Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 18 de Outubro de 2004, aworldtowinns.co.uk

EUA preparam holocausto em Falluja

Neste preciso momento, os EUA estão a preparar-se para o que quase abertamente anunciam irá ser um massacre – uma solução final para o seu problema de Falluja. Pediram à Grã-Bretanha para “preencher a retaguarda” das suas tropas, uma vez que não confiam nos seus próprios soldados fantoches iraquianos para cobrirem a sua retaguarda. Mas também querem assegurar-se que as mãos britânicas também estarão cobertas de sangue. Isso foi vigorosamente denunciado na manifestação em Londres a 17 de Outubro com que 70 000 pessoas terminaram uma reunião do Fórum Social Europeu, uma marcha em que a oposição a esse crime premeditado foi o tema central. Os amigos do povo iraquiano em todo o mundo, bem como os seus inimigos, têm os seus olhos virados para Falluja.

Na última semana, ao mesmo tempo que os representantes da shura (conselho) de combatentes de Falluja se reuniam para negociações com os EUA, os ataques aéreos continuavam a fazer as suas vítimas diárias. Na realidade, os Marines dos EUA prenderam os negociadores e outras autoridades locais e impediram-nos de tirar as suas famílias da cidade. De acordo com a Al-Jazeera e outros órgãos de comunicação social, os soldados norte-americanos impediram a saída a muitos refugiados. E os aviões norte-americanos bombardearam vezes sem conta carros que fugiam com famílias completas, o mais recente dos casos a 16 de Outubro. Com efeito, os EUA estão a manter reféns os habitantes de Falluja. Os norte-americanos esperam que a ameaça de morte aos seus familiares force o povo e faça com que os combatentes baixem as suas armas.

Os EUA adoptaram aquilo que os seus funcionários chamam de estratégia “da cenoura e da vara”. Seria mais verdadeiro descrever isso como “bater-lhes com uma marreta, dar-lhes a esperança de negociações e logo bater-lhes novamente”. Um correspondente do The New York Times (a 12 de Outubro) escreveu que “altos funcionários da Administração, do Pentágono e das forças armadas disseram que a campanha aérea foi, em parte, projectada para apresentar uma escolha severa aos habitantes de Falluja, especialmente aos que pudessem estar a apoiar os insurrectos iraquianos ou os terroristas estrangeiros”.

O primeiro-ministro iraquiano pró-EUA, Iyad Allawi, descreveu essa escolha do seguinte modo: “Nós pedimos aos habitantes de Falluja para entregarem Zarqawi e o seu grupo. Se não o fizerem, estamos prontos a avançar com operações militares em Falluja.” Mas toda essa conversa sobre Abu Musab al-Zarqawi e o seu grupo não passa de um pretexto. Mesmo que capturá-lo fosse realmente tudo o que os EUA queriam, um membro da shura de Falluja perguntou: como podem os norte-americanos esperar que os habitantes façam algo que eles próprios não conseguem fazer? O negociador detido pelos Marines para “interrogatório” comparou a questão de Zarqawi às mentiras norte-americanas e britânicas sobre as armas de destruição em massa de Saddam. Independentemente de qual possa ser a verdade sobre o grupo de Zarqawi, o que os ocupantes realmente querem fazer em Falluja é o que eles também queriam quando invadiram o Iraque: a rendição total e com todas as condições que os ocupantes decidam impor aos seus habitantes.

Seria inútil discutir agora a questão do jordano Zarqawi e da sua organização fundamentalista islâmica, que os EUA afirmam estar baseada em Falluja. Neste momento, é suficiente recordar que, quando o Ocidente os apoiava na guerra contra a ocupação soviética do Afeganistão, os EUA o consideravam a ele e aos como ele de “idealistas”. (New York Times, 14 de Outubro).

