Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 22 de Agosto de 2005, aworldtowinns.co.uk

Do diário de um jornalista: A batalha de Pili

O seguinte depoimento de uma testemunha ocular da batalha de Pili foi retirado do diário do correspondente de guerra Om Sharma, publicado no semanário maoista nepalês Janadesh de 16 de Agosto.

Por Om Sharma

Quando um sector da 2ª Brigada do Exército Popular de Libertação ainda estava a uma distância de meia hora de marcha da base do Exército Real, chegou uma mensagem através do sistema de comunicações: o tiroteio tinha eclodido e o combate começara. Nesse momento eram 5:50 da noite. Foi dada palavra ao contingente do EPL para acelerar o seu passo. As detonações dos canhões e das espingardas automáticas podiam ser facilmente ouvidas do ponto onde estávamos. A notícia de que o EPL tinha iniciado o seu ataque espalhou-se como uma tormenta. O contingente estava ansioso por chegar ao campo de batalha e atacar o Exército Real. Os soldados percorreram a distância em 20 minutos e tomaram as suas posições.

Um outro contingente, seleccionado para o ataque inicial, já estava em posição. Todas as secções de artilharia estavam presentes com as suas armas. Nós chegámos à zona frente à base do ERN. O céu de Pili rugia com os disparos dos morteiros e do armamento pesado e ligeiro vindos da base e com os disparos retaliatórios do EPL. Através do sistema de comunicações, os comissários políticos e os comandantes militares davam informações às unidades sob seu comando de modo a colocar toda a gente no seu lugar e definir a sequência do ataque. Muitos combatentes do EPL já tinham chegado mais próximo da base sem terem sido vistos pelo Exército Real. A 3ª Brigada Lishne-Gam estabeleceu o cerco a norte, a 8ª Brigada a sul e a 3ª Brigada a leste. Um helicóptero com equipamento de visão nocturna chegou para apoiar o ERN em menos de meia hora após o início do combate. Com a sua metralhadora pesada, o helicóptero disparou dezenas de tiros de 81 mm contra as colinas de Pili. O EPL aguentou várias vezes esses disparos, sem muitos danos.

O ruído dos disparos foi ouvido não só em Pili, mas também em zonas distantes. As unidades do EPL estavam ocupadas a tomar posições de modo a cercar a base, seguindo o planeado. O Exército Real ficou quase atordoado e disparava ao acaso. Ouviam-se vários sons diferentes de armas pesadas e ligeiras. Os soldados do EPL também disparavam vários tipos de armamento.

Os soldados revolucionários mostravam uma disciplina rígida. As suas unidades estavam cada vez mais próximas da base até que a cercaram completamente. Um combatente foi atingido por uma bala vinda da base. Outro combatente agarrou na espingarda dele e avançou para a vedação da base. Nenhum dos combatentes feridos vacilava. Defendiam ansiosamente a revolução com as suas próprias vidas. Mesmo alguns soldados próximos da morte perguntavam: “O que é que está a acontecer na batalha?”

Por o EPL ter assimilado correctamente os métodos da guerra nesta batalha, os danos foram menores em comparação com batalhas anteriores. Havia dezenas de auxiliares de saúde e médicos populares no campo de batalha a tratar dos combatentes feridos. O combate foi contínuo; os voluntários transportavam os feridos para um lugar seguro. Os combatentes feridos nas macas diziam-nos que nenhuma revolução pode ter êxito sem derramamento de sangue. Os voluntários estavam satisfeitos com o decorrer do combate. Diziam aos combatentes: “Vocês estão a combater na linha da frente e nós estamos a ajudar na retaguarda.” Numa revolução toda a gente ajuda fazendo o que pode.

À medida que o EPL apertava o seu cerco à volta da base do ERN, houve uma algazarra. O ERN fez disparar repetidamente clarões, alguns deles muito luminosos. Depois de algumas horas de combate, o EPL capturou o posto avançado do ERN. O arame farpado que cercava a base foi destruído e o EPL iniciou um plano para entrar em conjunto na base. Os abrigos e outros postos foram atacados e os túneis da base foram ocupados. O EPL capturou um GPMG de 81 mm. Quando o camarada Sangam do 30º Batalhão da 2ª Brigada chegou ao posto, encontrou um soldado do ERN pronto a disparar a arma de 81 mm e outro pronto a recarregá-la. Os dois soldados do ERN renderam-se imediatamente quando ele os capturou e ele trouxe-os para fora.

Vigorosos combates tiveram lugar quando o EPL começou a cercar e a entrar no quartel. Os duros combates continuaram das 2h da manhã até quase às 4h. As unidades do EPL estavam a apertar ainda mais o laço em torno da base e a disparar armas mais pesadas. O Exército Real também disparava armas cada vez mais pesadas de dentro da base, mas em vão. Cerca de 10 ou 15 minutos antes das 4h, o EPL tinha capturado toda a base.

O troar do fogo de artilharia terminou. Luzes cintilantes começaram a aparecer nas colinas. Uma unidade do EPL começou as buscas na base. Corpos de soldados do ERN podiam ser vistos em todo o lado. Outros membros do ERN que continuavam vivos começaram a render-se ao EPL, um após outro. Nunca ouvimos palavras incorrectas ou repugnantes. O EPL está habituado a dirigir-se educada e respeitosamente aos membros do ERN capturados. Os soldados capturados foram tratados segundo a Convenção de Genebra. Vimos alguns membros do ERN assustados que tentaram saltar para dentro do rio. Foram impedidos pelo EPL e feitos prisioneiros de guerra. Alguns soldados do ERN foram atacados quando tentavam escapar para Manma, a sede do distrito de Kalikot. O resto dos soldados entregou as suas armas. Alguns diziam: “Camarada, toma esta arma!”

