-império da Grã-Bretanha – países que agora domina através do sistema neocolonial como parceiro menor dos EUA.
As pessoas de origens e convicções muito diferentes estavam unidas por uma profunda sensação de objectivo, de necessidade de unir um grande número de pessoas para deixarem uma poderosa acusação dos crimes de guerra que estão a ser cometidos pelos governos dos EUA, da Grã-Bretanha e de Israel. Isso podia ser visto entre as fileiras dos manifestantes e também na plataforma dos oradores. Pouco depois de um xeque islâmico do Líbano ter falado e apelado às pessoas de todo o mundo para saírem urgentemente em defesa da sua atormentada pátria, Walter Wolfgang tomou o microfone. Este reformado de 83 anos, sobrevivente do domínio nazi, fora fisicamente expulso da conferência anual do Partido Trabalhista e detido pela polícia ao abrigo da Lei de Prevenção do Terrorismo depois ter gritado uma única palavra, “nonsense”, quando Tony Blair ousou alegar que a Grã-Bretanha estava a ajudar os EUA a “levarem a democracia” ao Médio Oriente. Perante vibrantes aplausos, Wolfgang contou como se tinha juntado a vários outros judeus para participar num jejum frente à Embaixada de Israel para protestar contra a sua guerra. Pouco depois, um porta-voz dos Amigos da Al-Aqsa, um grupo ligado à Organização de Libertação da Palestina, tomou a palavra. Ele recordou como logo após o 11 de Setembro, George Bush tinha dito ao mundo que, ou estão connosco ou estão com os terroristas. Depois, o palestiniano avisou desafiadoramente Blair que se estar com os EUA e a Grã-Bretanha quiser dizer estar com a morte que hoje é infligida ao povo do Líbano, então “ouça-me com muito cuidado Sr. Blair – a maior parte de Londres escolherá os terroristas... porque é claro para toda a gente que os verdadeiros terroristas estão na Downing Street e na Casa Branca”.
Muitos dos oradores eram membros insatisfeitos da elite política do país, incluindo vários parlamentares do Partido Trabalhista que governa o país, que um após outro declarou a sua “vergonha de estarem no Partido Trabalhista hoje”. Uma das maiores ovações estava reservada a um antigo diplomata britânico, Craig Murray, que foi afastado de Embaixador britânico no Uzbequistão quando se recusou a fechar os olhos ao apoio que os EUA e a Grã-Bretanha estavam a dar ao cruel regime que governa o país a troco de lhes ser permitido a utilização do território uzbeque para operações militares. Vários oradores anteriores tinham pedido a Blair para cancelar as suas férias de verão para dar atenção à crise no Líbano. Murray mostrou claramente que não se deve ter nenhuma ilusão sobre o papel de Blair e que a única razão por que Blair estava no seu lugar não era para parar a invasão israelita, mas para assegurar que as coisas correriam da forma que o eixo EUA-Grã-Bretanha-Israel queria. Ele declarou então, perante um estrondo de aprovação, que se Blair quisesse prosseguir nesse caminho e aí continuar, havia um “quarto confortável à sua espera na cave do tribunal internacional de crimes de guerra em Haia”.
A raiva profundamente sentida pelo apoio do governo ao ataque israelita desencadeou uma intensa discussão sobre o que está por trás dele e sobre o que fazer. O slogan central da manifestação era “Cessar-fogo incondicional já!” Toda a gente queria a paragem imediata dos bombardeamentos israelitas, mas havia um desconforto perante a perspectiva de que em breve os israelitas pudessem querer eles próprios um cessar-fogo – só para defenderem os seus próprios interesses através de uma força multinacional no sul do Líbano liderada por países ocidentais. Também havia muita incerteza sobre o papel das Nações Unidas, com algumas pessoas a apelar à “Grã-Bretanha para se juntar à comunidade internacional na ONU” (ou “na União Europeia”), enquanto outros denunciavam a ONU no seu todo como nada mais que um “instrumento do domínio imperialista”. Em todo o caso, era generalizado o sentimento de que a guerra no Líbano estava ligada à do Iraque e às crescentes ameaças norte-americanas e britânicas contra o Irão e muitas pessoas usavam T-shirts e símbolos que diziam “Não Ataquem o Irão”. Quando a manifestação terminou, foram anunciadas inúmeras acções de menor dimensão junto à embaixada israelita e noutros locais.
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