O grupo é controverso entre os habitantes da cidade, segundo jornalistas que falaram em Bagdad e na própria cidade com representantes da shura e outros habitantes de Falluja. Esses jornalistas dizem que a resistência armada está a ser feita por uma coligação de forças. Uma vez que as próprias autoridades dos EUA insistem que estão a enfrentar milhares de guerrilheiros em Falluja, é ridículo chamá-los de “terroristas”. “Os vários clãs da cidade têm as suas próprias milícias mas parecem estar todos a trabalhar em conjunto para expulsar as forças dos EUA”, disse um jornalista local da BBC. “Não tenho conhecimento de nenhum combatente estrangeiro em Falluja... Noventa e nove por cento dos combatentes daqui são de Falluja.” Mas como dizia um habitante, já que os EUA se vangloriam de terem gente de outros países a lutar ao lado do seu exército, por que razão não pode Falluja ter a sua própria “coligação dos que querem”?

“As pessoas acreditam que estão a ser visadas porque infligiram pesadas baixas às forças dos EUA durante o cerco do início deste ano”, continuou o jornalista. “Dizem que os norte-americanos estão a atacá-los por causa do seu orgulho ferido, que são motivados pela vingança.”

Em duas ocasiões, os soldados dos EUA dispararam sobre multidões de pessoas que se manifestavam contra a sua presença, logo após terem chegado à cidade em Abril de 2003. Quando quatro mercenários norte-americanos foram mortos em Abril passado, a artilharia, os aviões e os atiradores dos EUA massacraram cerca de 600 habitantes antes de as pessoas terem expulsado os soldados. Desde então, os EUA têm bombardeado casas e lugares públicos quase diariamente. Encheram de crianças, mulheres e velhos o hospital de Falluja e o cemitério da cidade, para além dos jovens que, segundo a definição norte-americana, são o inimigo. As autoridades hospitalares, os jornalistas e próprios habitantes de Falluja confirmaram repetidamente essas atrocidades. Quando uma festa de casamento foi aniquilada a semana passada, as autoridades norte-americanas insistiram que as suas bombas guiadas por satélite acertaram no alvo preciso. Quando as bombas dos EUA destruíram o mais popular restaurante de kebabs da cidade, as autoridades norte-americanas disseram uma vez mais que o tinham feito deliberadamente porque os “terroristas” poderiam lá ter comido. A única conclusão razoável é esses massacres de civis não são meros subprodutos ou “danos colaterais”, mas sim o alvo principal desta campanha.

Apesar de toda a sua conversa sobre a “soberania iraquiana”, os EUA ainda não envolveram nenhum dos seus soldados fantoches iraquianos. Pelo contrário, pediram aos britânicos para enviarem o regimento Black Watch (conhecido por reprimir o povo na ocupação da Irlanda do Norte pela Grã-Bretanha) para substituir os soldados norte-americanos em Latifiya e Iskandariya, duas cidades a sul da capital. Isso libertaria os Marines dos EUA aí estacionados para a concentração em massa de forças que se preparam para o assalto final a Falluja. Essa unidade britânica esteve até agora em Baçorá e evitou as batalhas mais violentas a norte. Ansiosas por satisfazer a opinião pública contra a guerra, as autoridades britânicas negaram que os seus soldados seriam enviados para a própria cidade de Falluja. Tal como os líderes de Itália, da Polónia e do Japão, que também enviaram tropas contra a vontade dos seus povos, eles falam como se só os soldados norte-americanos estivessem em guerra, enquanto o resto dos ocupantes estaria a trabalhar em projectos humanitários. Essa mentira foi vigorosamente denunciada na manifestação de Londres pelas mães de dois soldados britânicos mortos recentemente.

Latifiya e Iskandariya são elas próprias importantes centros de resistência onde os ocupantes consideram toda a população local como inimiga. E também são os principais pontos de controlo do acesso a Falluja a partir do Iraque central e meridional. Alguns relatórios dizem que pessoas vindas de todos os cantos do país estão a chegar a Falluja para combater.

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