Publicamos aqui quatro artigos sobre os efeitos do furacão Harvey nos EUA, traduzidos da edição online n.º 506, datada de 28 de agosto de 2017, do Revolution/Revolución, voz do Partido Comunista Revolucionário, EUA (revcom.us/quick/506en.php em inglês ou revcom.us/quick/506es.php em castelhano).

Atualização sobre o furacão Harvey, sábado à noite:
Já há uma enorme destruição... mas o pior pode ainda estar para vir

Publicado a 26 de agosto de 2017

O furacão Harvey fustigou a costa do Texas na última sexta-feira à noite, a nordeste de Corpus Christi. No momento em que escrevemos, é difícil determinar a extensão dos danos causados pelo Harvey. Mas é certo que o temporal de avanço lento já causou uma enorme destruição em Corpus Christi e noutras povoações costeiras de menor dimensão. E o pior ainda pode estar para vir nos próximos dias, incluindo em Houston, a quarta maior cidade dos EUA.

Pelo menos uma pessoa foi dada como morta na sequência do temporal. Inúmeras casas e lojas foram destruídas ou danificadas. Os ventos arrancaram carvalhos gigantes e foram registados a 212 km por hora na povoação de Port Aransas. O Conselho de Fiabilidade Elétrica, que supervisiona a rede elétrica do Texas, reportou que centenas de milhares de pessoas estavam sem eletricidade no sábado de manhã; cerca de 200 mil pessoas só na zona de Corpus Christi.

O presidente municipal interino da povoação costeira de Rockport, que tem uma população de cerca de 10 mil pessoas, aconselhou que os residentes que não saíram da zona, ou que não puderam sair, se deveriam “preparar de alguma maneira para marcar um braço com um marcador permanente. Ponham nele o vosso número da segurança social e o vosso nome”, para que os cadáveres possam ser identificados. Depois da chegada do temporal, o Presidente da Câmara [Prefeito] disse à CNN que a povoação tinha sofrido uma “devastação generalizada” e que as autoridades ainda não tinham feito vistorias nem buscas às casas à procura de pessoas feridas ou mortas pelo temporal. Ele disse: “Já sofremos um duro golpe com o temporal, mas estamos a antecipar outro golpe” com as inundações que se seguirão ao temporal.

O que é importante sob este sistema capitalista

Um desastre natural como o Harvey revela várias coisas fundamentais sobre a sociedade em que ele ocorre – coisas importantes sobre as relações económicas e sociais dessa sociedade e sobre aquilo a que as pessoas que o dominam dão valor. Mesmo nas fases iniciais deste temporal em que muita da informação sobre a extensão dos danos ainda é pouco clara e a destruição está longe de estar terminada, algumas verdades começam a vir à luz do dia.

As chuvas mais fortes só agora começaram a fustigar a zona de Houston. As previsões são de que se irão manter durante vários dias. Houston é uma cidade plana e baixa, de apartamentos, com inúmeros bayous – regatos lentos e salobros que serpenteiam por toda a área metropolitana. Eles são propensos a transbordar, mesmo durante os intensos e frequentes temporais que fustigam a zona e inundam frequentemente partes inteiras da cidade. Agora, alguns dos bayous já estão prestes a transbordar das margens, e está previsto até meio metro de chuva. Quantos dos quase 6,5 milhões de habitantes da zona de Houston irão perder as suas casas, os seus veículos – e mesmo as suas vidas – ainda está para se ver.

O governador do Texas, Greg Abbott, aconselhou as pessoas em Houston a evacuarem: “Se eu estivesse a viver na região de Houston, como já estive, decidiria dirigir-me para as zonas a norte.” Entretanto, o Presidente da Câmara de Houston, Sylvester Turner, disse às pessoas para aí permanecerem, e a declaração dele foi reproduzida por um funcionário do Gabinete de Segurança Interna: “Os responsáveis locais sabem o que é melhor. Houston não tem nenhuma ordem de evacuação.” Isto não foi uma disputa pessoal. Foi uma expressão do facto de não haver nenhum plano sistemático e global de preparação para uma catástrofe ambiental e humana previsível numa área metropolitana densamente povoada e espalhada.

É uma área onde, como dizia um artigo do ano passado do jornal Texas Tribune e da ProPublica, a questão “não é se, mas quando a tempestade perfeita irá atingir Houston”. O pântano Búfalo Bayou foi dragado, alargado e rebatizado Canal Naval de Houston. É “uma das vias marítimas mais movimentadas do mundo. Flanqueado por 10 refinarias – entre as quais a maior do país – e por dezenas de fábricas químicas, o Canal Naval é uma rota crucial de passagem para o crude petrolífero e outros produtos chave, como os plásticos e os pesticidas.”

