Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 7 de Fevereiro de 2005, aworldtowinns.co.uk

Comemorações do 20º aniversário do MRI em Frankfurt, Alemanha

A 15 de Janeiro por volta do meio-dia, as pessoas ainda estavam a chegar ao Centro de Juventude de Frankfurt, alguns tendo viajado grandes distâncias de toda a Europa, para celebrar o 20º aniversário da fundação do Movimento Revolucionário Internacionalista. Havia grandes expectativas no ar à medida que a multidão circulava entre as mesas com literatura, saudando-se uns aos outros e trocando notícias de progressos recentes, enquanto outros folheavam os livros, as revistas, as cassetes áudio e os vídeos, os cartazes e outro material editado pelas várias organizações revolucionárias presentes. Embora composta predominantemente de revolucionários e activistas políticos da Turquia, a multidão de 350-400 pessoas também incluía um grande número de pessoas do Afeganistão, Irão, Alemanha, Grécia, Itália, Áustria, Peru, Escandinávia, França, Holanda e Grã-Bretanha, a maioria das quais não naturais da Europa. Significativamente, esteve presente um grande contingente de nepaleses que vive na Europa, apesar das tentativas de intimidação por parte da polícia europeia e de funcionários das embaixadas, durante o período que antecedeu o evento.

Este evento foi organizado pelo Partido Comunista Maoista [Turquia e Norte Curdistão] (MKP) e por apoiantes do Partido Comunista do Nepal (Maoista) e do Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista). A conferência começou com três minutos de silêncio em memória dos mártires que tombaram na luta por um mundo sem exploração e opressão de classe, sem a divisão da sociedade humana em classes, pela causa do comunismo. Um silêncio total preencheu o ar à medida que punhos fechados se elevavam e nomes bem conhecidos eram lidos no palco. Pendurado na parede por trás dos oradores principais do MKP e do Nepal estava a enorme bandeira colorida da fundação do MRI: o planeta Terra que se liberta das suas odiadas grilhetas. O presidente da sessão abriu o evento ao som de aplausos estrondosos, recordando à audiência que esse momento não servia apenas para celebrar o 20º aniversário da fundação do MRI, mas também para saudar os progressos da Guerra Popular revolucionária do Nepal. A atmosfera era eléctrica.

O orador principal expôs as grandes transformações que o mundo sofreu desde que o MRI foi fundado em 1984, bem como o desenvolvimento das suas posições políticas e ideológicas para uma nova base de unidade, o marxismo-leninismo-maoismo, em 1993. Discutiu as batalhas ideológicas entre o marxismo e o dogmato-revisionismo tipo Enver Hoxha, bem como o revisionismo de Deng Xiaoping que se seguiu ao golpe contra-revolucionário na China depois da morte de Mao Tsétung. Destacou as imortais contribuições de Mao Tsétung para a ideologia comunista, forjadas por intensas lutas contra o revisionismo tanto soviético como chinês, e a luta para que elas ganhassem aceitação. A menção das Guerras Populares no Peru, no Nepal e na Turquia e das lutas armadas revolucionárias noutros países originou aplausos imediatos. A importância da crescente unidade dos partidos e organizações comunistas revolucionárias, forjada por intensas lutas político-ideológicas, lutas entre as duas linhas, dentro do MRI e fora das suas fileiras, foi especialmente salientada.

O orador não só condenou veementemente o imperialismo, especialmente o norte-americano, e todos os reaccionários, mas também criticou a restauração do capitalismo na União Soviética e na China. Além disso, analisou as voltas e reviravoltas no desenvolvimento do movimento comunista internacional. Houve acontecimentos e desenvolvimentos, façanhas sem precedentes do proletariado que são causa de regozijo, mas também houve coisas que nos devem causar preocupação. Expôs algumas das limitações e dos retrocessos do movimento durante o tempo de Estaline, em particular durante o período do Comintern, e do ponto de vista de olhar para os interesses da luta do proletariado em cada país como sinónimo de – e como consequência subordinados a – os interesses imediatos da então socialista União Soviética. Chamou a atenção para algumas das formas metafísicas do pensamento do Camarada Estaline que interferiram com os grandes feitos do proletariado mundial sob a direcção da União Soviética.

