No âmbito da Semana de Indignação contra os assassinatos policiais, o sábado, 13 de Dezembro, assumiu grandes proporções. O seguinte artigo é uma actualização do sítio internet do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (revcom.us/a/365/december-13-tens-of-thousands-march-across-the-united-states-against-police-murder-en.html) sobre as acções desse dia. Acrescentámos no final uma actualização do mesmo sítio internet sobre um evento ocorrido em Brooklyn no domingo anterior à campanha. As fotos incluídas também são reproduzidas do sítio do jornal.
13 de Dezembro: Dezenas de milhares de pessoas manifestam-se em todos os Estados Unidos contra os assassinatos policiais
(Actualizado a 16 de Dezembro de 2014 no sítio internet revcom.us)
No sábado, 13 de Dezembro, dezenas de milhares de pessoas convergiram para Washington, DC, para a “Manifestação Nacional Justiça Para Todos”. Os protestos também marcaram o dia de dezenas de outras cidades em todo o país, incluindo dezenas de milhares de pessoas na Cidade de Nova Iorque. Outras cidades onde houve protestos foram Los Angeles, Chicago, São Francisco-Oakland, Houston, Boston e outras. Também houve uma grande presença policial nestes protestos e relatos de múltiplas prisões em Chicago, Boston, Houston e Oakland.
Em Washington, DC, pais e outros familiares de pessoas mortas pela polícia alinharam-se à frente do palco. Na Cidade de Nova Iorque, a manifestação começou às 2h da tarde em Manhattan e ainda estava em movimento às 11h da noite em Brooklyn, depois de ter atravessado a Ponte de Brooklyn.
Publicamos abaixo os relatos iniciais desse dia em algumas dessas cidades. Fique atento a mais relatos em revcom.us.
Washington, DC
De um correspondente:
Mais de 10 mil pessoas de todas as nacionalidades juntaram-se à Manifestação pela Justiça convocada pelo Movimento Nacional de Acção, de Al Sharpton. A grande maioria da multidão era constituída por negros de DC, Maryland e da região de Virgínia, muitos dos quais nunca tinham participado em protestos mas que se sentiam obrigados a agir contra as aparentemente infinitas vagas de assassinatos de jovens e mesmo de crianças negras às mãos de polícias que nunca são punidos.
O temor por si próprios e pelos seus filhos e irmãos, juntamente com a dor, frustração e indignação com todas as injustiças que os negros hoje enfrentam, foram as razões frequentemente dadas para saírem às ruas.
Também houve um sector menor mas significativo de pessoas brancas – estudantes do ensino secundário e universitário, bem como grupos religiosos, profissionais e outros que sentiam uma profunda responsabilidade de falar contra a forma como a maioria dos brancos ainda alinha com tudo isto. Muitas levavam cartazes que diziam “Silêncio Branco = Cumplicidade”.
Embora tenha havido muito reformismo coxo da parte de alguns oradores na concentração, também houve poderosas intervenções, entre as quais a de um desafiador activista de Ferguson e a de um organizador dos bloqueios de estradas de DC, que falaram e captaram a indignação e o espírito intransigente das pessoas que agora estão nas ruas. Também houve intervenções profundamente comoventes de vários familiares de pessoas cujas vidas foram roubadas pela polícia – mães, pais, cônjuges, filhos de pessoas como Eric Garner, John Crawford, Tamir Rice e Amadou Diallo. Estes oradores exprimiram uma imensa determinação em continuarem a lutar e um profundo amor e apreciação pelos manifestantes em todo o país e pelas pessoas que deram voz aos seus entes queridos que já não podem falar em seu próprio nome – e este amor foi calorosamente retribuído pela multidão.
Neste local, o contingente “Precisamos da Revolução” foi bem acolhido por muita, muita gente. Muitas pessoas foram atraídas a se manifestarem atrás de uma faixa onde se lia: “A Brutalidade e os Assassinatos Policiais Têm de Acabar. Precisamos da Revolução”. Muito mais de 100 pessoas levavam cartazes com palavras de ordem semelhantes. As pessoas à volta do contingente uniram-se a gritar palavras de ordem como: “Acusem, Condenem, Mandem os Polícias Assassinos Para a Prisão, Todo o Maldito Sistema é Culpado Como o Inferno”. Foram distribuídas perto de 1000 cópias do jornal Revolution, bem como muitos cartões de convocatória para o vídeo do Diálogo de 15 de Novembro entre Cornel West e Bob Avakian.
Cidade de Nova Iorque
De um leitor:
Dezenas de milhares de manifestantes formaram um rio de pessoas que encheu a Praça de Washington e fluiu rapidamente para a 5ª Avenida, em Manhattan. Muito diversificados quanto à sua origem, e inequivocamente jovens em carácter e energia – estudantes de escolas secundárias, faculdades e universidades e jovens em geral impulsionaram muito da acelerada manifestação deste dia. Enormes e criativas faixas diziam: Isto Acaba Hoje; As Vidas dos Negros São Importantes; Parem de Matar os Nossos Amigos; Os Verdadeiros Assassinos Usam Crachá.
Havia helicópteros a pairar por cima e, ao longo das avenidas, a polícia alinhou barreiras, carrinhas e enormes autocarros brancos do Departamento Prisional. Um estado altamente repressivo, de tortura e encarceramento em massa – que está a atormentar o próprio meio ambiente necessário à vida – que achou adequado manter hoje em exibição o seu aparelho de porcos policiais. Isto não foi feito da forma mais aberta e brutal como a que foi usada contra os corajosos e desafiadores habitantes de Ferguson. Mas que ninguém se iluda, as principais vozes do NYPD estão a declarar abertamente nas páginas dos jornais de Nova Iorque o seu direito a assassinarem impunemente.