Há uma grande possibilidade de um temporal como o Harvey – com vagas ciclónicas de temporais que vêm do Golfo do México e da Baía de Galveston e com massivas inundações que chegam a ficar descontroladas no Búfalo Bayou – poder desencadear uma catástrofe ambiental (...) para as pessoas que vivem na zona e para os frágeis e já ameaçados ecossistemas da Baía de Galveston e do golfo e para os pântanos ao seu redor. A costa do Golfo do Texas é o habitat daquilo a que um artigo do jornal The Guardian descreveu como “uma surpreendente variedade de vida, desde peixes e anfíbios a pássaros que aí fazem escala durante as migrações ao longo da grande Rota Migratória Central, vindos dos seus habitats de inverno na América do Sul para os territórios de nidificação no Ártico. O que acontece às dunas, aos estuários e aos pântanos ao longo da parte superior da costa do golfo pode ser sentido em todo o hemisfério durante anos.”

Os responsáveis governamentais e os comentadores nas publicações empresariais têm exprimido preocupação de que uma interrupção da produção e dos transportes navais causada por um temporal ao longo do Canal Naval de Houston seria disruptiva para a economia global (capitalista) e para a rentabilidade das multinacionais com instalações aí. Um grande temporal que atinja o Canal Naval poderia mesmo “matar a economia dos Estados Unidos”, alegou um congressista republicano. Mas, como salientaram os autores do artigo do Texas Tribune/ProPublica, “Apesar de toda a sua importância económica, o Canal Naval é também o canal perfeito para transportar uma vaga ciclónica de temporais para uma zona industrial que também é densamente povoada. (...) O próprio Canal Naval (...) ficaria provavelmente coberto de lixo com escombros e toxinas.” Isto já aconteceu em temporais anteriores que foram menos destrutivos do que se prevê que venha a ser o Harvey.

O furacão Ike atingiu Houston em 2008. Não foi tão poderoso como o Harvey. Segundo um relato do canal televisivo NBC News, “Nos dias anteriores e posteriores ao mortífero temporal, as empresas e os residentes reportaram pelo menos 448 derramamentos de petróleo, de gasolina e de dezenas de outras substâncias no ar, na água e no solo nos estados do Luisiana e do Texas. Os lugares mais duramente atingidos foram os centros industriais perto de Houston e Port Arthur, no Texas. (...) ‘Estamos a lidar aqui com uma multitude de diferentes tipos de poluição, (...) tudo desde gasóleo na água a gasolina e coisas como produtos químicos domésticos’, disse um oficial da Guarda Costeira.” Essas toxinas causaram “danos ambientais generalizados, (...) atravessaram as ilhas barreira da região, levando escombros para a Baía de Galveston e para o golfo e pondo em perigo animais, peixes e plantas ao vazarem quantidades excessivas de água salgada nos pântanos.”

Este sistema capitalista-imperialista está infernalmente distorcido para maximizar o lucro. Os seus representantes e líderes estão focados em preservar a sua rentabilidade durante os tempos de tensão e temem as disrupções que ameacem o seu funcionamento. Eles tomam algumas medidas para protegerem e garantirem os seus investimentos – ao mesmo tempo que não fazem quase nada para implementar preparativos que poderiam servir de salvaguarda contra a destruição ambiental e contra os danos daí resultantes causados aos seres humanos e a outras formas de vida.

É um sistema que já passou de prazo há muito tempo.

 

Vozes de Houston e Rockport:
“Não merecemos que nos tratem assim”

Atualizado a 29 de agosto de 2017

Relato de Rockport, diretamente atingida pelo furacão Harvey: “Grande parte da cidade são apenas pilhas de escombros...
mas isto vai ficar pior”

Rockport, Texas, é uma povoação de cerca de 10 mil habitantes no Golfo do México, logo a norte de Corpus Christi. O furacão Harvey passou diretamente por dentro e por cima de Rockport, com ventos de mais de 210 km por hora. A pequena povoação foi arrasada e transformada em escombros. Recentemente, o Revolution/Revolución teve oportunidade de falar com um residente de longa data de Rockport que partiu pouco antes do impacto do furacão e que agora regressou à povoação. Os seguintes excertos são dessa conversa.

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O temporal veio diretamente para cima de nós. Não houve realmente tempo para ninguém se preparar. Parecia que ia tocar terra mais a sul, no Vale (do Rio Grande), e que não ia ser assim tão poderoso. Então, muito rapidamente, isso mudou. Na realidade são precisas umas 72 horas para evacuar uma povoação, mesmo do tamanho de Rockport, mas nós não tivemos sequer metade disso. Assim, algumas pessoas fizeram-no e outras não. Ou porque não quiseram ou porque não puderam. Rockport é basicamente uma península, com água em três lados, pelo que só há uma saída. Há uma ilha barreira entre a povoação e o Golfo, mas ela é como que um banco de areia que está a desaparecer rapidamente. E isso é realmente mau para as pessoas que não conseguiram sair da povoação. E para muitas das que conseguiram.

Eu fui para San Antonio e fiquei lá durante um par de dias. [Depois de regressar a Rockport,] foi um choque ver o que tinha acontecido aqui. Muitas partes da cidade são apenas pilhas de escombros. Uma coisa que as pessoas não entendem é que um furacão é como um enorme tornado. Eu cresci num lugar onde havia muitos tornados, e podia haver um edifício obliterado e muito perto dele haver um edifício de pé, como se nada lhe tivesse acontecido. A maior parte do que havia aqui desapareceu, mas algumas coisas continuam de pé. Não muitas, mas algumas.

