Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 21 de Abril de 2003, aworldtowinns.co.uk

Cenas da guerra popular: Um incidente numa aldeia nepalesa

O governo do Nepal anunciou um cessar-fogo a 29 de Janeiro, o segundo desde 2001. Em reconhecimento da declaração de intenções do governo de procurar resolver o conflito através de negociações, o Partido Comunista do Nepal (Maoista), que dirige a Guerra Popular há sete anos, também emitiu uma declaração pedindo um cessar-fogo e apelando a que o povo do Nepal se mobilize politicamente e lute por uma mesa-redonda de discussão que envolva todos os partidos políticos e instituições, pela formação de um governo interino e pela eleição de uma assembleia constituinte. Há algum tempo, ambos os lados tinham acordado um “código de conduta”, no qual o governo se comprometia a não atacar nem a usar a força militar para esmagar os direitos do povo, em troca da suspensão das operações do Exército Popular de Libertação (EPL). A seguinte notícia é da edição de 8 de Abril do semanário Janadesh, de Katmandu, que reapareceu após o cessar-fogo. Antes, esse jornal tinha sido encerrado e o seu editor assassinado.

Desde o início do cessar-fogo que temos recebido constantemente informações que o Exército Real do Nepal (ERN) tem violado o código de conduta, o qual é seguido estritamente pelo EPL.

De acordo com informação que acabámos de receber sobre um incidente que aconteceu há algum tempo atrás, o Segundo Batalhão Satbaria do EPL organizou uma comemoração do aniversário da Guerra Popular a 28 de Fevereiro, em Dullu, no Nepal ocidental. Na manhã seguinte, o Exército Real, que pensava que o EPL tinha abandonado a aldeia, chegou às 9 da manhã. Cerca de 150 soldados do ERN cercaram o local da comemoração, disparando as suas espingardas ao acaso. Começaram a saquear, a bater nas pessoas e a queimar os seus haveres. Mas o ERN tinha-se enganado na sua avaliação da situação. Embora cautelosamente, para não violar o código de conduta que se seguiu ao cessar-fogo, nem mesmo abrindo fogo em autodefesa, o EPL tinha cercado o ERN. Por essa altura o ERN já tinha ferido vários aldeões.

Os maoistas quiseram falar com os soldados do ERN e fazer com que deixassem a aldeia. O presidente de uma organização revolucionária de estudantes, Kaman Singh Basnet, foi falar com eles. Os soldados agarraram-no e começaram a bater-lhe. Exigiram saber quem era. Basnet respondeu que era um dirigente estudantil e que queria falar com eles. Os seus captores responderam que as negociações eram apenas a alto nível e que não era suposto que os soldados dialogassem com os maoistas. Depois disso, Basnet disse-lhes que se tinham intenção de lutar, que estavam cercados pelo EPL e nenhum deles sairia vivo. Os soldados decidiram levá-lo a falar com um comandante do ERN. O ERN enviou então uma equipa para negociar com os maoistas. O comandante da companhia do EPL, Camarada Jokhim, e outros, falaram com o ERN. Finalmente, acabaram por persuadir os homens do ERN a devolver todos os bens saqueados e a pedir perdão aos aldeões.

Por alguma razão, a equipa do ERN começou a gritar “Lal salaam!” (saudação vermelha!) aos combatentes do EPL e a apertar-lhes as mãos. O comandante do ERN ficou furioso ao ver os seus homens a fazer perguntas e a ouvir as explicações sobre a Guerra Popular e sobre o Exército Popular de Libertação. Gritou-lhes: “Rapazes! Se vocês ficarem a falar com eles 20 ou 25 minutos, também se tornarão comunistas! Temos de partir já.” E partiram. Mas os soldados do ERN despediram-se acenando com as mãos até desaparecerem ao longe.

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