Do Serviço Noticioso Um Mundo A Ganhar (SNUMAG) de 5 de Abril de 2004, aworldtowinns.co.uk

A batalha de Beni: Um relato dos maoistas nepaleses

O que se segue é extraído, ligeiramente editado, do número 9 (28 de Março de 2004) do Boletim de Informação Maoista do Partido Comunista do Nepal (Maoista).

No seguimento de uma gigantesca derrota militar infligida pelo Exército Popular de Libertação (EPL) à ditadura real em Bhojpur (Nepal oriental) a 3 e 4 de Março, foi desencadeada uma devastadora ofensiva militar contra o regime real a 20 e 21 de Março em que Beni, a capital do distrito de Myagdi no Nepal ocidental, foi completamente invadida pelo EPL. O aspecto mais importante desta acção em massa dos valentes combatentes do EPL foi que, pela primeira vez em oito anos de guerra popular, uma batalha foi levada a cabo e a sede de distrito ocupada em pleno dia, antes do meio-dia.

Uma amostra das heróicas façanhas do EPL nesta histórica acção militar pode ser vista na declaração emitida pelo Camarada Comissário Biplab e pelo Camarada Comandante Pasang, que diz:

“De acordo com o plano central do nosso glorioso Partido e com as decisões tomadas pelo Comando Central Ocidental, a Divisão Ocidental do Exército Popular de Libertação pôde organizar uma bem-sucedida acção militar na sede do distrito de Myagdi, em Beni. A acção aconteceu a 20 de Março e começou às 11h da noite e terminou às 10h de 21 de Março. Na acção militar foram mortos 125 soldados do Exército Real e 26 polícias e centenas ficaram feridos. O aquartelamento de Kaliprasad do Exército Real, a esquadra distrital da polícia e os escritórios da administração do distrito foram destruídos. Também foram destruídos outros escritórios governamentais. Foram capturadas três metralhadoras ligeiras, um morteiro de duas polegadas, uma M-16, 14 espingardas Insas, 35 SLRs, 65 espingardas 3-0-3, sete SMGs e quatro pistolas, bem como 50 000 balas e dezenas de morteiros. Nessa acção morreram 49 valentes combatentes do Exército Popular e cerca de 100 ficaram feridos. Deram a vida deles o Camarada Yoddha, Vice-Comandante da Segunda Brigada; o Camarada Bahuveer, Vice-Comandante da Terceira Brigada; o Camarada Bishal, Comandante de Batalhão; e o Camarada Bayu, Vice-Comandante de Batalhão.”

“No decurso do ataque, 33 membros do Exército Real e da polícia, incluindo o Oficial Principal de Distrito Sagarmani Parajuli e o DSP Ranabahadur Gautam renderam-se e foram levados como prisioneiros de guerra. Estes prisioneiros estão a ser tratados de acordo com a política democrática do nosso Partido e o nosso compromisso para com as Convenções de Genebra. Informamos que pela nossa parte os libertaremos se forem libertados todos os prisioneiros de guerra incluindo o Camarada Matrika Yadav, membro do Politburo; o Camarada Suresh Ale, membro do Comité Central; e o Camarada Tilak Sharma, membro da Comité Regional de Bardia do nosso Partido, agora encarcerados na prisão de Dhangadi. No final, prestámos a nossa sincera homenagem a todos os mártires, incluindo o Camarada Yoddha e o Camarada Bahuveer, por terem dado corajosamente as suas valiosas vidas para o sucesso desta grandiosa e histórica acção. Desejamos a breve recuperação dos queridos camaradas combatentes feridos. Agradecemos a todos os que nos ajudaram durante a acção. Agradecemos a todos os comandantes, comissários, membros e voluntários que participaram nesta acção.”

Numa declaração emitida a 21 de Março, o Presidente Prachanda destacou o significado qualitativo da acção e comprometeu-se a continuar a guerra popular até que “seja alcançada uma solução política de futuro com uma transformação radical”.

Embora os consultores reais tivessem inicialmente tentado cobrir a sua completa derrota na batalha de Beni e procurado enganar o mundo inteiro dizendo que o ataque do EPL fora rechaçado com “500 vítimas” (o que foi reproduzido sem questões pela maior parte dos principais órgãos de comunicação social mundiais), a verdade foi sendo gradualmente descoberta, e ficou estabelecido irrefutavelmente que o Exército Real tinha enfrentado uma das derrotas mais enfáticas e humilhantes em toda a guerra civil nos últimos oito anos. Vários jornalistas e observadores independentes já visitaram Beni e verificaram a verdadeira história originalmente contada pelo Comissário e pelo Comandante do EPL.

Esta acção militar bem-sucedida contra uma sede de distrito altamente fortalecida acabou com o mito da invencibilidade do Exército Real, recentemente treinado e armado pelos norte-americanos, pelos indianos e por outras potências estrangeiras. Embora tivesse havido muita especulação na comunicação social sobre os motivos e o momento da acção militar, o Partido e o EPL não têm nenhuma ilusão de que é parte da preparação para a ofensiva estratégica na guerra popular prolongada.

Na frente política, duas acções militares centralizadas com sucesso em Bhojpur e Beni num período de três semanas deram um golpe mortal à ditadura militar real que procurava legitimar o seu governo através de falsas eleições num futuro próximo. A rápida resposta de todos os principais centros internacionais de poder, incluindo os EUA, a Grã-Bretanha e a ONU, com pedidos para uma solução política negociada pode apontar a isso. Porém, é bastante duvidoso que o regime monárquico compreenda a mensagem antes de conhecer a sua total destruição.

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