Mas passa-se por estes parques de caravanas, e eles já lá não estão. Os parques de caravanas são o pior caso. O Condado [Município] de Aransas é o menor município do Texas, em tamanho, e cerca de metade das pessoas vive em Rockport. Mas ainda há zonas isoladas e a maior parte delas parecem ser muito rurais. Por isso vai demorar bastante tempo a vistoriar realmente tudo e ver o que ficou. Ver quem ficou. Ouve-se dizer várias coisas sobre quantas pessoas estão mortas. Eu não sei. Mas isto vai piorar.

“Ninguém sabe realmente quantas pessoas morreram”

Há algumas casas realmente caras aqui em Rockport. Isto é uma povoação turística e de aposentados. Mas está mesmo na baía, há água em todo o lado, a pesca é fantástica. Por isso algumas pessoas construíram algumas casas muito caras. Há um famoso cantor country com casa aqui... não é Garth Brooks, mas é alguém assim. Assim, há um punhado de multimilionários que têm enormes mansões e grandes iates, talvez mesmo courts de ténis. Posso dizer-te, estive lá, e esses lugares já não existem. Foram aplanados. Se alguém for lá agora pode não reconhecer o que lá estava antes.

Mas a maior parte da povoação é pobre. O nosso salário médio é elevado porque há essas pessoas muito ricas. Mas basicamente todas as outras pessoas são pobres ou estão aposentadas, ou ambos. Há muitos aposentados. A maior partes deles, na realidade quase todos eles, não tem muito dinheiro. Alguns deles vivem aqui todo o ano, outros vêm durante o inverno e as pessoas chamam-lhes “pássaros da neve”. Mas quase todos eles vivem nessas pequenas caravanas que são bastante frágeis. Eu estou muito preocupado com o que se vai encontrar quando lá forem as equipas de busca e salvamento.

Além disso, muito deles estão nesses pequenos parques de caravanas no campo. A maioria das estradas que saem de Rockport é de gravilha. Ora, há árvores derrubadas, postes derrubados, linhas elétricas derrubadas, escombros espalhados por todo o lado. Quando digo escombros, significa grandes pedaços de madeira, eletrodomésticos, maquinaria, todo o tipo de materiais. Pelo que andar por lá não é fácil. Mesmo numa pequena povoação como esta e num pequeno município como o Condado de Aransas, vai demorar algum tempo. Nós retirámos antecipadamente muitas pessoas, pessoas que precisavam de ajuda, que tinham problemas físicos.

Cerca de 60% da população são hispânicos. Quase todas as pessoas que trabalham nos restaurantes, nos barcos de pesca ou noutras coisas na industria turística são hispânicos. Os ICE [serviços de imigração] andam muito por aqui. As pessoas falam sobre isso dizendo: eles invadem restaurantes e outros lugares e depois os proprietários vão a Laredo e sabem o que fazer para que as pessoas regressem ao trabalho, o que acontece ao fim de uma semana. Mas isto parece ser diferente.

A H-E-B (uma grande cadeia de supermercados) tem trazido caminhões de alimentos e gelo de San Antonio. Montaram grandes áreas para as pessoas e parece que elas estão abertas a toda a gente. Se as pessoas sentem que lá podem ir, não sei. Agora há um recolher obrigatório, das 7h da noite às 7h da manhã ninguém pode estar na rua. Além disso, há controlos nos únicos caminhos para a povoação. Não estão a negar nada a ninguém por não ter documentos, tanto quanto consigo dizer, mas quem sabe quanto tempo isso irá durar. A SB4 [lei anti-imigrantes do estado do Texas] entra em vigor esta semana, penso que é assim.

Ninguém sabe realmente como vamos lidar com esta situação. Ninguém sabe realmente quantas pessoas morreram. Ninguém sabe realmente o que será necessário para voltar a pôr de pé esta povoação. Provavelmente não iremos ter água durante várias semanas. Não temos energia elétrica. Os sistemas informáticos estão em baixo. Um aspecto positivo, se assim se pode dizer, é que a temperatura baixou depois do furacão. Normalmente é de cerca de 38ºC nesta época do ano. Mas isso regressará, e voltaremos a ter calor, insetos, águas estagnadas e provavelmente doenças. Não sabemos onde é que as crianças irão à escola.

Pelo que toda esta situação é difícil. E insegura. E provavelmente vai manter-se assim durante algum tempo.

Houston, 4º dia: Intensificação da devastação para as pessoas, aumento da repressão... e mais chuva esperada

Segunda-feira, 28 de agosto – O Harvey continua a despejar uma chuva torrencial sobre Houston e o litoral do leste do Texas, e começou a alagar partes do Luisiana. As inundações generalizadas das ruas da cidade e das estradas interestaduais devido ao transbordar dos bayous, rios, riachos e lagos são um grande problema. As pessoas estão a sofrer a devastação, milhares de pessoas ficaram sem casa e podem desenvolver-se graves ameaças à saúde pública. Depois de tocar terra como furacão de Categoria 4, o temporal regressou ao Golfo do México e depois dirigiu-se novamente para o interior, trazendo com ele mais chuva.