Uma estudante universitária negra que tinha vindo com um grupo de amigos de diversas escolas disse: “Precisamos de condenar esses polícias. [...] Se eles nunca forem para a prisão depois de matarem uma criança desarmada, eles não vão parar. Estamos aqui – a perder jovens em grande número. Com que tipo de estado de espírito ficaremos se deixarmos que isto continue? Isto é inaceitável”.
De outro leitor, relato telefónico a meio da manifestação:
Estou com um punhado de pessoas do Clube Revolução e eles estão a trabalhar com a Rede Acabar com o Encarceramento em Massa, que começou a preparar-se algumas horas antes da manifestação. A manifestação estende-se por pelo menos 28 quarteirões.
Distribuímos muitos cartazes que diziam: “Ferguson é em Todo o Lado. Justiça para Michael Brown e Eric Garner. A Brutalidade e os Assassinatos Policiais Têm de ACABAR! www.revcom.us”. A maior faixa dizia: “Organiza-te Para Uma Verdadeira Revolução. Clube Revolução da Cidade de Nova Iorque”. Também havia duas dezenas de estudantes adolescentes que se tinham juntado à faixa e que iniciavam os gritos: “Qual é o Problema? Todo o Maldito Sistema. Qual é a Solução? Revolução!”
Perguntei a um dos estudantes: O que pensas sobre qual seria a solução final para este tipo de problema? A resposta foi ao longo das seguintes linhas: paralisar a sociedade norte-americana e fazer com que toda a gente repare, criando um despertar e uma maior consciência.
Um homem mais velho que tem assumido um importante papel disse que conheceu o Clube Revolução aquando da organização do Dia Nacional de Protesto para Acabar com a Brutalidade Policial, a Repressão e a Criminalização de Toda Uma Geração, a 22 de Outubro deste ano. Ele estava desencantado com muitas das organizações que tinha visto e foi ficando cada vez mais convencido de que precisamos de uma revolução para responder à brutalidade policial. A citação de Bob Avakian no livro dele, BAsics, “Os Estados Unidos tal como hoje os conhecemos não existiriam sem a escravidão. Isto é uma verdade simples e básica”, teve um verdadeiro impacto nele.
Esta é uma das mais diversificadas manifestações que eu já vi, sobretudo relacionada com a brutalidade policial. Muitas crianças, mães que levam os seus bebés, um enorme núcleo de adolescentes. Perguntei a um grupo de cinco mulheres que estavam a caminhar ao longo da calçada o que pensavam – eram cinco mulheres negras de visita, vindas de Detroit, e elas disseram que a justiça deveria ser para toda a gente e que a polícia não deveria ter privilégios e deveria ser responsabilizada.
Mais tarde nesse sábado, uma secção da manifestação atravessou a Ponte de Brooklyn, de Manhattan para Brooklyn, – e depois caminhou durante horas por Brooklyn pela noite dentro. No dia seguinte, o Revolution/Revolución/revcom.us falou com duas pessoas que tinham participado nessa manifestação.
1. S, uma mulher negra de Staten Island, activa na Rede Acabar com o Encarceramento em Massa
Revolution/Revolución/revcom.us: Conta-nos o que aconteceu na manifestação.
S: O que aconteceu foi que, quando chegámos à Ponte de Brooklyn, a polícia tentou parar-nos. As pessoas disseram – e foram os jovens – que não iam parar, e passaram através da polícia. A polícia não as conseguiu parar. Havia muita polícia – mas mesmo assim não as pararam. E eu segui-as. Havia centenas de pessoas nessa altura – porque mesmo ao fim eram cerca de 300, pelo que nessa altura eram muito mais que isso. Não se limitaram a bloquear o trânsito num dos lados da ponte, depois atravessaram e pararam o trânsito do outro lado. A certa altura, a polícia agarrou alguém, mas eu fiquei agradavelmente surpreendida, porque os policiais eram extremamente não confrontacionais. [...]
A quem lá estivesse, eu ligava-me a eles. Estive primeiro com um grupo de Staten Island chamado NAAPS, ou seja Norte-Americanos Contra o Estado Policial, e eles tinham t-shirts que diziam “Não Disparem, Sou um Ser Humano” ou “Não Disparem, Sou Negro”. Acabei com a Brigada Ligeira de Nova Iorque e eles tinham cartazes que diziam “As Vidas dos Negros São Importantes” ou “Demissão de Bratton”, ou ainda “Justiça”.
Atravessámos a ponte. Na realidade não havia nenhum rumo, certo? Mas nós continuámos a avançar – a avançar pelo trânsito, a avançar pelo trânsito. A polícia bloqueava-nos numa curva e então nós íamos noutra direcção.
Os jovens estavam extremamente motivados. Então decidiram ir às Casas Cor-de-Rosa [uns bairros sociais em Brooklyn], onde Akai Gurley foi morto pela polícia [a 20 de Novembro].
Revolution/Revolución/revcom.us: Antes disso, vocês desceram a Parkway Eastern, uma rua principal em Brooklyn, e bloquearam o trânsito.
S: Sim, fizemos isso. Bloqueámos o trânsito em todos os lugares onde fomos. E obtivemos uma receptividade extremamente boa da parte dos condutores. Eles tocavam as suas buzinas, recebiam panfletos, erguiam os punhos, faziam high five [dá cá mais cinco] com as mãos. Mas não me percebam mal – havia alguns que não nos acolhiam. Mas nós não ficámos intimidados.
A certa altura, as pessoas pareciam estar a ficar cansadas. Mas os jovens diziam: Não se atrevam a desistir! Nós já chegámos até aqui. Não se atrevam a entrar no metro. Por isso, continuámos a avançar.
