Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 16 de novembro de 2018, aworldtowinns.co.uk
Alemanha: Figuras do mundo da arte tomam posição contra a “renacionalização da cultura”
O último mês viu o surgimento de um poderoso e apaixonado movimento entre milhares de artistas e outras figuras e instituições da cultura na Alemanha contra o “nacionalismo alemão”. Em oposição a isto, muitos adotaram o que chamam de “bandeira dos imigrantes”, as mantas de salvamento de cores brilhantes douradas e prateadas que são fornecidas às pessoas resgatadas no mar.
Isto é uma importante contracorrente à legitimação da política fascista que está em curso na Alemanha desde a entrada para o Bundestag (parlamento) do novo partido fascista, AfD (Alternativa para a Alemanha), incluindo através das extremas posições nacionalistas que estão a ser tomadas pelos principais políticos e dirigentes da coligação governamental do país liderada por Angela Merkel.
Muito do debate político recente tem-se centrado no Ministro do Interior Horst Seehofer, um reacionário extremo toda a vida (há duas décadas, votou contra uma lei que proibia os homens de estuprar as próprias mulheres) que defendeu os motins anti-imigrantes de inspiração neonazi ocorridos em setembro em Chemnitz. Mais de 8700 artistas, curadores, proprietários de galerias de arte e outras pessoas assinaram uma petição a exigir a demissão dele, chamando “ultrajante” e “provocadora, retrógrada e indigna para os seres humanos” à posição dele contra os imigrantes. O comunicado dizia que ele e outros como ele partilham uma grande parte da culpa pela ascensão da AfD. (Posteriormente, Seehofer demitiu-se, não em resposta à pressão vinda de baixo, mas como parte das tumultuosas e complexas manobras entre os partidos tradicionais provocadas pelo sucesso eleitoral da AfD. O parceiro rival dele na coligação governamental, a Chanceler Angela Merkel, anunciou que se iria afastar do cargo.)
Especialmente ao longo do último ano, os fascistas têm visado várias instituições culturais, por vezes violentamente. Em outubro, a Fundação que dirige o Bauhaus Dessau, o edifício que albergou a mais famosa escola de artes da Alemanha até ter sido encerrado em 1933, num dos atos inaugurais de repressão do regime nazi, cancelou um concerto televisionado já agendado por um grupo de punk rock antifascista. Isso foi uma capitulação às exigências do partido de Seehofer e dos fascistas de rua que ameaçaram repetir uma ação neonazi de 2017 à frente do edifício. Uma petição iniciada por uma publicação de arquitetura foi assinada por uma centena dos mais proeminentes arquitetos, artistas, diretores de museus e outras personalidades da Europa. Eles disseram que a rendição da Fundação — com o pretexto de querer ser considerada “apolítica” — é um perigo alarmante para a cultura em toda a Europa, e salientam que a decisão original da Bauhaus de se apresentar como “apolítica” face ao nazismo não a salvou quando os nazis chegaram ao poder.
Depois disso, algumas das principais organizações culturais de Berlim — entre as quais teatros, galerias de arte e a agência responsável pelos museus da cidade — emitiram um comunicado conjunto que começa com: “Como criadores de arte e cultura na Alemanha, não estamos acima das coisas. Pelo contrário, temos ambos os pés firmemente no chão — no próprio terreno sobre o qual foi cometido um dos piores crimes do estado contra a humanidade.” O comunicado tem a data de 9 de novembro, um dia em que os nazis de hoje comemoram o aniversário da Kristallnacht, a “Noite das Vidraças Partidas” em 1938 em que os nazis levaram a cabo ataques a sinagogas e lojas judaicas, anunciando o genocídio dos judeus. Ao condenarem os ataques às instituições culturais vistas como agentes de uma visão da sociedade baseada no pluralismo e na tolerância, o comunicado continua dizendo que ameaças e ataques físicos ainda mais perigosos à “liberdade da arte” são uma tentativa de criar uma “renacionalização da cultura” (https://dievielen.de/erklaerungen em alemão ou https://dievielen.de/en/erklaerungen em inglês).
Compromissos similares de construção e apoio a ações contra os atuais herdeiros do regime nazi foram emitidos em Dusseldorf, Hamburgo, Frankfurt e Darmstadt.