Além disso, o orador mostrou que muitos dos erros do período do Comintern, como o acima mencionado, continuaram a infestar o movimento comunista internacional, mesmo durante a liderança de Mao à frente do PCC na China. Também disse que eles ocorreram contra os ensinamentos de Mao Tsétung. Disse que todas as coisas, sem excepção, tanto na natureza como nas sociedades humanas, se dividem em dois. É assim que nós, os comunistas maoistas, entendemos as contradições: como uma unidade de contrários mas também como uma luta de contrários. Como consequência, o partido do proletariado, o movimento comunista internacional e o próprio MRI são unidades de contrários e todos se dividem em dois, sem excepção.

Há contradições e lutas entre as duas linhas nos partidos comunistas e também dentro do movimento comunista internacional em geral e do MRI, incluindo sobre a compreensão inicial que o MRI tinha das muitas contribuições teóricas e filosóficas de Mao para a ciência da revolução. Na altura da sua fundação, o MRI defendeu esses desenvolvimentos da ciência como uma nova, terceira e mais elevada, fase do marxismo mas ainda os considerava como Pensamento Mao Tsétung antes de a contradição ter sido resolvida – também através da luta entre contrários – com a adopção do maoismo pelo MRI em 1993. O orador discutiu o início, o desenvolvimento e os rápidos progressos feitos pela Guerra Popular maoista no Nepal e o papel desempenhado pelo MRI. A essa luz, foi feita uma menção a M. B. Singh do Partido Comunista do Nepal (Mashal) e aos seus pontos de vista que não reconheciam o maoismo como o comunismo da actualidade, uma linha que teve que ser repudiada para abrir caminho ao início da Guerra Popular naquele país.

Também mencionou que houve diferentes pontos de vista dentro do MRI sobre qual era a contradição principal no mundo nessa altura, durante o período da Guerra Fria em que a União Soviética se transformou numa potência social-imperialista que competia pelo domínio e a hegemonia mundial com o imperialismo norte-americano.

Disse que havia e ainda há diferentes entendimentos sobre o conceito de internacionalismo proletário. Salientou que o proletariado é uma classe mundial e consequentemente não tem país. É assim que nós abordamos a noção de internacionalismo: não com uma perspectiva nacionalista para as lutas noutras partes do globo, isto é, não com uma perspectiva de “meu” ou “nosso” país, estendendo o apoio ou a solidariedade com a “classe operária de outros países”, mas com uma firme compreensão da unidade com os nossos irmãos e irmãs de classe noutras terras, uma vez que todos nós pertencemos a uma única classe e empreendemos uma única luta pelo comunismo.

A unidade dos partidos participantes no MRI foi sendo desenvolvida através das contradições, da luta, da unidade, novamente da luta e de um nível mais elevado de unidade. O MRI também procurou a unidade – através da linha política e ideológica – dos comunistas maoistas com outros partidos do movimento comunista internacional, incluindo os que desenvolvem importantes lutas revolucionárias nas Filipinas e na Índia.

Ao orador principal seguiu-se um orador da organização intelectual revolucionária nepalesa. Durante a leitura do texto que tinha preparado, a escuridão cobriu repentinamente a sala, um ecrã por trás do palco iluminou-se e apareceram imagens coloridas dos combatentes do Exército Popular de Libertação e das pessoas comuns do Nepal que se misturavam em eventos culturais – em cânticos, danças folclóricas e discursos – celebrando a formação dos distritos revolucionários e dos governos autónomos, num vídeo especialmente preparado para a ocasião.

A audiência estava claramente encantada por testemunhar essas imagens e ficou muito entusiasmada com as cenas dos líderes de vários escalões do PCN (Maoista) que falavam às massas e participavam no trabalho colectivo e no treino militar e com as operações militares contra o Exército Real e a monarquia do Nepal. Os milhares de pessoas pobres que de juntavam esperançada e ansiosamente na sua miríade de coloridos trajes nativos formavam um espectáculo vivo, mesmo no ecrã. Ali bem perto estavam cenas dos exércitos de mulheres das aldeias que desciam de grandes alturas para comemorar, cantando e gritando “Viva o marxismo-leninismo-maoismo!” pelo caminho, segurando os seus bebés com um braço e as crianças com o outro.