O revcom.us/Revolution/Revolución falou com um residente de Houston na segunda-feira à noite. Mantenham-se atentos à medida que se desenvolve esta situação.

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Revcom.us/Revolution/Revolución: Então eu vou fazer-te perguntas sobre os desenvolvimentos mais significativos do Harvey, em particular em Houston, e sei que estás a falar sobre a parte nordeste da cidade que foi particularmente atingida ontem à noite.

H: Eu estava na zona nordeste que é predominantemente um bairro negro empobrecido, e depois há zonas à volta de Lockwood, no 5º Distrito, que é constituído predominantemente por bairros de latino-americanos que foram atingidos ontem à noite. Assim, o que é muito significativo é que a maioria dos salvamentos até este momento está a ser feita por pessoas não-governamentais. Então vê-se todas as imagens delas a entrar nos bairros e a tirar as pessoas para fora desses bairros com barcos insufláveis, barcos-ónibus, caiaques e coisas desse género.

Revcom.us/Revolution/Revolución: Para onde vão?

H: Sim, isso é um problema. Neste momento, o Centro de Congressos George R. Brown, com uma lotação de 5000 pessoas, já excedeu essa capacidade. E agora alguns dos outros abrigos também estão quase cheios. A projeção das conferências de imprensa do município é de que estão à espera que 30 mil pessoas precisem de abrigo. Portanto, elas estão a ser levadas para o George R. Brown... mas ele já não tem capacidade para alojar as pessoas, e para as alimentar e as manter aquecidas. De maneira que é uma coisa que se está a desenvolver.

Ora esta zona de Tidwell e da Beltway é um bairro negro empobrecido, e então estão estes barcos a ir e a voltar – e a Guarda Costeira... o Governo Federal, ou o que terá sido, ordenou-lhes que assim que anoiteça a Guarda Costeira já não pode usar os helicópteros e as agências oficiais já não podem pegar nos barcos dela para salvar pessoas, para recolher pessoas. E continua a chover lá. E aparentemente, através das redes sociais, as pessoas organizaram-se e as pessoas desse bairro encaminharam-se todos para um local designado, penso que debaixo de um viaduto, onde ficaram à espera da chegada de um barco. Então, quando escureceu, os jornalistas começaram a dizer que havia mais de 100 pessoas à espera debaixo desse viaduto – e ninguém apareceu para os recolher.

Revcom.us/Revolution/Revolución: Estavas a dizer algo sobre a polícia ter chegado e causado confusão com elas.

H: Sim. Portanto, creio que houve 12 mil ou mais Guardas Nacionais que entraram na cidade hoje. Não é claro para que é que eles vão ser utilizados.

Revcom.us/Revolution/Revolución: Eu ouvi dizer 4 mil.

H: Eles reforçaram esse número. Nova Iorque enviou vários milhares. Alguns outros estados enviaram a Guarda Nacional deles. Assim, é toda a Guarda Nacional do Texas mais a Guarda Nacional de outros estados. Portanto, há toda esta vaga de forças repressoras que não é claro o que vão fazer.

Revcom.us/Revolution/Revolución: Houve uma declaração do Presidente da Câmara.

H: Eles fizeram uma conferência de imprensa hoje à noite em que o Presidente da Câmara declarou que em Houston “salvamos e prendemos”. Que não irão tolerar nenhuma “pilhagem”. E depois o representante do Departamento de Polícia de Houston disse que não seriam tolerantes em relação ao crime, ou às tentativas de cometer crimes, nem a que se aproveitem das pessoas, ou lá o que for. Mas agora temos mais olhos e ouvidos no terreno com todas estas agências que chegaram e que, pelo que sabemos, basicamente vão ser “duros contra o crime”.

Revcom.us/Revolution/Revolución: Mencionaste algo sobre um derramamento.

H: Aparentemente há um derramamento tóxico no Canal Naval que ocorreu esta tarde. Não sei exatamente o que foi, mas em toda a zona de LaPorte e de Channelview eles estão a dizer às pessoas para se albergarem onde estiverem. Eles não revelaram a natureza dos produtos químicos mas estão a dizer que é algo relacionado com as inundações.

Uma outra coisa é que também há inundações muito mais extensas em lugares onde não se estava à espera que houvesse inundações. O Rio Brazos está a transbordar das suas margens pelo que há evacuações obrigatórias da parte ocidental de Houston, de várias zonas...

Revcom.us/Revolution/Revolución: A parte ocidental de Houston...

H: Sim. Por isso estão a resgatar todas estas pessoas, não é claro exatamente para onde é que é suposto elas irem. Mattress Mac (dono de uma loja local e filantropo) abriu algumas das lojas dele e está a albergar as pessoas. Mas é sabido que ele só pode albergar 100 pessoas ou próximo disso em cada uma das lojas dele, e elas já estão cheias.

Revcom.us/Revolution/Revolución: Alguém estava a dizer-me que há um grande contraste entre as acomodações que as pessoas obtêm aí e no George R. Brown... em termos de comida, água e lugares para descansarem.

H: Sim, tenho a certeza que há. E o George R. Brown agora está cheio... onde vão eles pôr essas pessoas? Os autocarros, depois de as recolherem, estão simplesmente a despejá-las lá, a despejá-las no George R. Brown.