Revolution/Revolución/revcom.us: De onde vinham os jovens – quem eram eles?
S: Eram jovens das ruas. Alguns nem sequer se conheciam uns aos outros. Eu falei com diferentes jovens. Eles não sabiam usar o megafone, pelo que eu lhes ensinei a usar o megafone. E eles ficaram viciados.
Revolution/Revolución/revcom.us: O que é que os jovens estavam a dizer? Porque é que eles estavam nas ruas?
S: Eles estavam a dizer que “Sem justiça não há paz, não à polícia racista”. Há uma canção, e eu gostava de me poder lembrar como era – mas era algo como: Ouço o meu irmão gritar: “Não consigo respirar”. Temos de lidar com estes polícias racistas. Não vamos desistir enquanto não formos livres. E eles continuavam a cantar isto repetidamente. Havia uma menina – ela tinha apenas seis anos – com a mãe dela. Ela estava a cantar – e cantava mais alto que algumas das pessoas mais velhas! Havia jovens do Bronx, Brooklyn, Manhattan. Eles tinham ido à internet e visto e quiseram participar. [...] Eles continuavam a avançar, a avançar, a avançar. As pessoas estavam furiosas e só queriam continuar. Elas estavam a trabalhar tão bem juntas. Eu pensei que se conheciam umas às outras – mas não. Elas estavam apenas a manifestar-se e a dizer: “Estamos fartos, estamos cansados da polícia racista, do sistema racista”. Estavam muito receptivas a mim – dei-lhes informação sobre a Rede Acabar com o Encarceramento em Massa. [...]
Havia uma mulher negra na marcha que estava a fazer declarações – ela disse estar relacionada com Ramarley Graham [um jovem de 18 anos que foi morto em 2012 pela polícia na casa de banho da sua própria casa no Bronx]. Ela disse que ainda estava devastada com o que tinha acontecido e com o que continuava a acontecer. Ela não queria que isto continuasse.
Em certos momentos, fizemos die-ins, e as pessoas davam diferentes testemunhos e diziam o que sentiam sobre o que estava a acontecer. Também parámos frente a uma esquadra da polícia. E isso tornou-se confrontacional com a polícia. Uma mulher negra perguntou: “Porque é que vocês saem e aparecem, e em vez de atirarem para ferir, atiram a matar?” Ela estava a perguntar-lhes isto. Claro que eles não deram nenhuma resposta. [...] Os jovens estavam tão indignados, tão indignados. Mas a indignação estava a ser dirigida de uma forma positiva. Eles estão muito conscientes de que é muito duro viver aqui. Porque eles são de Brooklyn, são do Bronx, são das ruas onde isto está a acontecer. E portanto eles diziam: “Não, não vamos ser intimidados”. Eu diria que havia dois terços das pessoas no protesto que eram jovens. E eu devo-lhes a eles. Eles mantiveram-me a avançar. Porque, devo dizer-te, eu estava com dores – mas a minha mente mantinha-se forte.
2. O, um negro de Brooklyn — os seus dois filhos foram mortos pela polícia
Revolution/Revolución/revcom.us: Conta-nos o que viste.
O: Quando saí do comboio na West 4th Street [em Manhattan] e vi qual era o caminho, uma coisa que eu vi que era boa era a variedade de pessoas de muitas proveniências. Por isso, o que isso me disse foi que tinha acontecido algo que tinha atingido a veia ou o coração de pessoas de muitas proveniências. Ou atingido a alma das pessoas, para pôr isto desta forma. Havia um denominador comum que muitas pessoas sentiam, devido às coisas que tinham acontecido quanto às decisões dos grandes júris de não acusarem os polícias. [...] O que me mostrou foi que havia um grito vindo do coração e das almas – as pedras estavam a gritar. A raiz das almas das pessoas estava a dizer: o que é que fizeram para deixar a polícia escapar a isto e para que o sistema de justiça criminal legal permita isto e consinta que isto aconteça – isto foi um crime. [...]
O protesto de sábado disse que as pessoas estavam fartas e que não iam aceitar mais isto. Adorei ver muitas culturas, muitas idades, [...] era uma grande variedade de pessoas. Dissemos que não íamos aceitar mais isto. Dissemos que as vidas dos negros são importantes. Porque a decisão do grande júri foi que as vidas dos negros não são importantes. Eles disseram isso no Missouri. Eles disseram isso em Staten Island. E eles disseram isso em relação a Trayvon, embora este caso não tenha sido uma questão policial, mas teve a ver com uma mentalidade policial – a de que alguém pode assumir a autoridade de um polícia. Por isso, tudo o que eu quero dizer é que pessoas de todas as proveniências estavam a dizer no sábado que isto é errado.
Revolution/Revolución/revcom.us: Onde é que te manifestaste?
O: Eu não sabia que tinha isto em mim, que conseguia estar de pé aqui hoje, no domingo – depois de me ter manifestado no sábado, desde a West 4th Street à 32th Street, de volta à West 4th Street, da West 4th Street à Ponte de Brooklyn, atravessar a Ponte de Brooklyn, todo o caminho até à Linden Blvd., às Casas Cor-de-Rosa – e depois de volta à New Lotts Ave.
Revolution/Revolución/revcom.us: O que é que aconteceu nas Casas Cor-de-Rosa?
O: Chegámos às Casas Cor-de-Rosa, felizmente. Estávamos lá à frente, lemos os nomes e dissemos “Descansa em paz” a muitas vítimas, entre elas Akai Gurley – foi o primeiro que lemos. Depois eles leram os nomes de oito mulheres que foram mortas pela polícia. Isso realmente tocou-me. [...] Este sábado de protesto foi necessário, num momento muito importante, para nos preparar para 2015 e para depois.
