Sahara Ocidental: Pelo fim dos 31 anos de ocupação!

Por N. Redol

Bandeira do Sahara Ocidental Livre
Bandeira do Sahara Ocidental Livre

No passado dia 8 de Dezembro, algumas dezenas de pessoas concentraram-se no Largo Camões em Lisboa, em solidariedade com o Sahara Ocidental, para exigir o fim da ocupação daquele país do norte de África pelo reino de Marrocos e defender a realização de um referendo de autodeterminação. A concentração foi convocada pelo CPPC (Conselho Português para a Paz e a Cooperação), pela CGTP-IN e por diversos apoiantes da casa saharauí, nomeadamente a CEAS (Coordenadora Estatal de Associações Solidárias com o Sahara - Espanha), aproveitando a realização em Lisboa da Cimeira Europa-África, a que assistiram Chefes de Estado e de Governo dos dois continentes.

O território do Sahara Ocidental foi uma colónia espanhola entre 1884 e 1976. Espanha enfrentou sempre a resistência da sua população. A grande insurreição de 1958 mostrou o seu desejo generalizado de autodeterminação e independência. Em Maio de 1973 foi criada a Frente Popular de Libertação de Saguia-El-Hamra e Rio de Ouro (POLISARIO), que passou a liderar a sua luta de libertação.

Jovem saharauí
Jovem saharauí

Sob pressão das vitoriosas lutas de libertação nacional em todo o mundo e em particular em África, sobretudo na sequência do 25 de Abril em Portugal e da subsequente independência das colónias, o regime franquista espanhol aceitou o princípio da autodeterminação. Mas, ignorando este compromisso e as aspirações de independência do povo saharauí, em Novembro de 1975 a Espanha assina um acordo de entrega do território a Marrocos e à Mauritânia. Com esse acordo, Espanha cedia à cobiça do rei de Marrocos, Hassan II, pelas suas riquezas naturais. Marrocos organizou a chamada "Marcha Verde", uma encenação massiva em que 350 mil pessoas marcharam em direcção ao Sahara Ocidental, abrindo o caminho à sua ocupação por unidades de infantaria e de blindados.

Desde então, múltiplas resoluções das Nações Unidas e da União Africana e um acórdão do Tribunal Internacional de Justiça de Haia reconhecem o direito à autodeterminação do povo saharauí.

A brutal campanha das tropas marroquinas incluiu a utilização de bombas de fósforo e napalm lançada sobre as populações, o que obrigou grande parte dos seus habitantes a procurar refúgio na vizinha Argélia.

Campo de refugiados saharauís na Argélia
Campo de refugiados saharauís no sudoeste da Argélia

A 27 de Fevereiro de 1976, após a retirada das forças espanholas e em território já libertado, a Frente POLISARIO proclamou a República Árabe Saharauí Democrática (RASD). Actualmente, a União Africana e mais de 80 países reconhecem a RASD, incluindo a Mauritânia que, após sérios revezes militares, celebrou um acordo de paz com a POLISARIO.

Em Agosto de 1988, Marrocos e a POLISARIO declararam aceitar o plano de paz do Secretário-Geral da ONU, que incluía a retirada das tropas marroquinas e a realização de um referendo sobre a independência ou anexação do território. Mas, isso não passou de uma manobra de Marrocos, que não pretende abrir mão do território e tem boicotado todos os esforços de resolução do conflito. Marrocos tem assumido compromissos que não cumpre e já rejeitou clara e publicamente o direito do povo saharauí à autodeterminação.

Ao longo dos seus últimos quase 35 anos de luta, o povo saharauí tem demonstrado uma imensa capacidade de resistência e sacrifício, lutando num terreno inóspito contra um ocupante poderoso que tem usado técnicas brutais de repressão. Pressionada por estas condições e por considerações estratégicas regionais e internacionais, a sua liderança tem recuado sucessivamente, tendo praticamente abandonado a luta armada (que no passado tinha obtido grande sucesso na luta contra a Mauritânia) e aceitando libertar sem condições todos os seus prisioneiros e destruir as suas reservas de mina antipessoais.

Campo de refugiados saharauís na Argélia
Campo de refugiados saharauís no sudoeste da Argélia

Apesar das cedências saharauís, Marrocos tem prosseguido as suas operações de vingança, atacando diária e indiscriminadamente crianças, mulheres e idosos. Tortura, violência física e psicológica, ameaças e insultos são algumas das práticas utilizadas. Ultimamente recorre à prática de abandonar as suas vítimas em pleno deserto, longe de cidades e aldeias. Actualmente, existem mais de 500 civis desaparecidos e 151 prisioneiros de guerra saharauís, para além de centenas de presos políticos na tenebrosa prisão de El Aaiun (a capital do Sahara Ocidental) e noutras prisões no interior de Marrocos.

A luta denodada do povo saharauí merece a nossa total solidariedade, exigindo o respeito pelo seu desejo de autodeterminação, o fim da barbárie da ocupação, a retirada dos invasores e o regresso da população ao seu legítimo território.

(A maioria dos dados e imagens incluídos neste texto foi retirada de um folheto distribuído pelo CPPC.)

18 de Dezembro de 2007

Mapa do Sahara Ocidental
Mapa do Sahara Ocidental

O Sahara Ocidental é um território de cerca de 262 000 km² (mais do triplo da área de Portugal) situado no nordeste de África. É limitado a norte por Marrocos, a leste pela Argélia, a sul pela Mauritânia e a oeste pelo Oceano Atlântico.

O território está dividido em duas zonas distintas: Saguia-El-Hamra, com 82 000 km² a norte, e Rio de Ouro, com 180 000 km² a sul. O território e o clima são tipicamente desérticos. Só há duas estações por ano: o Verão com temperaturas que atingem os 50ºC e o Inverno em que baixam até aos 3ºC.

A sua costa marítima (3000 km) é um dos maiores bancos pesqueiros do mundo e passagem obrigatória na descida à costa oeste africana. O Sahara Ocidental possui das maiores reservas mundiais de fosfatos e é rico em petróleo, gás natural, ferro, urânio e cobre.

O povo saharauí descende dos beduínos nómadas, tem uma língua comum, o "hassânia" (relacionado ao árabe), e é maioritariamente muçulmano. O censo espanhol de 1974 indicou 74 934 habitantes.

Actualmente, o grosso da população saharauí vive exilada em campos de refugiados no sudoeste da Argélia, num deserto desolador e hostil. A grande maioria dos 165 mil habitantes dos campos são crianças, mulheres e idosos. É neles que funcionam os órgãos do Estado e é aí que chega e é distribuída a ajuda internacional. Nos campos, as crianças recebem uma escolaridade básica (9º ano), vacinas, assistência médica, roupa e calçado.

 

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