Revcom.us/Revolution/Revolución: E é esperada mais chuva.

H: Sim, é esperada mais chuva. E continua a chover.

Domingo, 27 de agosto

O Revolution/Revolución/revcom.us recebeu de Travis Morales as seguintes entrevistas feitas numa altura em que as cheias criadas pelo furacão Harvey estavam a inundar Houston, Texas. Estas entrevistas foram feitas no Centro de Congressos George R. Brown, no centro da cidade de Houston, um dos lugares onde estavam a ser alojados aqueles que não conseguiram encontrar abrigo entre a família ou os vizinhos.

Kerin: “Não merecemos que nos tratem assim”

Antes de a água ter começado a subir, não tivemos nenhum aviso. Nós vimos as notícias. Sentíamos que não ia ser muito forte. Fomos para a cama e não estava a chover. Acordámos esta manhã e tivemos de sair de casa. Havia água até o segundo andar do apartamento, pelo que pegámos num colchão insuflável. Tivemos de atravessar um campo inteiro, até à autoestrada interestadual I-45. E foi aí que fomos recolhidos. Estávamos com o meu vizinho, a esposa, o filho dele, os nossos cães, todos à espera. Fomos recolhidos pela polícia. Depois deixaram-nos junto a um autocarro e disseram-nos que o autocarro nos levaria para um abrigo. Ficámos ali sentados durante cinco horas ou mais, comendo bolachas e bebendo água. Então disseram-nos que nos iam levar para o Centro de Congressos George R. Brown.

Ficámos todos entusiasmados porque recebemos alguma comida quente. Mas não nos deixaram entrar porque tínhamos trazido connosco os nossos cães, esperando que eles nos ajudassem. Agora estamos à espera fora do edifício numa calçada fria e molhada, sem lugar para dormir.

Eles têm travesseiros e mantas. Se nos vão obrigar a dormir cá fora, pelo menos que nos deem travesseiros e mantas. As pessoas que são privilegiadas em relação às pessoas das classes mais baixas não se preocupam nada connosco. Limitam-se a discutir entre elas, não estão a ajudar ninguém. Eu vejo pessoas aqui fora que quase não se conseguem aguentar de pé, que é suposto elas fazerem?

A polícia lá dentro está a ser violenta e rude. Não merecemos que nos tratem assim. Neste momento, eu podia ir para casa da minha filha. Mas não tenho transporte. Lá não há autocarros. Eles estão a tratar-nos como lixo. É como se os habitantes de Houston não tivessem direitos. As pessoas fazem Houston. Somos empurrados, insultados e desrespeitados pela polícia.

Anthony: “Para onde é suposto eu ir, para a prisão?”

Eu agora vivo nas ruas. Sou um sem-abrigo. Sou sem-abrigo há cerca de dois meses, estive no centro da cidade, porque é aí que estão os serviços. Não há muitos serviços mas é onde eu estou agora. Ontem à noite, estávamos a tentar caminhar pela rua e um polícia puxou-nos e disse-nos que tínhamos duas opções – ir para um abrigo ou para a prisão. Por quê? Por nada, mas ele disse que só tínhamos essas opções.

Ora, só há dois lugares para onde ir aqui, o Exército de Salvação e um outro abrigo. Fomos ao Exército de Salvação e eles estavam a pôr as pessoas na rua à chuva porque estavam a carregar os telefones deles – é verdade, à chuva ontem à noite porque eles estavam a carregar os telefones deles e não era suposto estarem a fazê-lo. (...) Os meus sacos estavam a ficar todos molhados, o meu cartão da segurança social e a minha certidão de nascimento, tudo. Estivemos lá fora à chuva umas boas 10 horas antes de conseguirmos entrar com a esperança de arranjarmos uma cama. Dizem-nos para irmos para um abrigo, mas depois o abrigo é limitado. Então, para onde é suposto eu ir, para a prisão? Porque este lugar acabou de abrir. Tem estado a chover desde sexta-feira e não havia nenhum lugar para onde ir – sobretudo quando o abrigo nos põe na rua por estarem a carregar os telefones deles. Por uma coisa tão insignificante como isso. E não são só os serviços, eles têm muitas coisas que estão disponíveis mas que simplesmente não as disponibilizam.

Eu sou de Las Vegas, já estou aqui há sete meses. Arranjei um trabalho. Isso é outra coisa, tenho trabalho e estou sem casa, sabes o que te estou a dizer? Estou a tentar fazer com que as coisas funcionem. Estou a trabalhar na construção, sou canalizador. E acabei de requerer um apartamento a semana passada. Por isso estou a tentar conseguir acabá-lo, mas foram precisos dois meses e meio...

Pancho: “Não temos salva-vidas e estas pessoas não sabem nadar”

Como toda a gente sabe, o temporal estava a chegar. Na sexta-feira à noite tudo parecia estar bem, mas depois chegou o sábado à tarde e o aviso de que o temporal estava a chegar. E começámos a notar que a rua estava a ficar inundada e em apenas 45 minutos tinha cerca de um metro de profundidade, era muito. Tivemos de deslocar os nossos carros. Também pusemos mantas no chão para tentar bloquear a água. A água começou a entrar na casa pelas paredes e ficámos com 8 a 10 cm de água. (...) Temos connosco duas crianças mais a minha sogra que tem 65 anos.