Revolution/Revolución/revcom.us: Uma outra pessoa com quem falámos e que estava na manifestação disse que havia lá muitos jovens.
O: Sim, havia muitos jovens. De facto, recolhemos ainda mais quando passámos pelos bairros sociais. À medida que atravessávamos os bairros sociais de Brownsville. À medida que atravessávamos os bairros sociais de Cypress Hills. À medida que atravessávamos os bairros sociais das Casas Cor-de-Rosa. Em cada lugar a que fomos, dizíamos-lhes: “Saiam”. E eles saíam. Como é que é aquela frase? Diz que o processo democrático está falido. E isto é uma profunda afirmação – porque o processo democrático tem a ver com os Democratas e os Republicanos, com o chamado processo de votação eleitoral. Estão a dizer-nos que temos pessoas no poder a quem estamos a pagar para matarem os nossos filhos?! Eu acho que não! Não! Eu não vou pagar a nenhum polícia para matar os meus dois filhos – nem nenhum familiar de ninguém e/ou para entrar nos bairros sociais e retirar crianças... crianças! Eu manifestei-me com um menino de seis anos e com a mãe dele, e isso realmente motivou-me. Fez lembrar-me dos meus dois filhos. Temos de treinar as nossas crianças, informá-las que elas são muito importantes. Eu vi lá outras pessoas com os filhos. Isto é muito iluminador. Porquê? Porque nos diz que há um futuro. E a demonstração de força das pessoas, desde as de cabelos grisalhos, às de meia-idade e aos jovens, mostra-nos que alguém nesse processo eleitoral está errado, que estão a mentir às pessoas e elas estão a alinhar na mentira. Mas isto está a dizer que, vocês sabem, nós não vamos alinhar com mais nenhuma mentira. As pessoas não querem ser mais enganadas. [...] A força policial – eles são monstros. Eles são monstros demoníacos.
Chicago
De um leitor:
Às 13h de sábado, 13 de Dezembro, uma multidão esmagadoramente jovem e muito multinacional começou a concentrar-se no cruzamento das ruas State e Jackson, no centro da cidade de Chicago, como parte do Dia Nacional de Protesto contra o terror policial. Houve algumas curtas intervenções e depois a manifestação avançou, mas não antes de o Clube Revolução de Chicago ter avançado como contingente, encabeçado por uma faixa que proclamava: “Combater o Poder e Transformar as Pessoas, Para a Revolução. Clube Revolução de Chicago – revcom.us”. E toda a marcha tinha um lado muito radical. Os revolucionários e os membros da Rede Acabar com o Encarceramento em Massa (SMIN) trabalharam com outros grupos que desempenharam um papel muito dinâmico em toda a manifestação. Algumas pessoas trouxeram cartazes feitos à mão, muitas levavam cartazes da SMIN e todos os cartazes do www.revcom.us também foram usados pelas pessoas, um deles por uma mulher que baixou o cartaz com que estava antes porque lhe pareceu “demasiado fraco”, comparativamente. Havia muitas pessoas novas na manifestação e havia muita paixão entre elas quando exprimiam a sua determinação de que o terror policial tem de acabar.
Havia uma enorme presença de porcos policiais de Chicago que foram agressivos e violentos. Logo no início, o mc [“mestre de cerimónias”] da concentração da SMIN e duas outras pessoas foram presas por terem saído do passeio. E à medida que a manifestação avançava, a polícia empurrava as pessoas de volta para os passeios. Um pé fora do passeio levou a que outra pessoa fosse presa. Mas a manifestação não se deixou dissuadir.
Dois jovens membros do Clube Revolução de Chicago foram alvo de um violento ataque dos porcos policiais à frente dos grandes armazéns Nordstrom, na opulenta zona comercial da Milha Magnífica de Chicago. A cobertura noticiosa mostrou a jovem a ser empurrada em direcção a uma carrinha da polícia com os braços a serem puxados para trás e para cima. O jovem sabe-se que sofreu um nariz partido e várias dilacerações na cara. Ele enfrenta uma falsa acusação de delito de agressão a um agente da polícia e uma fiança de 75 mil dólares, tal como um outro manifestante. Nós exigimos que sejam retiradas as acusações contra todos os que protestaram contra os assassinatos policiais.
Assim que passámos por cima do Rio Chicago, na extremidade sul da “Milha Magnífica” da Avenida Michigan, enxameada de pessoas às compras de Natal, houve um die-in durante quatro minutos e meio – um minuto por cada hora em que os porcos policiais deixaram o corpo de Michael Brown caído no chão fumegante onde ele tinha sido atingido e assassinado – no qual participaram cerca de 400 manifestantes. As pessoas às compras afastavam-se do passeio para poderem passar. Muitas juntaram-se à manifestação assim que ela recomeçou, quando ela se estendeu por uns bons dois quarteirões em direcção a norte. A manifestação parou novamente no extremo norte da Milha Magnifica, do outro lado do Macy's, onde houve um tenso confronto quando a manifestação tentou atravessar a rua. Bloqueados pela polícia, os manifestantes organizaram outro die-in nesse grande cruzamento, cheio de pessoas às compras de Natal. Durante os quatro minutos e meio, um fantástico silêncio encheu toda a zona, e não só entre os manifestantes. Foi como se o tempo ficasse parado e o obsessivo impulso para obedecer-consumir-repetir se tivesse detido para um momento de reflexão.