O orador nepalês narrou à conferência a luta entre as duas linhas que levou à Guerra Popular no Nepal e ao processo de início da guerra revolucionária. Na perspectiva do PCN (Maoista), disse, esse início teve que romper com velhas ideias de modo a fazer uma ruptura material; o processo requeria não apenas romper claramente com anteriores posições e perspectivas como também exigia um salto, a consolidação de uma nova linha, um salto em frente na força do movimento e o consequente culminar numa situação qualitativamente nova, de uma situação não revolucionária para uma revolucionária.

Disse que a revolução no Nepal está na fase da ofensiva estratégica e que o PCN (Maoista) ganha balanço para o avanço a nível nacional e para a possibilidade palpável da tomada do poder. Também discutiu o perigo de uma intervenção estrangeira, particularmente dos expansionistas indianos.

Bob Avakian, Presidente do Partido Comunista Revolucionário dos EUA, apareceu no ecrã com uma dobragem para turco, com tradução simultânea para outras línguas nos auscultadores. O seu estimulante discurso retirado de um DVD intitulado “Revolução” focou o problema da vitória e da manutenção do poder político, ligado à questão do tipo de sociedade socialista que precisamos e à natureza da ditadura do proletariado como uma transição para o comunismo. Avakian falou da importância de um partido de vanguarda permitir verdadeiramente que as massas se tornem em donos de todas as esferas da sociedade a caminho de fazer a revolução comunista a nível mundial. Falou de aprender com a essencialmente positiva experiência das passadas sociedades socialistas mas também com os seus erros, ao mesmo tempo que refutando os ataques da burguesia ao nosso projecto comunista como sendo “totalitário”. Salientou a importância de derrotar as tentativas da classe dominante mundial para esmagar a revolução no Nepal e a importância do internacionalismo e da sua expressão mais importante que é o MRI. Essa intervenção foi vivamente aplaudida durante muito tempo.

Uma apoiante do Partido Comunista do Afeganistão (Maoista) falou em dari sobre o ódio crescente do povo do Afeganistão contra a ocupação do país pelas potências imperialistas que se seguiu à agressão descarada e não provocada do imperialismo norte-americano em 2001. Depois de descrever o enorme sofrimento suportado pelas massas debaixo das botas dos ocupantes imperialistas, ela concluiu – para grande alegria da audiência – que os dias em que os comunistas maoistas estavam isolados nas montanhas faziam parte do passado.

Uma série de outras mensagens à conferência também foram citadas ou lidas ao vivo, incluindo as do Partido Comunista do Irão (Marxista-Leninista-Maoista), do Partido Comunista Maoista (Itália), do Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) Naxalbari e do Grupo Comunista Revolucionário da Colômbia, bem como de apoiantes do MRI do Partido Comunista de França (Maoista) e do Partido Comunista Revolucionário do Canadá, entre outros.

Os diferentes oradores e mensagens à sessão de comemoração reflectiram tanto a unidade que existe no MRI como os diferentes entendimentos de algumas das importantes questões que enfrenta o movimento maoista no mundo. Por exemplo, como entender os desenvolvimentos dentro do Partido Comunista do Peru, como fazer a revolução nos países imperialistas e como implementar o internacionalismo proletário em todos os tipos de países. Este tipo de discussões e lutas entre os maoistas fazem parte do processo através do qual o movimento chega a uma compreensão mais correcta e cresce fortalecido. Mas os comunistas fazem uma distinção entre discussões de princípio sobre as diferenças e a vil calunia e o atirar de lama. Quando um grupo usou a capa de uma mensagem de solidariedade para lançar um ataque vil e infundado contra o Comité do MRI e alguns dirigentes de partidos do MRI, foi claramente reprovado pela direcção da conferência, com o aplauso das centenas de participantes.

A noite terminou com a audiência vinda de toda a Europa e de fora dela a elevar-se numa atordoante ovação, a que se seguiu a Internacional, cantada simultaneamente em diferentes línguas.

Evitando o frio da noite, muitas pessoas ficaram no local reflectindo sobre os eventos do dia, cansadas mas felizes. Fora da sala, o átrio e o corredor continuavam ainda agitados com animadas conversas e discussões. Gradualmente, por volta das onze da noite, a multidão começou a separar-se. Outros camaradas mudaram-se para a cafetaria, alguns empenhando-se em debates. Por exemplo, um grupo de apoiantes da organização iraniano-afegã de mulheres “8 de Março”, empunhando grande canecas de cerveja alemã transbordando de espuma, esteve a cantar canções revolucionárias. Parecia que as comemorações não queriam terminar.

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