Era só chuva, foi realmente assustador. Nunca passei por nada assim. Como te disse, tenho as crianças comigo e, vou dizer as coisas desta maneira, se a água subir mais, não temos nenhum salva-vidas e estas pessoas não sabem nadar. Eu sou o único que sabe nadar. Temos cinco pessoas que não sabem nadar e apenas uma que sabe. Eu não ia conseguir cuidar de todas elas.

Conel: “Foi a primeira vez em toda a minha vida que estive na prisão – durante o furacão Katrina”

Não sou realmente um sem-abrigo, mas não tenho casa. Tenho emprego. Trabalho num McDonald’s. Estou no ramo da restauração, a servir às mesas, a cozinhar, coisas assim. (...) Comecei em Nova Orleães, mas não vim para aqui durante o Katrina. Fui encarcerado durante o Katrina. Nessa altura, só havia dois delitos – pilhagem e violação do recolher obrigatório. E eu, sendo um homem negro, estava num bairro branco e havia muitas fissuras nas casas e eu, que estava nesse bairro, detiveram-me. Foi a primeira vez em toda a minha vida que estive na prisão – durante o furacão Katrina. E eles trataram de me retirar seis anos da minha vida. E eu, não conhecendo a lei, o sistema e como funciona a prisão, fiquei em silêncio. É isso que eles tentam fazer a muitas pessoas que não conhecem o sistema. Eles detiveram-me e passaram de seis anos para três. E eu dizia-lhes, senhor, uma pessoa como eu, não vai para a prisão. Passar por tudo isso, não sei se sou capaz de aguentar isso.

Escrevi uma carta ao superintendente dizendo que não devia estar ali e que precisava de algo melhor para mim. E a carta chegou ao superintendente e pediram-me que fosse para uma residência de transição. E assim passei cerca de 18 meses numa residência de transição, poupando algum dinheiro. O meu delito ainda era recente, por isso não conseguia arranjar apartamento e então comecei a ficar em motéis. E é assim que tenho vivido desde então.

 

A devastação no Texas: Nove maneiras em como é um crime deste sistema

Publicado a 30 de agosto de 2017

Obtém o PDF deste artigo para o poderes imprimir e distribuir amplamente: inglês ou castelhano.

O furacão Harvey devastou o sudeste do Texas. Já morreram trinta pessoas. Um terço do Condado de Harris, onde se situa Houston, está agora debaixo de água. A vida e o futuro de milhões de pessoas estão em risco.

Porque é que este furacão fustigou com tanta força? Porque é que tantas pessoas estão a viver precisamente no caminho de furacões e inundações? Porque é que não foi preparado nenhum verdadeiro plano para evacuar as pessoas para lugares seguros ou para cuidar delas durante o tipo de emergência de temporais que toda a gente sabia que estava a chegar? E porque é que, ainda agora, as autoridades são incapazes de prevenir o sofrimento generalizado e as devastadoras perdas para tantos milhares de pessoas?

Isto não é só o funcionamento da natureza, nesta catástrofe entra também o funcionamento de um sistema. As coisas não tinham de acontecer desta maneira.

1. O sistema do capitalismo-imperialismo é fundamentalmente responsável pelo aquecimento global que faz com que temporais como o Harvey ocorram mais frequentemente e com muito mais intensidade.

2. Houston, uma cidade com milhões de habitantes, foi construída exatamente no caminho dos furacões, numa planície de aluvião conhecida por ser um desastre de inundações à espera de acontecer, porque aí era lucrativo produzir e transportar petróleo e outros produtos.

3. Nesse lugar inseguro foram construídas instalações tóxicas e perigosas de refinação de petróleo, de produtos petroquímicos e pesticidas, porque o ímpeto desenfreado do capitalismo pelo lucro e pela dominação tornam este sistema incapaz de proteger quer as pessoas quer o meio ambiente.

4. As indústrias capitalistas do petróleo, do imobiliário e do desenvolvimento têm lucrado através da substituição das barreiras naturais às inundações, como os bosques, os prados e as zonas húmidas, por centros comerciais, autoestradas e projetos imobiliários – tornando muito pior a inundação de Houston.

5. Nos últimos 40 anos, Houston foi mais inundada que qualquer outra grande cidade norte-americana, mas um verdadeiro plano contra os desastres para evacuar, albergar ou cuidar das pessoas não gera lucros nem serve o capitalismo – por isso nunca é feito.

6. Aqueles que foram explorados e oprimidos para criarem a riqueza do capitalismo são sempre os mais vulneráveis quando ocorre um desastre. Eles não têm nem dinheiro nem recursos para se prepararem para os temporais, para fugirem quando eles ocorrem nem para recuperam da devastação.

7. Os imigrantes têm sido explorados e aterrorizados por este sistema, e agora podem ser presos ou deportados por procurarem abrigo e segurança. A Patrulha Fronteiriça deixou isto cruelmente claro: “As leis não serão suspensas e nós estaremos vigilantes contra qualquer esforço por parte de criminosos para explorarem as perturbações causadas pelo temporal.”

