Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 19 de outubro de 2015, aworldtowinns.co.uk

Israel numa violenta ofensiva

Palestino morto por soldados israelitas em Hebron a 26 de Outubro
Palestino morto por soldados israelitas em Hebron a 26 de Outubro (Foto: AP/Nasser Shiyoukhi)

O que está a acontecer agora em Israel não é uma situação de uma sociedade pacífica a defender os seus cidadãos contra um ataque. É uma ofensiva israelita contra os palestinos, com uma punição coletiva que é imposta a bairros inteiros e aos palestinos enquanto povo. Israel diz que está a proteger os “seus habitantes”, mas palestinos desarmados estão a ser atacados e mortos a uma escala muito mais vasta, como política oficial do estado israelita e de civis judeus armados. Se matar crianças e adultos desarmados é errado, então como é que os atos israelitas podem ser justificados ou tolerados?

Palestinos que apenas tiveram o azar de estar no sítio errado têm sido espancados e mortos na rua. Além disso, páginas internet palestinas e alguma comunicação social ocidental têm noticiado caso atrás de caso em que os soldados podem ter colocado uma faca perto do corpo de alguém que eles já tinham matado. Cerca de metade dos palestinos mortos até agora nem sequer foram acusados de qualquer ataque; a maioria estava a manifestar-se. Em alguns casos, foram feridos ou mortos simplesmente por “parecerem” palestinos. Um judeu foi apunhalado por outro que o confundiu com um “árabe”. Um eritreu de 29 anos, que também foi “erradamente identificado”, foi atingido a tiro por um soldado e depois espancado até à morte por uma multidão que gritava “Morte aos árabes”.

A desculpa é o facto de alguns palestinos terem usado chaves de fenda e facas de cozinha contra soldados, polícias e colonos pseudo-“civis” armados com armas automáticas e, em alguns casos, terem atacado aleatoriamente adultos e crianças judias. Mas a atual vaga de assassinatos israelita nada tem a ver com a proteção de vidas humanas. Israel mata adultos e crianças palestinas sem qualquer justificação, quer eles estejam armados ou não.

Manifestantes palestinos durante os recentes confrontos com as forças israelitas na Cisjordânia
Manifestantes palestinos durante os recentes confrontos com as forças israelitas na Cisjordânia
(Foto: Musa Al-Shaer/France-Presse/Getty Images)

Que vidas estavam a ser protegidas quando um míssil israelita destruiu uma casa em Gaza a 11 de outubro, matando a grávida Nour Rasmi Hassan e a filha bebé dela? As autoridades israelitas alegaram que tinham como alvo uma “fábrica de rockets” do Hamas na vizinhança, mas ultimamente não foi disparado nenhum rocket a partir de Gaza e tem havido notícias de que o Hamas está a impor uma trégua de ações armadas contra Israel.

Que vidas estavam a ser protegidas quando as tropas israelitas dispararam do outro lado da barreira que circunda Gaza, matando dois meninos desarmados, Marwan Barbakh de 13 anos e Khalil Othman de 15, e ferindo sete outras pessoas que participavam num protesto a 10 de outubro?

Que vidas estavam a ser protegidas quando um colono israelita que tinha uma espingarda de ataque disparou e matou Fadel Qawasmeh, de 18 anos? Ele tinha acabado de atravessar um posto de controlo para chegar a casa em Hebron, uma cidade da Cisjordânia cujos habitantes palestinos estão virtualmente encarcerados em nome da proteção de alguns colonatos judeus ilegais cujo objetivo declarado é tomarem todas as casas e terras palestinas. Em vez de prenderem ou sequer desarmarem o atirador, os soldados deixaram os colonos distribuir doces para celebrarem.

Se Israel está a tentar proteger vidas, porque é que quando um atacante, alegado ou real, é capturado e desarmado, ele é frequentemente executado nesse mesmo local? Porque é que os jornalistas estão a ser visados e porque é que as pessoas que estão a filmar os incidentes são violentamente reprimidas, como o operador de câmara francês brutalmente espancado depois de se ter identificado?

