Do sítio do jornal Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (publicado a 29 de janeiro de 2024 em inglês em revcom.us/en/women-political-prisoners-spur-new-burst-resistance-executions-iran e a 7 de fevereiro de 2024 em castelhano em revcom.us/es/prisioneras-politicas-prenden-nuevo-brote-de-resistencia-contra-las-ejecuciones-en-iran).
Da Campanha Internacional de Emergência pela Libertação dos Presos Políticos no Irão (CIE)
Prisioneiras políticas desencadeiam nova erupção de resistência às execuções no Irão
Nota da Redação do revcom.us: Recebemos o seguinte texto da Campanha Internacional de Emergência pela Libertação dos Presos Políticos no Irão (CIE).
Na quinta-feira, 25 de janeiro, toda a ala de mulheres da Prisão de Evin em Teerão fez um dia de greve da fome. Isto tornou-se um apelo dentro do Irão e a nível mundial para acabar com a odiada máquina de execução do repressivo regime islâmico do Irão.
Dois dias antes, o regime tinha enforcado Mohammad Ghobadlou, de 23 anos, preso durante a revolta sem precedentes de 2022 chamada Mulher, Vida, Liberdade, e Farhad Salimi, condenado juntamente com seis outros curdos por “corrupção na terra”.1

O advogado de Ghobadlou, Amir Raesian, qualificou esta execução de “assassinato” sem “nenhum fundamento legal”. Ele disse que “a sentença de morte do seu cliente tinha sido inicialmente anulada pelo Supremo Tribunal do Irão. Raesian anunciou na conta dele na rede social X (ex-Twitter) ter recebido a notificação da execução apenas na noite anterior a Ghobadlou ter sido enforcado.”2
As mulheres de Evin emitiram um comunicado através da conta no Instagram de Narges Mohammadi (uma presa laureada com o Prémio Nobel da Paz de 2023):
61 presas políticas em Evin irão iniciar uma greve da fome, em protesto contra as execuções e pelo fim das mesmas. Uma vez mais, na terça-feira, 23 de janeiro, o Irão testemunhou o enforcamento de um dos seus jovens. Mohammad Ghobadlou foi enforcado em circunstâncias em que nem sequer existia um veredicto final de execução. A notícia da execução de jovens iranianos provocou uma onda de raiva e protesto na sociedade. As presas políticas em Evin, em protesto contra as recentes execuções e pelo “Fim das execuções”, irão iniciar uma greve da fome conjunta a 25 de janeiro de 2024. As mulheres encarceradas mantêm-se resolutas, determinadas a gravar os nomes dos executados na nossa consciência coletiva. Este esforço é não só para preservar a memória dos executados, como também para salvar as inúmeras vidas presas por um fio nas prisões da República Islâmica do Irão (RII).
Sejam a nossa voz contra as execuções no Irão.
A resposta global incluiu um comunicado da CIE a 24 de janeiro que dizia, em parte: “Juntamo-nos a muitas outras vozes globais a apelar a todas as pessoas para que encontrem formas de apoiar politicamente estas mulheres que se estão a erguer pela justiça. Emulem e propaguem o espírito determinado delas de resistência na nossa luta coletiva por um mundo melhor para todas as mulheres e para a humanidade. Liberdade para todos os presos políticos no Irão, JÁ! Não às ameaças e às manobras de guerra dos EUA contra o Irão, levantamento das sanções norte-americanas!” Este comunicado foi traduzido para farsi e publicado nas redes sociais pelo movimento Burn the Cage, Free the Birds [Queimar a Jaula, Libertar os Pássaros], baseado na Europa.
Mais de 200 pessoas comprometeram-se a se juntar às prisioneiras na greve da fome de 25 de janeiro. Entre essas pessoas estavam outras prisioneiras em condições extremas e com uma capacidade muito limitada de comunicar e muitos familiares e ex-presos políticos que correm um grande risco de se tornarem alvo dos teocratas que governam o Irão, tais como:
- O rapper encarcerado Toomaj Salehi, que enfrenta novas acusações de “rebelião armada e de grupo contra o regime” e de “conspiração para cometer crimes relacionados com a segurança” (a qual inclui uma possível pena de morte):
- Os restantes três coacusados com Salimi, em perigo iminente de execução, que estão a fazer uma greve da fome própria desde 3 de janeiro;
- 37 ex-presas políticas em Evin (ver o comunicado);
- Navid Taghavi, presa em liberdade temporária, a filha dela Mariam Claren e outros apoiantes de Taghavi na Alemanha;
- A estrela pop rebelde Mehdi Yarrahi, recentemente condenado a dois anos de prisão e a 74 chicotadas devido a uma canção dele contra o hijab obrigatório, “Roosarito”;
- Familiares de presos políticos, incluindo o pai de Narges Mohammadi, de 90 anos, familiares de Sepideh Gholian, mulheres e pais de presos condenados à morte;
- Os presos políticos Zeinab Jalalian (uma ativista curda condenada a prisão perpétua por alegada pertença a um partido curdo), Amirhossein Moradi e Ali Younesi (estudantes de universidades de elite condenados a 16 anos de prisão por terem organizado protestos estudantis);
- 111 ativistas sindicais e laborais no Irão;
- Hadi Ghaemi, do Centro de Direitos Humanos do Irão, com sede em Nova Iorque.
Foram publicadas importantes declarações de apoio, incluindo:
- da ex-presa política Somayeh Kargar;
- da Associação de Escritores Iranianos, de organizações de estudantes universitários e das Mães do Parque Laleh;
- de mais de 300 mulheres ativistas iranianas;
- de Peter Tatchell, um conhecido ativista LGBTQ no Reino Unido e signatário do Apelo de Emergência da CIE [ler em inglês/castelhano].
