Morreu João Isidro
Por B. Lisboa
Morreu no passado dia 7 de Julho, aos 58 anos, vítima de cancro, o jornalista João Manuel Morais Isidro. O funeral realizou-se no dia seguinte para o Cemitério dos Olivais.
João Isidro nasceu a 2 de Abril de 1950 em Lisboa e concluiu o liceu na Guarda, tendo-se tornado desde muito cedo um resistente antifascista. Destacou-se sobretudo como militante maoista quando era estudante na Faculdade de Direito de Lisboa (FDL), onde entrou em 1967. Em Direito combateu ao lado de Ribeiro Santos, de quem foi um dos mais próximos camaradas até à morte deste em 1972, e com quem partilhou a militância no MRPP.
Foi preso pela PIDE no seu quarto logo em Maio de 1968, no seu primeiro ano na universidade, no primeiro de diversos confrontos directos com o regime fascista, que o levariam também à barra dos tribunais. A sua intensa actividade revolucionária levá-lo-ia a participar e ser dirigente de diversas associações, clubes e cooperativas em simultâneo, incluindo ser membro dos corpos gerentes do Cine-Clube Universitário de Lisboa (CCUL).
Muito antes do 25 de Abril de 1974 já tinha começado a desenvolver a sua longa carreira de jornalista. Tornou-se conhecido como redactor permanente da revista revolucionária “O Tempo e o Modo”, entre 1971 e 1975, e acabaria por se tornar também, entre 1973 e 1977, jornalista do semanário “Expresso”, inicialmente um bastião da oposição burguesa liberal ao Estado Novo. Entre outros órgãos de comunicação, passou pela Agência Anop, Opção, “A Capital”, Rádio Comercial, “Tempo”, Nova Gente, “Hermes”, “O Século”, “Vida Mundial”, “Diário de Lisboa”, “Exame”, “Fortuna”, “Tal&Qual”.
Envolvido na actividade de jornalista, João Isidro foi um seu importante activista e líder sindical, ao lado de outros jornalistas como Diana Andringa e João Carreira Bom. Colaborou em diversas publicações revolucionárias e sindicais dos jornalistas, esteve ligado à União Popular dos Trabalhadores da Informação (UPTI) e foi, em 1978, membro da Organização dos Trabalhadores Comunistas da Informação (OTCI), do PCTP/MRPP. Viria a ser presidente do Sindicato dos Jornalistas entre 1998 e 2000, onde se destacou pela defesa dos direitos desses profissionais, em particular na aprovação em 1999 da lei de revisão do Estatuto do Jornalismo, que pela primeira vez consagrou legalmente o direito de autor dos jornalistas.
Entre as suas múltiplas actividades, João Isidro publicaria em 1997 o romance autobiográfico Proscritos à Sobremesa, a única obra literária publicada até hoje em Portugal que relata a clandestinidade da extrema-esquerda, neste caso a militância maoista.
João Isidro acabaria por se desligar da militância revolucionária e era conhecida de todos a sua ligação há décadas à Maçonaria. No entanto, tentou manter até ao fim muitos dos princípios que herdou dos seus tempos de militância, o que, numa altura de grande ausência de grandes princípios na actividade jornalística, faria com que ultimamente acabasse a escrever para uma revista de bombeiros.
Nos últimos tempos, ainda aceitou participar em muitos debates sobre os seus tempos de militância, sobre o jornalismo e em denúncias de abusos da burguesia e do imperialismo. Em particular, esteve envolvido em acções recentes de solidariedade com o jornalista negro Mumia Abu-Jamal, um preso político norte-americano condenado à morte num julgamento farsa, devido à sua actividade revolucionária.
19 de Julho de 2008
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Origem dos materiais: Centro de Estudos Operários — Memória Laboral (CEO-ML), memorialaboral.wordpress.com