Uma jovem palestina de 17 anos, Dania Irshaid, foi morta a 25 de outubro em Hebron pelo exército israelita, o qual alegou que ela teria brandido uma faca, o que tem sido negado por várias testemunhas
Uma palestina de 17 anos, Dania Irshaid, foi morta a 25 de outubro em Hebron pelo exército israelita, o qual alegou que ela teria brandido uma faca, o que tem sido negado por várias testemunhas (Foto: AAPs)

Porque é que um bairro palestino em Jerusalém Oriental e outros noutras cidades foram encerrados, como se fossem uma nova versão do Gueto de Varsóvia estabelecido pelos nazis para os judeus, com o pretexto de proteger vidas, enquanto permitem que bairros de colonos judeus vomitem bandos de homens armados que cantam “Morte aos árabes” e que vão à procura de vítimas?

Porque é que os soldados, os colonos e outros cidadãos judeus israelitas podem matar palestinos com total impunidade, apoiados pela força militar conjunta de quase todas as potências ocidentais? Porque é que algumas pessoas estão a usar chaves de fenda e facas face a isto?

A atual insurreição que começou em Jerusalém Oriental e noutras zonas palestinas no norte de Israel, propagando-se à Cisjordânia e depois a Gaza, não surgiu a partir do nada. As autoridades ocidentais e a sua comunicação social gostam de dizer que a questão é a suspeita palestina de que Israel planeia afastar os muçulmanos da mesquita de Al Aqsa, construída sobre as ruínas do igualmente sagrado antigo Monte do Templo judeu. Grupos de colonos apoiados por personalidades governamentais têm ameaçado fazer exatamente isso. Embora os rabis autorizados argumentem que os judeus estão proibidos de aí rezar por razões religiosas, não seria a primeira vez que o Sionismo ajustava a tradição religiosa por razões políticas. Mas isto não é essencialmente um conflito de religiões.

Jovens palestinos enfrentam as forças israelitas num posto de controlo na Cisjordânia a 7 de outubro
Jovens palestinos enfrentam as forças israelitas num posto de controlo na Cisjordânia a 7 de outubro de 2015 (Foto: Reuters)

As comunidades palestinas começaram a efervescer no verão de 2014 quando os colonos judeus agarraram em Mohammad Abu Khdeir, de 16 anos, o torturaram e o queimaram vivo. Eles disseram que tinha sido em vingança pelo sequestro e morte de três adolescentes de um colonato judeu na Cisjordânia pouco antes. Os dois palestinos acusados de matar Eyal Yifrach, Naftali Fraenkel e Gilad Shaar, foram posteriormente mortos pelas forças de segurança israelitas. As casas das famílias deles foram destruídas como castigo, embora nunca ninguém tenha sequer sido levado a julgamento. Um outro palestino foi condenado a uma longa sentença de prisão por cumplicidade. Cerca de 35 mil soldados e civis israelitas, alguns fotografados com armas, “gostaram” de uma página do Facebook chamada “O Povo de Israel Pede Vingança”.

Dos seis homens presos pela morte de Khdeir, três foram libertados, embora a polícia tenha dito que eles eram suspeitos de envolvimento na morte. Os outros três, que confessaram, estão na prisão à espera de julgamento. Espera-se que eles venham a declarar-se não culpados por razões de loucura relacionadas com as suas convicções religiosas. O governo não destruiu as casas deles, não puniu as famílias deles, etc.

O bairro de Khdeir é um dos vários bairros de Jerusalém Oriental que tem visto cada vez mais protestos e luta contra a polícia e os colonos. Jerusalém Oriental, que antes era maioritariamente palestina e onde também viviam judeus que já lá estavam há muito tempo, tem visto as famílias palestinas a ser afastadas por novos colonos. Por exemplo, um dos bairros é quase inteiramente habitado por pessoas recentemente chegadas dos EUA. Os bairros palestinos, tanto os mais pobres como os melhores, estão cercados por muros e vedações, literalmente sob cerco dos soldados e dos colonos.