A manifestação durou mais de quatro horas. A certa altura, dirigiu-se novamente para sul, rumo aos grandes armazéns Nordstrom. Quando algumas pessoas ergueram uma grande faixa “Vidas Roubadas pelos Assassinatos Policiais” à frente da entrada da loja, vários manifestantes entraram e fizeram um die-in. A polícia rapidamente percebeu o que estava a acontecer e abateu-se sobre eles – prendendo pelo menos 11 pessoas. Foram feitas mais prisões e agressões selváticas contra a multidão na rua, onde os porcos policiais agarraram várias pessoas, entre as quais uma jovem do Clube Revolução, e agrediram selvaticamente um outro jovem membro do Clube Revolução que tinha estado muito activo nos protestos. Estes jovens revolucionários foram escolhidos como alvo pela polícia. No total, foram presas 23 pessoas e três pessoas enfrentam acusações de delito. (Um dos delitos foi reduzido para ofensa a 14 de Dezembro.)
Estes ultrajantes ataques não ficaram sem resposta. O departamento de polícia recebeu tantas chamadas a condenar as suas acções que eles passaram a nem sequer falar com as pessoas, começando em vez disso a fazer sons estúpidos. A Nordstrom também deve ter pensado duas vezes sobre o seu papel nisto, porque se recusou a apresentar queixa contra todos os que foram presos na loja. Apoiantes dos presos dirigiram-se de imediato à esquadra da polícia onde eles estavam detidos para exigirem a sua libertação, ficando aí até depois da meia-noite. No momento em que escrevo, alguns dos que foram presos com base em pequenas ofensas já foram libertados depois de as terem reconhecido. E neste momento as pessoas estão a planear encher o tribunal na segunda-feira, 15 de Dezembro, dia em que as duas pessoas que ainda enfrentam acusações de delito irão comparecer no tribunal.
Actualização de 14 de Dezembro: Foi fixada uma fiança de 75 mil dólares para cada pessoa com falsas acusações de delitos, o que requer um depósito de 15 mil dólares para que sejam libertadas da prisão. Uma das pessoas que enfrenta uma acusação de delito é do Clube Revolução. Ele é bem conhecido da polícia de Chicago pelo seu papel nos protestos realizados desde que os porcos policiais foram ilibados dos assassinatos de Mike Brown e Eric Garner. Contacte a Livraria Revolução de Chicago para saber como doar para o fundo de fianças.
Zona da Baía de São Francisco
De vários leitores:
Milhares de pessoas manifestaram-se na Zona da Baía de São Francisco como parte das manifestações a nível nacional contra a brutalidade e os assassinatos policiais, apelando a uma “Marcha de Milhões”, um “Dia de Indignação Porque as Vidas dos Negros São Importantes”.
Houve grandes protestos tanto no centro da cidade de São Francisco como em Oakland. Em São Francisco, um número estimado de 4000-5000 pessoas manifestaram-se na Rua do Mercado, a principal rua do centro da cidade de São Francisco. Todo o centro da cidade ficou paralisado por causa da manifestação, quando um vasto e diversificado grupo de manifestantes encheu toda a larga avenida, estendendo-se por vários quarteirões. Foi uma manifestação muito cuidadosamente controlada, flanqueada de ambos os lados por centenas de polícias. As pessoas que queriam entrar na manifestação pelos lados tinham de atravessar linhas de polícias, pelo menos próximo da parte da frente. Gritos de “As Vidas dos Negros São Importantes”, bem como muitos outros das semanas de protestos, ecoaram nas ruas de São Francisco. As faixas e os cartazes reflectiam as diferentes organizações políticas, bem como sindicatos e grupos religiosos. O movimento pela revolução esteve representado por muitos cartazes ao longo da manifestação, e também por várias grandes faixas, entre as quais “Nem Mais Um Assassinato Policial – Precisamos da Revolução. www.revcom.us” e uma faixa do Clube Revolução.
A manifestação foi muito amplamente apoiada por muitas, muitas pessoas ao longo do caminho. Os comentários variavam de pessoas negras que exprimiam entusiasticamente o seu apoio à manifestação, em alguns casos com indignados apelos à revolução quando se lhes perguntava qual pensavam ser a solução para os assassinatos policiais; a firmes apoiantes da manifestação de um vasto espectro de nacionalidades; a pessoas brancas com grandes sacos de compras natalícias junto a lojas caras que deixavam cortesmente claro que apoiavam a causa da igualdade e percebiam que ela não existe hoje na América, ao mesmo tempo que vacilavam em dizer exactamente o que pensavam sobre os veredictos dos grandes júris dos casos de Eric Garner e Michael Brown. E a algumas pessoas que murmuravam sobre “motins”, ecoando as distorções da comunicação social sobre os protestos realizados até agora.
A manifestação começou no Ferry Building, na zona ribeirinha de São Francisco, e terminou na Câmara Municipal, onde houve uma concentração. Quando a concentração se começou a dispersar, o Clube Revolução apelou às pessoas para continuarem a marchar e centenas de pessoas juntaram-se-lhes e caminharam pela Rua do Mercado até à principal zona de compras de São Francisco, centrada nas ruas Powell e do Mercado. A certa altura, a polícia bloqueou a manifestação e ameaçou os manifestantes. Havia centenas de clientes das lojas a assistir e alguns deles tinham-se-lhe juntado, incluindo alguns com trajes de Pai Natal. Um activista com um megafone apelava aos clientes das lojas a apoiarem a manifestação contra as ameaças policiais. Muitos, muitos clientes ergueram as mãos e gritaram: “Mãos para cima, não disparem”, numa comovente e poderosa demonstração de apoio. A certa altura, o activista gritou: “Se se recusam a viver assim, deixem-me ver-vos a erguer os vossos punhos” e pelo menos 50 pessoas nas ruas por trás das linhas da polícia ergueram os punhos. A polícia, que tinha provavelmente 400 polícias mobilizados para acompanhar esta manifestação, acabou por declará-la uma assembleia ilegal; as pessoas continuam na rua no momento em que enviamos este relato.