A notícia da greve da fome das prisioneiras foi divulgada em noticiários internacionais, como o de Christiane Amanpour na CNN e o do canal televisivo ABC News. As notícias também circularam amplamente nas redes sociais no Irão e em todo o mundo, com os hashtags #StopExecutionsinIran [Fim às execuções no Irão] e #NotoExecution [Não às execuções].
Como publicou Somayeh Kargar: “O #StopExecutionsInIran não é uma petição à República Islâmica. (...) Não é uma coincidência que a voz desta luta tenha sido erguida desde o interior da prisão de mulheres (...)”3
Na semana anterior à greve da fome das prisioneiras foram organizados muitos protestos pela diáspora iraniana na Suécia, Canadá, Alemanha, EUA, Grã-Bretanha, França, Áustria, Bélgica, Itália, Dinamarca, Países Baixos, Austrália e Finlândia.4 Outros protestos estão a ser planeados para as próximas semanas.
Nota dos organizadores da CIE: Os EUA estão a pescar em águas turvas
Os EUA viram a indignação em torno das execuções como uma oportunidade de ganharem capital político contra o Irão, como parte das suas atuais tensões com a RII e os parceiros dela no Médio Oriente, agora intensificadas devido ao genocídio israelita em Gaza, tensões essas que ameaçam transformar-se numa guerra regional mais vasta.
Ninguém deve deixar passar a grotesca ironia de que, no próprio dia da greve da fome das prisioneiras contra a pena de morte, os EUA estavam a levar a cabo a execução do preso Kenneth Eugene Smith no estado norte-americano do Alabama. O violento e cruel assassinato dele pelo estado durou meia hora e foi usado uma substância química (hipoxia por azoto) que a Associação de Medicina Veterinária dos EUA diz não dever ser usada em animais. E ainda que as execuções oficiais nos EUA sejam menos do que no Irão, a polícia norte-americana assassina sistematicamente por ano mais de mil pessoas (na sua maioria negros e latino-americanos), tendo atingido em 2023 um nível recorde de “execuções na rua”.5
Continuar a lutar pelos presos políticos no Irão
É necessário que o espírito destemido das presas políticas de Evin se propague a todo o Irão e a nível mundial. As vidas e a dignidade de TODOS os presos políticos no Irão estão em risco num momento em que eles resistem com valentia e audácia. A CIE está a organizar uma noite de revolta cultural pela libertação de Toomaj Salehi e de todos os presos políticos, a 24 de fevereiro no Starry Plough Pub, em Berkeley, Califórnia.
NOTAS:
1 Mohammad Ghobadlou foi condenado, sem nenhuma prova para além de uma confissão obtida sob tortura, pelo atropelamento e morte de um polícia durante a revolta Mulher, Vida, Liberdade no outono de 2022. A sentença de morte dele tinha sido anulada pelo Supremo Tribunal e enviada de volta aos tribunais de nível inferior para novo julgamento, mas esse julgamento foi bloqueado secretamente pelas autoridades judiciais e o advogado e a família só souberam da execução dele com 12 horas de antecedência. Farhad Salimi foi detido em 2009 juntamente com seis outros homens da minoria religiosa sunita curda e condenado em 2018. Todos os coacusados foram torturados e foi-lhes negada representação legal. A condenação deles foi anulada pelo Supremo Tribunal, mas eles foram julgados novamente usando as mesmas provas forjadas. Quatro deles já foram executados e os restantes três estão em perigo iminente de execução. “As execuções de um manifestante com deficiência mental e de um homem curdo representam um novo nível de crueldade” [inglês/castelhano], Amnistia Internacional, 24 de janeiro de 2024.
“Irão: 2 detidos executados, 11 à espera de execução iminente”, hrw.org, 23 de janeiro de 2024. Segundo a organização Human Rights Watch, a RII executou pelo menos 746 pessoas em 2023. Pelo menos sete delas terão participado nas manifestações da revolta Mulher, Vida, Liberdade. Há atualmente 11 presos políticos ou de segurança em perigo iminente de execução, quase todos de minorias oprimidas (oito ativistas curdos e dois baluchis).
2 “Ativistas iranianas iniciam greve da fome contra a execução do manifestante Mohammad Ghobadlou”, ABC News, 25 de janeiro de 2024.
3 A ex-presa política Somayeh Kargar manifestou na rede social X (ex-Twitter) o apoio dela: “O #StopExecutionsInIran não é uma petição à República Islâmica. A nossa luta política determinada é contra toda a República Islâmica e o seu sistema de repressão sistemática. A execução é um crime que é necessário parar: não à execução de ninguém, em nenhuma posição, por nenhum motivo. Lutemos contra as execuções e lutemos pela libertação imediata e incondicional dos presos políticos! (...) Não é uma coincidência que a voz desta luta tenha sido erguida desde o interior da prisão de mulheres e ela deve transformar-se na nossa determinação geral de derrubar o sistema”. Texto adaptado da tradução para inglês feita por voluntários da CIE a partir da publicação dela em farsi.
4 “Protestos globais condenam as sentenças de morte no Irão”, irnintl.com, 21 de janeiro de 2024.
5 “Após anos de promessas e reformas, a praga da violência e assassinatos policiais tornou-se ainda pior em 2023, só a revolução pode acabar com esta loucura” [inglês/castelhano], revcom.us, 22 de janeiro de 2024.