O seguinte artigo foi publicado no sítio do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (a 26 de setembro de 2022 em inglês em revcom.us/en/women-iran-have-stood-people-iran-are-raising-their-heads-and-fighting-back-against-batons-and e a 28 de setembro de 2022 em castelhano em revcom.us/es/las-mujeres-de-iran-se-han-puesto-de-pie-el-pueblo-de-iran-esta-levantando-la-cabeza-y-esta).
As mulheres do Irão levantaram-se! O povo do Irão está a erguer a cabeça e a combater os bastões e as balas do regime iraniano! Temos de estar ao lado deles e apoiar a sua luta!
Libertar a fúria das mulheres como força poderosa para a revolução!!
Dos Comunistas Revolucionários (Revcoms)
26 de setembro de 2022
Protestos justos, corajosos e desafiadores estão a espalhar-se pelo Irão. Só no sábado [24 de setembro] mais de 80 cidades revoltaram-se, com mulheres e homens com nada mais que punhos, paus e um ódio à opressão a enfrentar brutais porcos policiais antimotim e fanáticos religiosos armados com bastões, gás lacrimogéneo e armas. Estes protestos têm crescido, intensificado e espalhado a todas as zonas do país, enfrentando uma forte e violenta repressão por parte das autoridades armadas da teocrática e opressora República Islâmica do Irão (RII). Vão ao vosso telemóvel, façam uma busca por “revolta no Irão” e vejam as imagens para começarem a ter uma ideia deste corajoso e alegre desarrolhar do povo oprimido do Irão.
Agora interroguem-se: O que pode ter causado uma revolta tão feroz e corajosa?
Há décadas que as mulheres no Irão são obrigadas a cobrir os corpos e os cabelos delas com hijabs*, como se a sua própria existência fosse algo para ser escondido, confinado e controlado... como se devessem ter vergonha da sua própria existência humana... tudo sob os ditames das autoridades religiosas islâmicas.
E quando elas ousavam desafiar isso? Então eram abordadas nas ruas pela chamada “polícia da moralidade”, espancadas e/ou detidas, e às vezes enviadas para “reeducação”. Sempre houve resistência contra isto, mas este verão viu a resistência tornar-se cada vez mais pública, desafiadora e organizada. A 13 de setembro, a polícia prendeu Mahsa Amini, de 22 anos, por estar a usar o hijab de maneira “inapropriada” e quando, três dias depois, ela apareceu morta, começaram a surgir fotos do corpo dela nos cuidados intensivos, violentamente espancada, expondo a mentira da polícia de ter morrido de “ataque cardíaco” — e isto finalmente foi demasiado.
Dezenas de pessoas foram confirmadas mortas nestes confrontos com as forças de segurança e a comunicação social tem relatado que este número é abaixo do real. Apesar disso, as pessoas chegaram a um ponto em que estão dispostas a morrer pela justiça. Este é o NOSSO povo a dançar sobre as chamas. Este é o NOSSO sangue a escorrer pelas ruas. Estes são os NOSSOS corações, a bater com o desafio da libertação.
Três Pontos Chave
UM: Esta revolta massiva contra a dominação teocrática medieval das autoridades religiosas é justa e tem que ser apoiada por todos os que buscam um mundo melhor. Todas as tentativas de repressão por parte da RII têm que contar com a nossa oposição.
Como declarou o Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista) no seu comunicado inicial sobre estes protestos, “O hijab obrigatório e o assassinato de mulheres: ferramentas chave da fascista República Islâmica do Irão para estrangular toda a sociedade” (inglês/castelhano): “O assassinato de mulheres como Mahsa Amini é uma necessidade existencial para a República Islâmica. Derrubar este regime também é uma necessidade existencial para as mulheres e para a libertação de todos os oprimidos e explorados na sociedade. O caráter fascista religioso da República Islâmica está encarnado na repressão das mulheres que não cedem às relações de servilismo por ela impostas.”