8. O capitalismo põe todas as pessoas a competirem umas contra as outras por empregos, habitação e ensino e promove valores do tipo “eu primeiro” – veja-se o caso de Trump. As pessoas não são encorajadas nem organizadas e não lhes são atribuídos os recursos para trabalharem coletivamente para se prepararem para as inundações e os furacões. Pelo contrário, são deixadas a se desenvencilharem sozinhas – com as pessoas encurraladas nos telhados, os idosos abandonados em águas que sobem ou famílias a tentar fugir a pé ou de carro para lugares seguros pelas ruas inundadas.

9. Durante esta crise, os governantes deste sistema têm agido para preservar a propriedade capitalista e a ordem social que a serve – e não para satisfazer as necessidades das pessoas.

Isto não é o melhor que a humanidade pode conseguir – um caminho completamente diferente e muito melhor É possível, através da revolução. Já existem o conhecimento e os recursos para satisfazer as necessidades das pessoas, para proteger o meio ambiente e para estabelecer planos de emergência. O obstaculo é o sistema do capitalismo-imperialismo e o poder do estado que o defende com porcos policiais, armas, tanques e exércitos. A Constituição Para a Nova República Socialista na América do Norte, escrita por Bob Avakian (disponível em inglês e em castelhano), fornece uma visão de uma sociedade organizada não para maximizar os lucros de alguns mas para avançar para um mundo onde tenha sido eliminada toda a exploração e opressão e onde a humanidade não é a saqueadora do meio ambiente mas a sua guardiã. Isto É possível; o que é necessário é uma revolução.

 

Palavras de Houston: “As pessoas estão a viver agora alguns dos piores momentos das vidas delas”

Publicado a 2 de setembro de 2017

Os seguintes excertos são de uma entrevista a S., uma jovem negra, numa sessão ontem à noite na Livros Revolução em Harlem, Cidade de Nova Iorque, sobre “O furacão Harvey: Um desastre natural e a crise de um sistema”. Ela cresceu em Houston e tem estado em contacto com familiares e amigos durante o furacão Harvey e as suas sequelas.

Revcom: Onde vivem os teus amigos e familiares em Houston?

S: A minha mãe vive no 3º Distrito onde todos nós crescemos. Fica perto do centro da cidade de Houston. Tem-se gentrificado [aburguesado] muito nos últimos 10 anos, mas historicamente o 3º Distrito é um bairro negro e muitos idosos estão concentrados no 3º Distrito porque muito deles viveram lá toda a vida.

Também a zona sudoeste, onde vive a minha tia, é uma zona para onde muitos pobres e negros têm sido empurrados, porque... vocês sabem como funciona a expansão urbana. Somos expulsos das nossas casas nas zonas urbanas porque são muito caras ou através da gentrificação, pelo que somos empurrados para lugares como o lado sudoeste – Missouri City, os 59, a Beltway, o Parque Meyerland, o Parque Meyer – tudo isto são grandes zonas no sudoeste.

Revcom: As pessoas ficaram surpreendidas com quão intenso foi este temporal?

S: Em primeiro lugar, as pessoas sabiam que ia haver muita chuva, muitas inundações. Mas isto é Houston, temos a temporada dos furacões, mas estamos habituados a isso. Acostumámo-nos a isso e sabemos preparar-nos. Por isso, as pessoas abastecem-se de água, de tábuas para tapar as janelas, de baterias. Arranjam tudo isso. Vai haver um temporal, provavelmente um muito mau, mas vai ser um temporal. Não há nenhuma necessidade de pânico, estamos só refugiados, é isso que os habitantes de Houston fazem sempre.

Penso que as pessoas ficaram surpreendidas por as casas delas ficarem completamente submersas. Penso que as pessoas estavam a prever que ia ser mau. Mas também sinto que a comunicação social não foi verdadeira sobre o quão ruim este temporal ia ser. Em especial, especificamente o governo local não foi suficientemente vocal sobre o quão ruim ia ser e sobre quanto tempo as pessoas precisavam para se prepararem.

Antes disto, Houston e os habitantes de Houston estavam habituados à temporada de furacões, estavam habituados a zonas que se inundavam e prepararam-se como se fosse algo assim. Mas as pessoas ficaram completamente surpreendidas por isto se ter tornado num Katrina.

Revcom: E em relação à evacuação?

S: Em relação à minha comunidade de negros e pobres, para onde podemos ir? Quem tem um carro, ótimo, pode evacuar – mas para onde podem ir? Os municípios à volta de Houston não são muito favoráveis aos pobres e aos negros. São subúrbios brancos e ricos, pelo que não vão acolher as pessoas.

Houston é um lugar onde é preciso ter um carro para nos deslocarmos, e muitas pessoas não têm carro. Dependem dos autocarros, pelo que isso não vai acontecer [depois do Harvey]. Por isso, claro que elas vão escolher ficar se não forem disponibilizados transportes para elas serem evacuadas.