Em Oakland, cerca de 3000 pessoas concentraram-se na Oscar Grant Plaza, no centro da cidade. Havia um contingente de estudantes da Universidade da Califórnia em Berkeley, com pelo menos várias centenas de pessoas que caminharam da Universidade até à Telegraph Avenue, rumo a Oakland.
Depois de uma concentração no cruzamento das ruas 14ª e Broadway, o grupo manifestou-se até ao Palácio Municipal de Justiça em Fallon St., perto de Lake Merritt. Uma vez mais, foi mobilizada uma gigantesca força policial para conter a manifestação.
No momento em que escrevemos, algumas pessoas continuam a manifestar-se enquanto outras já saíram.
St. Louis-Clayton, Missouri
De vários leitores:
Cerca de 125 pessoas concentraram-se no Hickey Park em North St. Louis para se manifestarem até à Hall Street Work House (i.e., a prisão). A multidão era multinacional e de todas as idades. Tambores, mulheres em roupas prisionais laranja e a faixa das vidas roubadas encabeçavam a manifestação. Esta foi uma das primeiras manifestações aqui para condenar o encarceramento em massa e os milhões de homens e mulheres encarcerados. Também é uma das prisões onde estão detidos muitos dos corajosos manifestantes da insurreição de Ferguson.
Quando nos manifestávamos na prisão gritando “Deixem sair”, as pessoas correram para a barreira e começaram a chamar os prisioneiros para virem à janela. Muitos deles fizeram-no, gritando “Sem Justiça Não Há Paz”. Eles falaram da exigência de serem libertados. Um ex-preso falou sobre as horrendas condições, enquanto os companheiros lá dentro gritavam “Isto é um buraco de merda”. Condições anti-higiénicas, lutas só para obter comida, presos saudáveis fechados com pessoas com tuberculose, um excesso de infecções em toda a prisão. Houve uma concentração junto à barreira com o megafone virado para os presos. As pessoas falaram sobre os milhões de pessoas atrás das barras, sobre como a “guerra às drogas” tinha posto muita gente na prisão com longas penas e sobre a exigência de que todas as pessoas presas sejam imediatamente libertadas.
No fim da concentração, um dos organizadores do protesto leu o manifesto da Rede Acabar com o Encarceramento em Massa e as pessoas apoiaram. As pessoas afastaram-se da prisão e manifestaram-se até um grande cruzamento, onde fizeram um die-in. Ao longo do caminho, muitas pessoas buzinaram e as pessoas saíram das suas casas para obterem o jornal Revolution/Revolución e outra informação sobre o encarceramento em massa.
No dia anterior, as pessoas tinham organizado um “Circo de Injustiça” no centro da cidade com cerca de 150 pessoas a marchar por todas as ruas do centro até ao tribunal para entregarem ao Departamento de In-Justiça a exigência de que acuse Darren Wilson, o porco policial assassino que matou Mike Brown, um jovem negro desarmado. Um enorme porco [policial] em papier-maché cor-de-rosa com o nome de Darren Wilson foi empurrado em direcção à polícia de choque que guardava o tribunal. Um dos polícias de choque tinha o nome Wilson na farda. A manifestação dirigiu-se depois à Escola Secundária de Clayton para uma pequena paragem. Vários organizadores apareceram com alguns estudantes e manifestaram-se até ao centro de Clayton. Na semana anterior, 70 estudantes tinham organizado uma saída da escola.
Houston
De vários leitores;
Pela segunda vez em igual número de semanas, centenas de pessoas manifestaram-se através da opulenta zona comercial de Houston, Texas, levando a mensagem de que As Vidas dos Negros São Importantes e uma determinação profundamente sentida de ACABAR com os assassinatos e a brutalidade policial a um vasto número de pessoas de todas as nacionalidades. A manifestação da semana anterior tinha ocupado literalmente quase todo o centro comercial Galleria e atraído demonstrações de interesse e apoio de muitos clientes. Desta vez, a polícia fez tudo o que pôde para montar um muro de força repressiva e impedir que a luta pela justiça chegasse e inspirasse ainda mais pessoas. Instalou sinais à volta do centro comercial especificamente a avisar que qualquer manifestante que entrasse seria preso.
Nesta situação, houve esforços contínuos por parte de pessoas e grupos para encontrarem formas de espalhar o protesto e paralisar a situação do costume. Quando um pequeno número de jovens pôs os pés na rua, os polícias agarraram violentamente naqueles que pensavam ser os líderes, inclusivamente pondo um deles em posição de estrangulamento. As pessoas responderam e conseguiram puxar os seus companheiros manifestantes para uma zona de segurança, mas acabaram por os perder novamente para a violência policial. Apesar da violência das autoridades, as pessoas participaram em vários die-ins que bloquearam entradas de lojas e restaurantes da zona.
A mensagem da revolução foi propagada pela nossa faixa Revolução – Nada Menos e pelos muitos cartazes com palavras de ordem como “Nem Mais Um Assassinato Policial – Precisamos de uma Revolução” agarrados e erguidos pela multidão. Também foram distribuídas várias dezenas de exemplares do jornal Revolution/Revolución. Mas a questão da possibilidade, bem como da necessidade, da revolução foi bastante controversa. Distribuímos os nossos convites para a celebração BA Em Todo o Lado a toda a gente com quem falámos, com a mensagem de que isso seria uma oportunidade para aprofundarem as ardentes questões com que as pessoas se defrontam em relação ao que será necessário fazer para acabar com os assassinatos policiais e toda a exploração e opressão.