DOIS: Esta revolta massiva abre possibilidades reais para derrubar o regime teocrático, e para milhões de pessoas coloca-se agudamente a questão do que será necessário fazer para finalmente se libertarem. É extremamente positivo, precioso e favorável para o povo do Irão e para o mundo que, num momento como este, exista o Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista), que se baseia no novo comunismo de Bob Avakian. O PCI(MLM) está a levar a cabo, nas suas próprias palavras, “a luta para erradicar todas as formas de opressão e exploração através da revolução comunista e do estabelecimento da Nova República Socialista do Irão”. Estes camaradas definiram as especificidades desta nova sociedade no documento Constituição para a Nova República Socialista do Irão. Encorajamos todos a irem ao sítio revcom.us para lerem e divulgarem os seus comunicados sobre esta recente insurreição, incluindo “Já começou o enterro do hijab obrigatório, o enterro da integração da religião com o estado! Terminemo-lo!”, e apoiarem os seus esforços para fazer nascer e liderar o que é necessário.
Uma característica marcante e definidora do PCI(MLM) e do novo comunismo de Bob Avakian é uma profunda análise de como a opressão das mulheres está entretecida no sistema capitalista-imperialista, e como a luta pela libertação das mulheres e contra todas as formas de opressão patriarcal é uma força motriz da revolução. A luta das mulheres para se libertarem dos grilhões da tradição não é algo que esteja afastado da revolução — é uma parte fundamental, uma força motriz, tanto antes como depois da revolução, do processo mundial de emancipação de toda a humanidade e de criação de um mundo livre de toda a exploração, opressão e divisões sociais antagónicas.
TRÊS: Joe Biden, como principal representante do imperialismo norte-americano e no topo do sistema do capitalismo-imperialismo que impõe estas relações de opressão, declarou na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque: “Hoje estamos com os corajosos cidadãos e as corajosas mulheres do Irão que neste momento se estão a manifestar para garantir os seus direitos básicos.”
Isto é um disparate completo e absoluto, mas também é sinistro.
Primeiro, quanto ao disparate: Eduque-se sobre a verdadeira realidade do que os EUA têm feito no Irão e ao povo iraniano. De 1953 até hoje, a linha de fundo que tem marcado a atuação norte-americana em relação ao Irão têm sido as tentativas, de uma forma ou de outra, de dominar o povo iraniano e os recursos do Irão ao serviço dos interesses imperiais dos EUA e para restringir os seus rivais imperialistas. Isto tem assumido muitas formas ao longo dos anos, desde organizar violentos golpes de estado a instalar fantoches brutais, desde fomentar guerras a impor “sanções” que puniram e torturam o povo do Irão, e as pessoas devem ir a nosso sítio revcom.us para terem um sentido mais completo disto, incluindo no novo artigo “A corajosa revolta no Irão: Como é que as coisas chegaram a este ponto? Será que os EUA têm alguma coisa a ver com isso?” (inglês/castelhano). As declarações de Biden não são mais que uma parte das longas décadas de tentativas norte-americanas de enfraquecer o regime e tornar o Irão, e todo o Médio Oriente, subserviente às necessidades e planos norte-americanos. E o antagonismo do regime iraniano para com os EUA não é a atuação de um governo que defende a libertação, mas a de um gangster dos níveis mais baixos a lutar por território contra o grande padrinho mafioso. Nem os imperialistas norte-americanos nem os teocratas islâmicos devem ser apoiados; temos que nos opor a ambos.
Quanto ao “apoio às mulheres”, não é preciso olhar mais longe do que para a Arábia Saudita, o fiel aliado dos EUA no Médio Oriente, que é tão misógino e repressivo como o Irão. Na verdade, não é preciso olhar mais longe do que para os próprios EUA, onde Biden e os Democratas tentam incessantemente uma conciliação com o Partido Republicano teocrata, cristão fascista e ilegalizador do aborto.
E agora a parte sinistra. A declaração de Biden é sinistra precisamente porque os EUA consideram o Irão como uma espinha na sua garganta e muito possivelmente irão usar não apenas a pressão económica e diplomática, mas outras formas de intervenção, incluindo trabalharem através de e com Israel, para subverter a luta do povo iraniano e restaurar uma dominação norte-americana total. Não devemos permitir que estes imperialistas pervertam esta luta para os seus próprios fins reacionários.
A questão chave é: o povo iraniano levantou-se. Ele precisa e merece o nosso apoio. E como parte fundamental disso, precisamos de nos envolver e ajudar a divulgar a notícia e o significado desta luta, bem como os comunicados e documentos do Partido Comunista do Irão (MLM), que luta hoje pela libertação das mulheres iranianas, como parte do processo global da revolução socialista.
* O código religioso que regula as roupas femininas e que o Irão centra no véu obrigatório na cabeça e num “vestuário modesto” (cobrindo os braços e as pernas).