O comportamento educado do EPL surpreendeu os membros do ERN que tinham sido treinados de uma forma brutal. Médicos populares deram os cuidados de primeiros socorros aos soldados do ERN feridos. Os maoistas não torturaram os soldados capturados, nem mutilaram os sobreviventes ou os mortos, como alegou depois o ERN. Se tivessem qualquer intenção de matar os cativos, poderiam tê-lo feito facilmente.

Às 4:35, apareceu um helicóptero nos céus. Quando se aproximou, o EPL extinguiu as luzes, mas o helicóptero continuou a pairar por cima. O EPL continuou as buscas em cada canto e recanto da base. A voz do Comandante de Divisão, Camarada Pravakar, fez-se ouvir no sistema de comunicações e houve uma breve conversa entre o comandante e o principal comissário político. O comandante exprimiu o seu agradecimento pela vitoriosa batalha. Instruiu os comissários a deixarem algumas unidades à volta da base e a retiraram as outras. Quando os raios dourados do sol matinal caíram sobre as colinas em redor de Pili, o EPL deitou fogo à base do Exército Real. Levantou-se um fumo espesso que se espalhou pelo céu. Os edifícios da base desfizeram-se em cinzas. As pessoas à volta da colina começaram a cantar: “O Exército Real opressor não tem lugar na nossa aldeia, pretendendo estar a construir estradas.”

Tomando o inimigo de surpresa

O EPL adoptou um estratagema para tomar o ERN de surpresa. Os combatentes revolucionários abriram fogo com uma GPMG às 17h50. No momento em que abriram fogo, os soldados do ERN, que se dirigiam ao heliporto para ir buscar a carga deixada alguns minutos antes por um helicóptero, correram para a base. Alguns desses soldados feriram-se nas pernas e nas mãos enquanto corriam. Os médicos populares trataram dos feridos depois de a batalha ter terminado.

Seguindo o plano definido para a batalha, os combatentes do EPL chegaram à zona próxima da vedação da base pelas 20h. Os combatentes revolucionários movimentaram-se silenciosamente entre as 21h e a meia-noite. Por essa altura já todas as unidades do EPL estavam reunidas à volta da vedação. Durante esse período de tempo, o ERN manteve-se perplexo. Os comandantes do Exército Real pensavam que o EPL tinha levado a carga deixada pelo helicóptero e partido. Um aparelho de rádio estava a tocar ruidosamente. Quando os membros do EPL começaram a entrar na base, o ERN sentiu-se repentinamente asfixiado. Começando cerca de 30 minutos após a meia-noite, o ataque iniciou-se em três direcções. O EPL disparou armas ligeiras, armas de descarga e granadas de mão. Quando o primeiro grupo de ataque entrou no acampamento, não precisou de abrir fogo. Alguns soldados do Exército Real começaram imediatamente a entregar as suas armas. O comandante da 3ª Brigada anunciou: “O nosso comandante supremo, Camarada Prachanda, disse-nos que não matássemos os que se rendessem, mas que os tratássemos com respeito como prisioneiros de guerra. Entreguem as vossas armas e não vos mataremos.”

A base fora instalada apenas 13 dias antes, mas tinha sido bem fortificada. Uma vedação de arame farpado apoiada em pilares de ferro cercava as instalações. Os túneis e os bunkers eram robustos. O EPL precisou de 45 minutos de combate entre um bunker e outro. Todos os postos foram construídos para se defenderem uns aos outros. Na base havia oito a dez edifícios de betão e 30 a 40 tendas. A base situava-se numa colina acima do Rio Tila.

Um enorme arsenal de armas

O EPL não só destruiu a base como também capturou um enorme arsenal de armas. Esta foi a primeira vez que o EPL capturou uma tão grande quantidade de armas num mesmo local desde o início da Guerra Popular. Vimo-las com os nossos próprios olhos. O Camarada Bibidh, vice-comandante de divisão, fez-nos um relato durante a nossa retirada. O EPL tinha capturado uma arma de 81 mm e 150 dos seus obuses explosivos, uma metralhadora pesada, 20 metralhadoras ligeiras, cerca de 150 espingardas automáticas e autocarregáveis, vários morteiros e armas de mão e outro tipo de armamento e mais de 70 mil cartuchos de munições.

Finalmente...

Estávamos com o EPL e os soldados do ERN capturados. Os prisioneiros de guerra ficaram contentes quando nos viram. No momento em que nos apresentámos como jornalistas do semanário Janadesh, disseram-nos: “O EPL segue as leis da guerra mil vezes melhor que o ERN.” Eles estavam furiosos com os meios de comunicação social do antigo estado [por falsamente alegarem que esses homens tinham sido enviados para construir uma estrada, não para combater]. “O EPL apanhou-nos com armas. Nós não somos não-combatentes. Todos nós somos soldados do ERN”, disseram-nos eles.

E, como disse o Presidente Prachanda, à medida que esta campanha se aproxima do limiar da vitória, o EPL está a ponto de escrever história.

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