Los Angeles
De vários leitores:
Várias centenas de manifestantes de muitas nacionalidades e de todas as idades concentraram-se no cruzamento das ruas Hollywood e Highland numa justa indignação pelos injustificados assassinatos policiais de negros e latino-americanos desarmados; mas também com a alegria de fazerem parte desta poderosa insurreição que está a acontecer em todo o país. Houve uma breve concentração perto do local onde, uma semana antes, os polícias do LAPD [Departamento de Polícia de Los Angeles – Nota PV] tinham abatido um jovem branco à frente de muita gente. As pessoas foram convidadas a ir falar ao microfone. E depois a manifestação começou.
Entre os oradores estava o Professor Jody Armour, Professor de Direito Roy P. Crocker na Universidade da Califórnia Sul, que disse que estava lá porque tem três filhos e tinha sido obrigado a pensar nisso desde que eles tinham 5, 6, 7 meses de idade... que eles estão a traçar-lhes o perfil logo no berço e desde o berço até à morte. E continuou: “Falar vai só até certo ponto. Mas nós também temos de fazer, e parte do fazer está em meter a cabeça na boca do leão e assumir alguns riscos. Assumir riscos quando vemos um flagrante. [...] Vocês estã a dizer-me que não foi um estrangulamento? Então, os interrogatórios reforçados não são tortura? [...] Isto é como o Rodney King. Nós vimos isto com os nossos próprios olhos. [...] As pessoas ficaram à espera de justiça. E quando o sistema de justiça os traiu, quando a promessa de justiça foi escarnecida de uma forma tão flagrante, nós explodimos em L.A. [...] Isto é um barril de pólvora em que estamos sentados.”
Um membro do Clube Revolução também falou à multidão e disse, em parte: “Hoje, e com o que temos feito ao longo das últimas três semanas, em todo o país, tornámo-nos num novo povo, que está a dizer: ‘Nunca mais!’ Não vamos baixar as nossas cabeças quando eles executam o nosso povo na rua. Somos um novo povo, e temos de levar isto mais alto, e temos de levar isto mais longe. [...] Eles estão a mostrar-nos que a única coisa que o sistema deles tem é a violência deles, e as balas deles, e o nosso medo. E nós abandonamos o nosso medo hoje!” E a multidão começou a gritar: “Nós abandonamos o nosso medo hoje”.
A manifestação começou com um espírito elevado, cantando ao longo do percurso de mais de 2 milhas. Por três vezes houve die-ins de 4 minutos e meio nos cruzamentos ao longo do caminho – para recordar as 4 horas e meia em que o corpo de Michael Brown foi deixado na rua.
Os polícias cercaram os manifestantes depois do segundo die-in e tentaram fazê-los dispersar. Em vez disso, os manifestantes reagruparam-se e tomaram novamente as ruas, caminhando de regresso ao ponto de partida. Um quarteirão antes do cruzamento das ruas Hollywood e Highland, a polícia cercou completamente os manifestantes, declarando que era uma assembleia ilegal, e deu-lhes 10 minutos para dispersarem ou serem presos. Houve um terceiro die-in. Então a polícia emitiu uma ameaça de uso de violência, alegando que os manifestantes tinham violado a lei e que se as pessoas não se retirassem seriam presas e, se se reagrupassem de novo, poderiam ficar feridas. Então, listaram todas as armas do arsenal deles que poderiam usar contra o protesto.
Boston
De um leitor:
Uma multidão que variou entre 1500 e 3000 pessoas manifestou-se da Statehouse na baixa da cidade de Boston até à Estação Norte, com o objectivo de fecharem a I-93, a auto-estrada interestadual. “Paralisar este sistema racista” foi um grito popular entre a multidão, constituída sobretudo por estudantes universitários, juntamente com activistas comunitários e algumas pessoas dos anos 1960. Estavam lá alguns estudantes de Harvard, acabados de sair de uma grande manifestação que tinha havido lá na noite anterior e que paralisou partes de Cambridge. Os oradores gritaram os nomes de negros mortos pela polícia, entre os quais Bo Ramsey, morto em 2012 em Boston. Uma professora falou sobre como tinha sido levada às lágrimas por causa destas decisões dos grandes júris e comentou que tinha dito aos seus alunos que se eles não sentiam nada, então precisavam de verificar a sua humanidade.
Entretanto, tinha sido mobilizado um exército de polícias para bloquear o acesso às principais estradas e, quando as pessoas tentaram passar, 23 delas foram presas. A manifestação continuou e concentrou-se frente à prisão de Nashua St. Um preso colocou uma mensagem na sua janela: “Eles agridem os presos”. E as pessoas gritaram: “Nós estamos a observar-vos”. A manifestação regressou ao centro da cidade e houve um outro die-in em Tremont St., a rua principal. As pessoas ficaram com cartazes “Ferguson é em todo o lado” e “Combater o poder e transformar as pessoas, para a revolução” que promoviam a página revcom.us, e muitas também ficaram com jornais e folhetos.
Honolulu, Havai
De um leitor:
Cerca de 30 pessoas ergueram cartazes à entrada da zona turística de Waikiki e marcharam à volta do centro comercial Ala Moana, onde milhares de pessoas estavam a fazer as suas compras de Natal. Uma advogada relatou a história de um cliente dela, um homem que foi asfixiado o ano passado quando quatro enormes polícias o mantiveram com a cara para baixo enquanto ele gritava: “Não consigo respirar”. Die-ins paralisaram o trânsito em dois cruzamentos principais. A resposta das pessoas que iam de carro ou andavam nos passeios foi espectacular – com algumas pessoas a parar para partilharem as suas histórias de brutalidade policial.
