Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 3 de Fevereiro de 2014, aworldtowinns.co.uk

Irão: 32º aniversário da insurreição de Amol

Três dirigentes do Sarbedaran, mortos durante ou pouco depois da insurreição de Amol
Três dirigentes do Sarbedaran, mortos durante ou pouco depois da insurreição de Amol

Nunca os acontecimentos após a revolução iraniana de 1979 e as suas lições foram tão pertinentes como hoje. Nesse ano, uma enorme e prolongada insurreição de massas resultou no derrube do monarca iraniano, o Xá Reza Pahlavi, cujo regime era uma pedra angular do domínio norte-americano no Médio Oriente. Mas, em 1981, o êxtase do período revolucionário deu lugar a um golpe contra-revolucionário liderado pelo Aiatola Khomeini.

Este novo regime não conseguiu consolidar o seu controlo sobre o país todo de uma só vez. Após um período em que conseguiu reprimir o movimento de massas e disseminar a desmoralização, o fermento revolucionário apontado contra o domínio islâmico começou a efervescer de novo no Inverno de 1980. No Verão de 1981, a União de Comunistas do Irão, a organização predecessora do actual Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista), começou a preparar-se para uma insurreição armada que teve lugar em Janeiro de 1982 na cidade de Amol, no norte do país.

Um pequeno grupo de mulheres e homens revolucionários armados chamado Sarbedaran conseguiu tomar a cidade, para alegria de um crescente número de massas comuns. O regime foi forçado a deslocar forças terrestres e aéreas vindas de todo o país. Retomou a cidade após vários dias de luta. A tentativa de capturar as pessoas que tinham ajudado a planear a insurreição ou que a tinham ajudado continuou até muito tempo depois. Alguns anos depois, o regime executou dezenas de milhares de comunistas e revolucionários e mergulhou o país num longo período de trevas. A revolução liderada pelos comunistas fracassou, mas representou a única saída, e os comunistas iranianos estão decididos a que as lições dela conduzam a uma revolução vitoriosa.

O seguinte comunicado, intitulado “A História mostrou quem são que os verdadeiros lacaios dos imperialistas”, foi emitido pelo PCI(MLM) por ocasião do 32º aniversário da insurreição de Amol.

Insurreição de Amol

Há cerca de 30 anos, o camarada Behrooz Fathi – um dirigente da União de Comunistas do Irão (Sarbedaran) e um dos insurrectos de Amol –, quando estava preso e sob tortura selvagem por parte das autoridades islâmicas, respondeu aos seus interrogadores que acusavam a União de Comunistas do Irão e a insurreição armada do Sarbedaran em Amol de ser um projecto “americano”: “A História mostrará quem são os verdadeiros lacaios dos imperialistas!”

Para os comunistas revolucionários que tinham organizado e dirigido a insurreição do Sarbedaran, era claro que o “anti-imperialismo” do regime islâmico reaccionário do Irão não era mais que a imposição de uma versão ainda mais horrenda do mesmo sistema de opressão e exploração que existira sob o Xá, acrescentando-lhe ao mesmo tempo o obscurantismo religioso e a tirania religiosa.

Durante os últimos 34 anos, a República Islâmica do Irão [RII] tem demonstrado que os seus governantes nunca se aventuraram fora do sistema capitalista-imperialista. As raízes ideológicas e o programa social da RII datam de há 1400 anos na história, mas, apesar disso, este regime colocou a totalidade da vida económica do Irão na rede mundial do sistema capitalista-imperialista de uma forma ainda mais completa que o Xá. Ao proceder à sobreexploração das vidas de mais de 70 milhões de pessoas, este regime tem vindo a entregar uma riqueza inimaginável ao sistema imperialista. Ao mesmo tempo que apregoa o seu “anti-imperialismo”, tem vindo a reforçar os seus vínculos ao sistema mundial e hoje prepara-se para entrar mais abertamente em unidade e solidariedade com as potências imperialistas para manter o seu modo de vida que depende do sistema capitalista mundial.

De facto, a história mostrou quem são os verdadeiros lacaios do imperialismo!

Insurreição de Amol

O “anti-imperialismo” da República Islâmica foi, por um lado, um processo de regateio com as potências imperialistas para consolidar a posição dos estratos islamitas da classe compradora-feudal do Irão e, por outro lado, o seu objectivo era impor uma ideologia, moralidade, cultura e valores islâmicos obsoletos em oposição à ideologia e aos valores igualmente obsoletos que o regime do Xá tinha imposto à sociedade com a ajuda dos imperialistas. Esta oposição era completa e totalmente reaccionária, e o regime teocrático do Irão, um regime que misturou estado e religião, tem estado entre as principais fontes de degeneração e atraso sem precedentes nas relações sociais entre o povo, incluindo a intensificação da opressão da mulher e a rápida propagação de velhos valores e cultura, ignorância e superstição.

