Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 27 de Janeiro de 2003, aworldtowinns.co.uk

Escalada da intervenção dos EUA no Nepal

Uma equipa de 39 peritos militares dos EUA desembarcou em Katmandu a 13 de Janeiro. Foi noticiado que um total de cerca de 100 conselheiros militares norte-americanos seriam deslocados para as montanhas que cobrem o Nepal, para auxiliar o Exército Real do Nepal (ERN), o qual tem assassinado diariamente dezenas de pessoas, tanto civis como rebeldes maoistas.

Constance Colding Jones, porta-voz da Embaixada dos EUA em Katmandu, minimizou o significado dessas movimentações. Afirmou que os exercícios são de “rotina”. “Os exercícios são parte do nosso programa de colaboração militar. É uma actividade habitual.” – argumentou. Isso era mais ou menos o que o governo do Nepal estava a tentar dizer ao povo. A 15 de Janeiro, o semanário nepalês Janaastha citou um porta-voz do ERN, Dipak Gurung: “O propósito da vinda não é o que se suspeita... O Exército dos EUA veio para aprender a fornecer assistência às vítimas de desastres naturais, ou cuidados médicos aos que vivem em zonas difíceis como as regiões montanhosas do Nepal.”

Mas o Exército norte-americano não veio a Katmandu para treinar ou para participar em missões humanitárias. Estas actividades representam uma escalada. A 19 de Janeiro, o New Zealand Herald noticiava que “Robert Boggs, chefe adjunto da embaixada dos EUA na capital do Nepal, Katmandu, disse que a equipa estava a trabalhar com o Exército do Nepal nas áreas mais afectadas pela insurreição maoista que começou há seis anos. ‘Eles realmente estão a ajudar o Exército do Nepal. Mas a equipa do Exército dos EUA não está aqui, repito, não está aqui para lançar uma operação militar conjunta contra os rebeldes maoistas’, disse Boggs.” Por outras palavras, Boggs negou que os EUA pretendam envolver-se directamente na luta para já, mas não negou que fosse para intensificar a guerra.

A intervenção norte-americana tem-se desenvolvido de uma forma encoberta há algum tempo. Por exemplo, o Partido Comunista do Nepal (Maoista) acredita que os EUA desempenharam um papel central no massacre do Rei Birendra e da sua família inteira em Junho de 2001, como parte de uma estratégia global para esmagar o movimento revolucionário no Nepal. Depois disso, os EUA apoiaram o traficante de droga, proprietário feudal, comprador (dependente) e capitalista Gyanendra que, levantando-se por cima do sepulcro do monarca, se declarou rei do Nepal. O Secretário de Estado norte-americano Colin Powell e conselheiros militares dos EUA visitaram o Nepal, e primeiro-ministro Deuba reuniu-se com Bush na Casa Branca.

Em Maio de 2002, uma equipa do Exército dos EUA terminou um levantamento aéreo das regiões montanhosas do Nepal, um requisito vital para uma efectiva intervenção dos EUA. Os conselheiros militares norte-americanos disseram ao governo nepalês para aumentar as suas forças armadas para cinco vezes o seu tamanho actual, para cerca de 200 mil soldados. Como primeiro passo, os 55 mil homens do Exército Real do Nepal, da polícia e da polícia militarizada foram actualizados. As forças de segurança estão a ser treinadas em tácticas de contra-insurgência em escolas da Índia, da Grã-Bretanha e dos EUA. Muito em breve, o sector da aviação militar do ERN terá uma frota de dúzia e meia de aeronaves que incluirá pelo menos seis MI-17s, um avião de transporte M-28 e várias aeronaves ligeiras.

Em Dezembro passado, funcionários da Embaixada norte-americana anunciaram que os EUA tencionam proporcionar ao Nepal 17 milhões de dólares em ajuda militar em 2003, incluindo o treino do ERN. Em princípios de Janeiro, o Congresso dos EUA aprovou 12 milhões de dólares de ajuda militar “não-letal” ao Nepal. A 5 de Janeiro, o Exército Real do Nepal recebeu uma remessa de 3000 espingardas de ataque M-16 rifles, com outras 2000 a chegar.

