Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 24 de Fevereiro de 2003, aworldtowinns.co.uk

Turquia alinha na coligação dos que se compram e ameaçam

Nada poderia dizer mais sobre a natureza da próxima guerra de Bush do que o que se passa com a Turquia.

Todos os serviços de notícias relatam que 90 por cento da população da Turquia está contra esta guerra. Mas Bush fez ao governo turco uma oferta que este não pode recusar. Não estava em posição de rejeitar o dinheiro oferecido em troca do uso do território turco para agrupar os soldados norte-americanos e pelos soldados turcos que esperam que combatam os seus irmãos e irmãs iraquianos para benefício da classe dominante dos EUA. A economia da Turquia está nas mãos do Fundo Monetário Internacional, controlado pelos EUA. Quanto mais a Turquia é inundada pelo capital estrangeiro, mais fica escravizada pela dívida externa e mais fortalecidas ficam as forças mais retrógradas da sociedade turca.

Na Turquia há eleições, mas os seus generais têm o último voto. Parece que os enviados de Bush estiveram mais tempo a falar com os oficiais do exército do que com o primeiro-ministro. E esses generais, em troca, são eles próprios lacaios – lacaios dos EUA e de outras potências imperialistas. Enquanto o primeiro-ministro turco tentava dar um aspecto de dignidade face às exigências norte-americanas, e mesmo antes que o parlamento turco pudesse considerar formalmente a proposta, a equipa da logística norte-americana já estava a preparar-se para tomar conta das bases aéreas turcas e para adaptar os portos turcos para receber os navios que esperavam ao largo com milhares de soldados dos EUA.

Mas mesmo os que obedecem têm permissão para dar ordens a outros, desde que respeitem a ordem estabelecida. Enquanto os EUA humilham a Turquia, para a classe dominante turca isso é não só um privilégio como também uma parte do seu trabalho de repressão do povo curdo dentro das fronteiras do país e fora delas. Após a primeira guerra mundial, as grandes potências dividiram o povo curdo em minorias oprimidas na Turquia, Irão, Síria e Iraque. O governo turco reprime o idioma curdo e encarcera pessoas apenas por mencionarem que os curdos são um povo. O governo de Ancara também mantém muito do seu exército concentrado na parte oriental do país para combater os curdos. Importantes bases do exército turco que os norte-americanos querem usar contra o Iraque estão localizadas na parte turca do Curdistão. A Turquia também foi frequentemente chamada a coordenar a repressão do povo curdo em países vizinhos, por exemplo para impedir que os curdos no Iraque e no Irão usassem a guerra entre esses dois países nos anos 80 para se libertarem.

Os EUA esperam que a Turquia alargue o seu papel de pilar da repressão do povo curdo durante a invasão e ocupação do Iraque. Os soldados turcos invadiram frequentemente o Curdistão iraquiano. Cerca de 1200 tropas turcas estiveram estacionadas no norte do Iraque durante os últimos seis anos, e é suposto que dezenas de milhares de tropas turcas avancem ainda mais para sul durante a invasão norte-americana. Enviando o exército turco para “libertar” os curdos iraquianos de Saddam é como mandar o exército israelita para libertar os palestinianos na Faixa de Gaza.

O problema do Iraque, do ponto de vista de Bush, não é a ditadura mas sim quem dita as regras. O governo de Bush anunciou que nunca permitirá a autodeterminação do povo curdo do Iraque ou de qualquer outro lugar. De facto, anunciaram que, à parte uma lista do que chamaram “a dúzia suja” de funcionários de topo iraquianos, pretendem manter intacta a estrutura de poder do Iraque. De acordo com os planos norte-americanos, cada ministério será encabeçado por um oficial militar dos EUA mas a burocracia assassina manterá os seus postos de trabalho. As prisões e as câmaras de tortura que Saddam usou contra os curdos e outras forças tornar-se-ão prisões e câmaras de tortura dirigidas pelos norte-americanos, ao serviço dos interesses norte-americanos.

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