Além disso, têm os seus familiares idosos. Alguns estão acamados, alguns são deficientes, outros requerem constante medicação, por isso, o que é que vão fazer, evacuar e deixar os amigos ou os familiares idosos e inválidos em casa? Não! Não podem fazer isso. Como a minha tia que é a única cuidadora da minha avó, e a minha avó não pode sair de casa a menos que seja numa cadeira de rodas ou numa maca. Por isso, a opção de sair – não é verdadeiramente uma opção, não é verdadeiramente uma escolha. É com isto que muitas pessoas se veem confrontadas.

Revcom: O que estão a dizer os teus amigos e familiares sobre o que tem estado a acontecer?

S: A minha tia, o meu tio, a minha mãe e os meus amigos no sudoeste de Houston e no 3º Distrito têm-me enviado fotos de onde estão e vídeos do que está a acontecer nas zonas à volta deles. As pessoas fora de Houston estão a dizer: “A cobertura noticiosa tem sido fantástica, podemos ver o que está a acontecer lá.” Mas não é assim.

O problema com a cobertura mediática é que às pessoas dentro da cidade – independentemente de terem energia elétrica ou não – não lhes está a ser dito onde é possível passar, onde a água baixou e onde é possível sair à rua. Ou onde se deveriam concentrar para poderem ser evacuadas e obter ajuda. Não estão a receber essa informação e isso é um enorme problema.

Do exterior, estamos a ver aquelas fotografias aéreas da água e dos carros e de tudo debaixo de água. Mas não estão a dizer às pessoas em Houston: “Ei, o supermercado na Rua Willow Bend está aberto, mas não é possível lá chegar pela Willow Bend, mas é possível ir pela Hillcrest.” As estradas que estão cobertas de água e as que não estão cobertas de água. Não lhes estão a fornecer nenhuma dessa informação, como é que elas podem saber, a menos que possam ver essas estradas a partir da casa delas?

E isso é um problema. As pessoas estão a esgotar a comida, estão a esgotar os medicamentos. E precisam de sair, para de alguma maneira poderem obter comida, obter medicamentos, sabes, chegarem a um lugar que esteja seco. Mas como? Com que navegação? Com que orientação?

E depois eles estão a estabelecer recolheres obrigatórios, algo que eu consigo entender, mas as pessoas estão fechadas nas casas delas há uma semana e querem sair de casa pelo menos para respirarem um pouco de ar que não seja o ar da casa. Estão a dizer-lhes que fiquem em casa, que voltem para casa, que não podem estar lá fora. Por quê? Isto são as minhas coisas. Eu deveria poder caminhar fora da minha maldita casa!

Os meus familiares, tanto quanto tenho conhecimento, evitaram as inundações. O meu tio, por outro lado, vive numa zona relativamente agradável, uma zona rica, e lá eles tiveram algumas inundações. A última coisa de que tive notícias deles, eles tinham-se mudado todos para o segundo andar e estavam lá à espera, mas a água que estava a subir já tinha retrocedido.

Mas há pessoas em toda a Houston cujas casas estão cobertas até à garagem, como se todo o primeiro andar delas tivesse desaparecido. Tudo o que se pode ver é um telhado, e é tudo, e a única maneira de se poder ver isso é se estivermos a ver a partir de um helicóptero. E isso está a acontecer agora mesmo na maior parte de Houston.

Revcom: Como é que agora as pessoas estão a obter alimentos?

S: Penso que ontem houve uma pausa na chuva e a minha tia pôde sair e comprar algumas coisas. Alguns dos meus amigos conseguiram sair e comprar algumas coisas. Mas os supermercados – há filas para entrar nos supermercados, filas que podem dar a volta ao edifício. É isso que a minha tia e os meus amigos e outros me estão a dizer. Nem sequer se consegue entrar nas lojas e a comida está a acabar e os abastecimentos estão a esgotar-se. Eles estão a dizer às pessoas como e onde podem obter abastecimentos? Não.

As pessoas têm estado sem sequer as necessidades básicas há pelo menos uma semana. Não trabalham há pelo menos uma semana. E as lojas têm estado fechadas. Alguns estabelecimentos estiveram fechados durante alguns dias. Por isso, as pessoas estão a ficar aterrorizadas, preocupadas e assustadas por poderem não ter dinheiro suficiente. Os pagamentos das rendas estão a chegar amanhã, o primeiro dia do mês. Por isso, só quero que todos se lembrem que as pessoas não estão a ganhar o dinheiro para poderem viver, para cuidarem dos filhos.

Em princípio, em Houston as aulas começam na semana que vem, e toda a gente estava a comprar roupa e materiais e tudo o resto para o regresso às aulas, certo? Tudo isso é passado. Desapareceu. Tudo o que tinham preparado – os almoços, o que fosse, desapareceu. Os jardins infantis para os quais as pessoas tinham feito fila desapareceram.

As pessoas estão a viver agora alguns dos piores momentos das vidas delas. Eu só quero que se reconheça a situação das pessoas e o que é realmente passar por um desastre e perder tudo! E não saberem como vai ser a próxima semana, como vai ser o próximo mês. Porque as casas delas estão completamente submersas – tudo o que elas têm.

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