Os EUA também estão a desempenhar um papel entre os principais partidos políticos parlamentares que têm estado ocupados em lutas intestinas, tentando conseguir que eles se unam para combater os maoistas e também para “eliminar o distanciamento entre eles e o Rei”. Quanto ao “problema maoista”, os EUA sublinham a necessidade de uma acção militar forte, ao mesmo tempo que se permite que alguns responsáveis governamentais falem em resolver a guerra através de negociações, na esperança de enganar o povo.

Entretanto, vários outros governos reaccionários de todo o mundo também responderam ao pedido de ajuda militar do governo nepalês. Numa reunião de países doadores do Nepal, todos os governos, incluindo a China e a Rússia, apoiaram medidas contra o movimento revolucionário. Inglaterra, Rússia e Índia prometeram apoio militar.

Em Setembro, o governo belga anunciou que ia vender 5500 metralhadoras ligeiras ao Nepal. O Partido dos Verdes protestou contra a decisão, citando uma decisão colectiva de muitos países europeus e ocidentais para não vender armas a países onde “seja provável que tal venda fortaleça conflitos dentro ou fora do país”. O vice-primeiro-ministro do governo de coligação demitiu-se em protesto e a entrega das armas foi temporariamente adiada. Mas a 8 de Janeiro, a primeira remessa de metralhadoras Minimi enviada pelo governo belga chegou a Katmandu.

O ERN está agora a preparar novas ofensivas contra a Guerra Popular. O jornal Kathmandu Post relatava a 14 de Janeiro: “O governo prepara-se para enviar uma ‘task-force unificada especial’ do exército e da polícia para as zonas de influência maoista. A task-force incluirá 20 000 elementos das forças de segurança, igualmente divididos entre o exército e a polícia. A task-force estará equipada com as mais modernas armas, recentemente compradas na América e na Bélgica. Espera-se que a task-force, denominada ‘Treino no Trabalho’, esteja instalada nessas zonas no próximo mês. Tanto os elementos do exército como os da polícia seleccionados para a task-force serão treinados no uso dessas armas, antes de serem deslocados para essas áreas. ‘Será a maior operação de sempre’, disse a fonte... A task-force será deslocada em diferentes fases, sendo que, na primeira fase, um grupo seleccionado de 2500 soldados e polícias serão enviados para combater os rebeldes maoistas.”

O facto é que a Guerra Popular do Nepal continua a fazer avanços políticos e militares. Vastas áreas da zona rural estão já sob o poder político vermelho. Nessas áreas rurais, quase 15 milhões dos 23 milhões de habitantes do país exercem directamente o seu próprio poder através de comités revolucionários eleitos. Mesmo noutras áreas rurais e nas cidades, mais alguns milhões estão organizados e mobilizados sob a bandeira vermelha da Revolução da Nova Democracia que limpará as teias de aranha medievais e a dependência das potências estrangeiros e abrirá a porta para que o Nepal avance para o socialismo e o comunismo como parte integrante da revolução proletária mundial. O Exército Real foi derrotado, foi humilhado e foi desmoralizado na guerra contra o EPL. Embora o novo rei tenha dissolvido o Parlamento e tomado o governo nacional nas suas próprias mãos, a crise da classe dominante tem vindo a aprofundar-se. Aparentemente, isso foi o que levou os EUA a actuar mais decididamente.

A política e o pensamento do Marxismo-Leninismo-Maoismo está a provar o seu poder no Nepal, como têm feito noutros lugares. Uma Revolução dirigida por maoistas em qualquer país é perigosa para os que se sentam sobre a miséria do mundo. Outro facto essencial sobre esta guerra popular é que logo do outro lado da fronteira do Nepal fica a Índia, a terra do movimento Naxalbari, a histórica insurreição de massas dos anos 60 e 70 dirigida por maoistas. Muito daquele país está a arder sob o governo de coligação, liderado pelo reaccionário partido BJP e com laços estreitos com o imperialismo norte-americano, ao mesmo tempo que os revolucionários maoistas têm levado a cabo uma ampla luta armada em diferentes partes do país. Os EUA temem que o avanço da Guerra Popular do Nepal se entrelace com guerras semelhantes na Índia e na Ásia do Sul, o que é exactamente a esperança dos oprimidos daquela região e do mundo.

O Movimento de Resistência Popular Mundial convocou manifestações de oposição à agressão encabeçada pelos EUA contra o Iraque e exigindo que “Imperialistas e reaccionário tirem as mãos do Nepal” para meados de Fevereiro, por ocasião do sétimo aniversário do início da Guerra Popular no Nepal.

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