A República Islâmica inaugurou o seu sistema com uma investida dirigida a um levantamento de mulheres contra a imposição da moralidade e tradições islâmicas; com a repressão das justas lutas das nações oprimidas do Khuzestão, Curdistão e Turkmen-Saara; atacando a liberdade de pensamento e criação artística e os movimentos revolucionários dos operários e das massas trabalhadoras do Irão; e consolidou o seu regime com o massacre das vanguardas iluminadas do povo que tinha capturado – os presos políticos. Foi contra este regime que em 1981 a União de Comunistas do Irão apelou ao povo a se levantar e se juntar à insurreição. O comunicado de Outubro de 1981 do Sarbedaran apelava:

“Oh Povo do Irão! (...) A República Islâmica, Khomeini e os seguidores dele, não são mais que um conjunto de lixo clerical, tirania e perseguição. O fraudulento Khomeini restabeleceu a monarquia despótica na sua versão religiosa e sobre os corpos torturados e mutilados dos nossos jovens revolucionários. O regime do chicote e da forca de Khomeini e companhia derrama diariamente o sangue de centenas de jovens e adolescentes, de homens e mulheres e mesmo de crianças do nosso povo. Os sons do assassinato de pessoas nas inúmeras prisões e centros de detenção da República Islâmica são frequentes e estão em todo o lado (...).”

Insurreição de Amol

“A monstruosidade e os crimes de Khomeini e do bando dele deixaram toda a nação triste e empurraram o país para a decadência completa e o colapso. O regime de ignorância, arrogância e agressão desta velha raposa trapaceira trouxe estagnação e destruição à indústria, agricultura, ciência e cultura nacional e destruiu a segurança social e individual e o bem-estar no nosso país (...).”

“Oh camaradas operários! Irmãos e irmãs trabalhadoras de todas as cidades e dos campos! (...) Levantemo-nos com um só coração e unidos! Não temamos a oca agressão e a vã artilharia e os disparos deste bando de horrendos caceteiros. Temos de calcinar completamente o trono e as cortes deste bando grosseiro que tem nas suas cabeças dementes um sonho de regime monárquico.”

A derrota da insurreição do Sarbedaran e das lutas revolucionárias noutras zonas do país, sobretudo no Curdistão, levou à consolidação do regime islâmico. Apesar dos 32 anos que já passaram desde a derrota da insurreição do Sarbedaran, a sua memória, lições e apelo histórico continuam a ecoar. Isto significa que a única via para a libertação è através do derrube do sistema da República Islâmica na sua totalidade e do estabelecimento de um poder político e um estado radicalmente diferentes e novos – um estado que não só não pertença à classe capitalista e aos seus lacaios e não se baseie em nenhuma das instituições ideológico-culturais, valores e tradições dessa classe, mas que vise eliminar tudo isso e tenha um carácter de classe completamente oposto ao da reacção. O nome desse estado é ditadura do proletariado e o seu objectivo é basear-se nas massas populares conscientes e aniquilar e extirpar todas as formas de opressão, discriminação, exploração, ignorância e repressão.

Trinta e dois anos depois da insurreição do Sarbedaran, continua a haver necessidade de um movimento revolucionário para derrubar a República Islâmica e estabelecer um estado proletário – um desafio colocado à sociedade, e sobretudo às suas forças comunistas. A sua lição é que sem a tomada do poder político tudo é ilusão, e que a tomada do poder político é impossível sem a liderança de um partido comunista revolucionário com uma correcta linha política e ideológica.

As lições da derrota da revolução de 1979, bem como da insurreição do Sarbedaran, mostram claramente que sem a intervenção das forças comunistas revolucionárias, umas forças com uma perspectiva e um programa revolucionários, nunca haverá uma mudança da situação que resulte na emancipação do povo, e a situação da sociedade passará de mal a pior. Se nós, comunistas revolucionários, não desempenharmos o nosso papel na intensa e crescente crise desta sociedade e do mundo, uma vez mais as forças reaccionárias de um tipo ou de outro ocuparão a terreno e tornar-se-ão nos actores centrais.

Mais que nunca, para levarmos a cabo hoje esta urgente tarefa histórica, precisamos de um núcleo sólido de comunistas revolucionários equipados com os mais altos sucessos e níveis de compreensão do movimento comunista internacional, para que se possam tornar no Irão, bem como na região, nos actores principais no palco político.

Nos anos 1980, uma justa guerra para derrubar a República Islâmica foi iniciada pelo Sarbedaran, representando os interesses da maioria do povo do Irão contra os reaccionários – o capitalismo-imperialismo e o Islamismo. A concretização destes objectivos e destas tarefas políticas continua a ser a única via para a emancipação da maioria das pessoas desta sociedade. Essa emancipação depende das forças que têm uma nova compreensão e uma nova consciência do carácter libertador da sociedade futura e que estão a preparar a revolução – uma revolução do tipo das revoluções socialistas do século XX na Rússia e na China mas, ao mesmo tempo, muito diferente delas e sem precedentes na história humana.

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