Cleveland
De um leitor:
Trinta de nós – activistas da Furar o Silêncio (um grupo afiliado da Rede Acabar com o Encarceramento em Massa), jovens revolucionários e outros – fomos sábado de manhã ao Mercado de West Side, que estava cheio de pessoas. Fomos para uma varanda com vista para o mercado e colocámos faixas. As faixas diziam “Justiça para Tamir” e “Justiça para Tanisha Anderson”, dois negros mortos aqui em Novembro pela polícia. Depois, as pessoas cantaram um espiritual que apelava à justiça e de seguida ecoaram gritos de “As Vidas dos Negros São Importantes”. As pessoas presentes, entre as quais muitos brancos dos subúrbios, observaram e tomaram conhecimento, muitas delas fazendo gestos de aprovação.
Depois fomos para a Tower City, a principal zona comercial do centro da cidade, e fizemos um die-in de 35 minutos. A certa altura, um jovem revolucionário leu o “Manifesto de Resistência” da Rede Acabar com o Encarceramento em Massa e depois um activista fez um apelo ao microfone a desafiar as pessoas a pensarem nas realidades da vida dos negros nesta quadra natalícia. Numa apresentação dramática, disse: “Feliz Natal Cleveland, Jesus sabias que a polícia pode matar negros com total impunidade?” Mais tarde, ele disse-me: “Na Tower City, as pessoas traziam os seus filhos para a fanfarra de Natal. Elas foram confrontadas com a realidade e a surpresa. Perturbar o espírito de Natal é uma enorme parte da revolução. Na estação do solstício, temos de continuar a recordar às pessoas a realidade das injustiças, usando as coisas com que elas adoram fugir, para lhes recordar o que realmente está a acontecer no nosso mundo.”
Depois, arrumámos as coisas e caminhámos pelo edifício a cantar, e as pessoas repararam em nós. Ouvimos pais a dizer aos filhos de que é que falava a peça. Quando ouviu “As Vidas dos Negros São Importantes”, um negro disse-nos, calma e profundamente, “obrigado”.
Depois disto, alguns de nós seguimos para uma zona da comunidade negra para afixarmos cartazes como “Nem Mais Um Assassinato Policial/Precisamos da Revolução” e “Organiza-te Para uma Verdadeira Revolução”. E as pessoas vinham ver, algumas concordando com o que eles diziam. Fizemos agitação e distribuímos, em geral e nas lojas, alguns jornais Revolution/Revolución. As pessoas que participaram nas acções sentiram que mesmo que tivessem sido pequenas, tínhamos chegado a centenas de pessoas com a nossa mensagem de “Nem Mais Um Assassinato Policial”, incluindo a alguns de nós, revolucionários, e com a mensagem de que isto é um sistema ilegítimo e que precisamos de fazer a revolução o mais cedo possível.
Ft. Greene, Brooklyn, Nova Iorque
Reunião Municipal de Emergência:
De Rodney King a Eric Garner
(Publicado a 13 de Dezembro de 2014 em revcom.us/a/365/ft-greene-brooklyn-emergency-town-hall-en.html)
De um leitor:
Lição n.º 1 – Não ir para nenhuma reunião pública nos dias de hoje sem estar precavido para o inesperado. Este domingo passado, 7 de Dezembro, mais de 200 pessoas apareceram no BRIC (um novo centro de teatro/artes em Ft Greene, Brooklyn) para a representação final da peça de Roger Guenveur Smith, RODNEY KING.
A peça de Roger Guenveur Smith, um one-man-show virtuoso, reconstrói a história de Rodney King, provavelmente a primeira pessoa que teve o seu brutal espancamento em 1992 pela policia de LA a tornar-se “viral” na televisão nacional – desencadeando a Rebelião de LA quando os policiais culpados foram absolvidos de terem espancado King. A peça foi seguida de outra, “Uma Reunião Municipal de Emergência: de Rodney King a Eric Garner”, com Roger Guenveur Smith, o colaborador musical dele Marc Anthony Thompson e um conjunto de comentadores políticos e escritores. Rebentou uma viva discussão sobre o que é necessário para acabar com esta epidemia à volta de: mudanças políticas e “melhor policiamento” ou...
O artista revolucionário Dread Scott disse à audiência: “Nós nem sequer teríamos ouvido falar em Mike Brown se as pessoas desafiadoras de Ferguson não tivessem saído às ruas. Isto é um sistema! Este país foi fundado com base na escravidão, depois no Jim Crow [o sistema de leis de segregação racial em vigor nos EUA até 1965 – Nota PV], e agora no Novo Jim Crow – a polícia está aqui para impor isto e é necessário que as pessoas fiquem nas ruas para fazer com que as vidas dos negros sejam consideradas, para acabar com estes assassinatos policiais.”
Quando a reunião chegava ao fim, Roger Guenveur Smith apelou à audiência, constituída sobretudo por gente do teatro e das artes, para marchar com ele a partir do teatro para as ruas. Muitos fizeram-no e acabámos alguns minutos depois no cruzamento das ruas Flatbush e Fulton. O grupo bloqueou três faixas de trânsito em cada direcção na Flatbush (uma artéria que dá acesso à Ponte de Manhattan) durante quase meia hora sob frio intenso, gritando “Eric Garner, Mike Brown – Acabar com Isto, Acabar com Isto, Acabar com Isto!” Os jornais Revolution/Revolución, os comunicados de Carl Dix, os poemas de Alice Walker e os 10 cartazes do revcom.us que tínhamos trazido foram postos a muito bom uso.