Um manifestante ergue uma bandeira da Palestina enquanto outros se protegem durante um ataque do exército israelita no posto de controlo de Qalandia, próximo de Ramallah
Um manifestante ergue uma bandeira da Palestina enquanto outros se protegem durante um ataque do exército israelita no posto de controlo de Qalandia, próximo de Ramallah (Foto: Reuters)

Dado que Israel anexou toda a Jerusalém logo em 1967, os palestinos aí nascidos são teoricamente cidadãos israelitas. Têm direito legal a viajar em Israel, ao contrário dos palestinos da Cisjordânia e de Gaza, embora lhes sejam negados, mesmo formalmente, importantes direitos desfrutados pelos israelitas judeus. Para muitos deles, os seus alegados direitos só tornam ainda mais amarga a realidade de discriminação e violência.

Se as casas deles são incendiadas, os carros dos bombeiros israelitas não vêm salvá-las. O lixo deles é um problema deles. Novas escolas estão fora de questão. Todos os anos, mais casas e outras estruturas palestinas são deitadas abaixo por terem sido construídas sem uma licença que é quase impossível obter. Não é incomum um judeu estrangeiro aparecer à porta de alguém – acompanhado pela polícia – com documentos que o declaram dono legítimo da casa, porque alguém, de alguma forma, disse que vendeu o apartamento ou o edifício aos antepassados dele.

Agora mais que nunca, os palestinos de todas as classes sociais em Israel e nos outros territórios ocupados têm de reconhecer que podem ser mortos a qualquer momento, com total impunidade, e que podem esperar que a dignidade deles seja violada, para além da ocupação por Israel da maior parte da própria Palestina.

Muitos daqueles que protestam, combatem a polícia e os soldados ou que de alguma forma estão dispostos a morrer em vez de aceitarem esta situação, não eram nascidos quando os Acordos de Oslo foram assinados há duas décadas, altura em que Israel concordou em negociar com a liderança palestina. Desde então, a atual situação tornou-se ainda mais insuportável para os palestinos em todas as terras ocupadas pelos sionistas em 1947 e 1967. A última década de paz relativa na Cisjordânia trouxe ainda mais colonos que tomaram cada vez mais terras que eles juram que nunca entregarão, mais mortes pela policia e pelo exército para “protegerem” colonos armados impunes e suprimirem os direitos políticos palestinos, e mais desespero. Gaza foi transformada numa prisão ao ar livre cujos habitantes são perpetuamente castigados sem nenhuma outra justificação a não ser a alegação de Israel de que a sua segurança depende do sofrimento deles. Os palestinos de Jerusalém Oriental e outros lugares em Israel, supostamente os mais privilegiados, estão agora entre os lutadores mais determinados.

Se os palestinos que são cidadãos e residentes de Israel são tratados desta forma, como é que poderá a chamada “solução dois estados”, um “estado” palestino minúsculo, fragmentado e impotente à sombra de Israel, ser algo melhor?

Uma razão pela qual as pessoas se agarram a esta “solução” é porque é difícil imaginar como é que o poder opressivo do Sionismo pode ser derrotado enquanto Israel desempenhar um papel essencial para os EUA no Médio Oriente. É o único aliado completamente fiel e rufião dos EUA na região, precisamente porque o estado israelita e a sociedade privilegiada sionista não poderiam sobreviver sem o apoio dos EUA e de outras potências imperialistas. Isto coloca os palestinos numa situação muito difícil onde é necessário um novo pensamento estratégico no meio de uma situação regional que nunca foi tão instável e desfavorável aos EUA, que a têm dominado há décadas.

As pessoas que querem um Médio Oriente muito diferente, e um mundo muito diferente, e todas as pessoas que ousam acreditar que os interesses israelitas e o projeto sionista não são superiores aos direitos palestinos, precisam de ajudar a denunciar o que realmente está a acontecer e de se colocarem ao lado da justiça.

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